“Com a legitimidade que, no mínimo, lhe confere o relacionamento com o governo no setor da saúde, que implica a construção de um hospital, de vários centros de saúde e apoios diretos ao Hospital Amadora-Sintra, tudo num investimento próximo dos 50 milhões de euros, a câmara considera um desrespeito para com as suas populações a decisão agora tomada”, defende a autarquia, num comunicado enviado às redações.
Para a Câmara de Sintra, presidida por Basílio Horta (PS), “é incompreensível e revelador de uma total ausência de planeamento e de coordenação encerrar de um momento para o outro uma urgência que serve centenas ou mesmo milhares de mulheres, especialmente grávidas, que ficam sem resposta às urgências de que necessitem, no seu concelho, cuja Câmara investe dezenas de milhões de euros provenientes dos seus impostos para terem um Serviço Nacional de Saúde decente”.
O município recorda ainda que o concelho tem “cerca de 400 mil habitantes numa área de 320 quilómetros quadrados”, reforçando que é “uma irresponsabilidade não olhar para esta população e para este território com a atenção que a mesma merece”.
O Hospital Amadora-Sintra anunciou na quinta-feira que a urgência de ginecologia e obstetrícia iria encerrar, a partir de hoje, entre as 20:00 e as 08:00 “dada a escassez de recursos humanos que possam assegurar um eficaz atendimento às grávidas”.
A autarquia de Sintra argumenta que esta razão “revela, por um lado, a ausência de planeamento e de coordenação como o Serviço Nacional de Saúde está a ser gerido a nível regional e, por outro, a mistificação assumida pelos que afirmam haver médicos a mais”.
A câmara apela também para a “sensibilidade pessoal e política do senhor primeiro-ministro [António Costa] para corrigir no mais curto espaço de tempo esta injusta e inaceitável situação”.
Durante o período noturno, as grávidas deverão recorrer aos Serviços de Urgência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (Hospital de Santa Maria), do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (Maternidade Dr. Alfredo da Costa), do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (Hospital São Francisco Xavier) e do Hospital de Cascais.
Após o anúncio do Hospital Amadora-Sintra, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, considerou preocupante o encerramento daquela urgência, invocando que poderá sobrecarregar os serviços de outros hospitais.
"É preocupante", afirmou à Lusa, afirmando que aquele hospital "realiza muitos partos diários", uma vez que serve "uma população muito jovem".
O médico obstetra assinalou, ainda, que a percentagem de grávidas infetadas com covid-19 nos concelhos abrangidos pelo hospital era, em agosto, a mais elevada da região Sul do país.
Como possíveis consequências do fecho da urgência de Ginecologia-Obstetrícia no Hospital Amadora-Sintra durante a noite, entre as 20:00 e as 08:00, Alexandre Valentim Lourenço enumerou a sobrecarga dos serviços de outros hospitais e a falta de camas nas enfermarias, agravada pela necessidade de isolar grávidas infetadas com o novo coronavírus.
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