"Temos neste momento 169 casos confirmados no nosso país, maioritariamente concentrados na administração central regional de saúde do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo. Aquilo que hoje queremos transmitir é que entrámos (...) numa fase de crescimento exponencial da epidemia, alinhada naquilo que estão a enfrentar neste momento outros países europeus", disse a ministra.

Marta Temido afirmou que "daqui por alguns dias" será possível ter reflexos das medidas que estão a ser implementadas em termos de restrição do contacto social, sublinhando que "para isso é muito importante que todos colaborem nessas medidas".

"Estamos num momento de contenção e de apelo a que o isolamento social seja mantido e isso é mesmo uma prática que deve ser levada a sério", frisou a ministra da Saúde, apelando ao "civismo" também dos espaços que têm de ser encerrados, lembrando que "há um quadro legal" para esse efeito.

"Hoje estivemos a trabalhar com as autoridades de saúde e profissionais de saúde, no sentido do redesenho no sentido do que são os fluxos de tratamento", informou a ministra.

Assim, a entrada de casos pela Saúde24 e o contacto com os hospitais será analisado em duas vertentes: os casos mais ligeiros serão tratados em casa e as pessoas que apresentem sintomas graves são acompanhadas nos estabelecimentos de saúde.

Em relação aos hospitais de referência para o tratamento da Covid-19, Marta Temido referiu que, além dos "hospitais de segunda linha" que já existem, passa-se agora "para uma fase em que todos os hospitais têm de receber doentes da Covid-19". Passa ainda a estar ativa a "hospitalização domiciliária".

Estas medidas serão ativadas no início da próxima semana.

Marta Temido referiu ainda que todos os hospitais do país vão adiar "aquilo que não seja atividade urgente". "Precisam que as estruturas se concentrem na resposta à Covid-19 e sabemos que vamos ter de manter este esforço durante algum tempo e garantir que os profissionais de saúde não se esgotam".

Nesta temática, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, veio reforçar as declarações da ministra, garantindo que o SNS "não está a privilegiar doentes com Covid-19 em relação aos outros. O que define o acesso aos cuidados é a gravidade do estado do doente, com Covid-19 ou não".

Questionada sobre o recurso aos profissionais de saúde do privado, a diretora da DGS referiu que várias pessoas se estão a "voluntariar para vir a participar", estando agora as autoridades de saúde a estabelecer "critérios de necessidade". "Podem ser úteis em diversos níveis: assistenciais, se chegarmos a esse ponto, de atendimento telefónico de apoio em convalescença", explica.

Sobre a evolução da pandemia, tanto Marta Temido como Graça Freitas referiram que "a velocidade com que a curva vai subir depende muito de nós", alertando para a necessidade de se acatar as recomendações das autoridades.

Relativamente à falta de equipamentos de proteção individual nos hospitais, Marta Temido garantiu que os "stocks estão a ser reforçados", bem como  os stocks de equipamento de proteção da tipologia FFP2. No que diz respeito aos ventiladores, a ministra informou que o Governo está a recolher informação sobre o número de equipamentos nos hospitais públicos e privados. "Será o resultado de todo este número que nos permitirá dizer quantos ventiladores temos no país e depois precisamos de geri-los", reforçou.

Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, também presente na conferência de imprensa, garantiu que há cerca de dois milhões de máscaras de reserva e que também há ventiladores disponíveis, estando ainda a ser feitas novas aquisições destes materiais.

Segundo o boletim epidemiológico, divulgado pela DGS, há agora 1704 casos suspeitos e 126 aguardam resultado laboratorial.

O número de cadeias de transmissão ativas mantém-se nas 11 (o mesmo de ontem), sendo que nesta altura existem 5011 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde (um número inferior ao de ontem).

A região Norte continua a ter o maior número de casos confirmados (77), a Grande Lisboa tem agora 73, sendo que a região Centro já confirmou 8 casos da doença, o Algarve 7 casos e no estrangeiro o número de casos é agora de 4 portugueses infetados.

Dos casos confirmados, 39 deles são importados de Espanha (12), França (7), Itália (13), Suíça (5), Alemanha/Áustria (1) e Bélgica (1).

Apenas 114 pessoas estão internadas em unidades hospitalares, segundo o boletim, 10 delas em unidades de cuidados intensivos.

Relativamente aos sintomas, a maioria das pessoas infetadas por Covid-19 apresenta tosse (54%). Outros sintomas relatados são febre (39%), dores musculares (34%), cefaleia/dores de cabeça (33%), fraqueza generalizada (21%) e dificuldade respiratória (10%).

A faixa etária entre os 40-49 é a que regista mais casos, 41 total. Segue-se a população com idades entre os 30 e 39, com 37 casos confirmados.

Dos casos confirmados 100 são do sexo masculino.

Ponto de situação

O Governo decidiu um conjunto de medidas devido à pandemia Covid-19, entre as quais a suspensão de aulas presenciais nas escolas de todos os graus de ensino, já a partir de segunda-feira, anunciou o primeiro-ministro, numa declaração ao país.

O Governo decidiu também declarar o estado de alerta em todo o país, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.

Esta quinta-feira, 12 de março, o Conselho de Ministros aprovou ainda um conjunto de "medidas extraordinárias e de caráter urgente" de resposta à situação epidemiológica do novo Coronavírus. Uma lista que se reparte essencialmente por quatro áreas: apoio às famílias, às empresas, reforço do Sistema Nacional de Saúde e medidas na educação.

O surto da Covid-19 está a motivar, desde a semana passada, o encerramento ou o condicionamento do acesso a serviços públicos, escolas, hospitais e outros equipamentos em Portugal. Conferências, provas desportivas ou eventos culturais também estão a ser afectados. A lista completa pode ser consultada aqui.

Estas são as principais recomendações das autoridades de saúde à população

O surto do novo coronavírus detetado na China tem levado as autoridades de saúde a fazer recomendações genéricas à população para reduzir o risco de exposição e de transmissão da doença. Eis algumas das principais recomendações à população pela Organização Mundial da Saúde e pela Direção-geral da Saúde portuguesa:

  • Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato;
  • Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Evitar contacto direto com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos;
  • Em Portugal, caso apresente sintomas de doença respiratória e tenha viajado de uma área afetada pelo novo coronavírus, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24).

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários site onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-geral de Saúde.

O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro de 2019, na China, e já provocou mais de 5500 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde a declarar a doença como pandemia.

O número de infetados ultrapassou as 147 mil pessoas, com casos registados em mais de 130 países e territórios. Mais de 71 mil dos infetados já recuperou.