O que disseram os partidos

  • PSD

O presidente do PSD considerou hoje que o Governo não fechou as escolas mais cedo porque não estava preparado para o fazer, acusando o primeiro-ministro de “desgoverno” e de só ter decidido perante “pressão da opinião pública”.

“O PSD está de acordo com esta medida, mas peca por tardia. Mas aqui há um lamento muito grande. Quando o Governo diz que está preocupado com o desenvolvimento das crianças e dos jovens, pelo que queria manter as aulas, se assim fosse o Governo tinha desde abril melhorado as aulas à distância”, argumentou Rui Rio.

Numa conferência de imprensa na sede do partido no Porto, o presidente do PSD começou por lembrar que após a última reunião do Infarmed e perante o que os especialistas tinham dito “era evidente que as aulas tinham de fechar, particularmente a partir do sexto ano”, tendo ficado “admirado” pelo Governo não o ter feito de imediato.

“O Governo entendeu não o fazer. Fiquei admirando na altura. Agora voltou atrás (…). Já percebemos porque não fechou as escolas e só o fez agora com a pressão da opinião pública. Não o fez porque tinha consciência de que não estava preparado para o fazer. Isto tem de ser dito”, referiu.

Rui Rio apontou o dedo ao executivo socialista, referindo que foi este quem “em abril e maio disse que tinha corrido tudo muito bem”, ainda que, referiu o líder do PSD, “se se saiba que não correu tudo bem”, razão pela qual disse não compreender que agora António Costa opte pela pausa letiva.

“Mas se para o Governo correu muito bem, e teve estes meses todos para preparar aquilo que prometeu, temos de lamentar que fechem as escolas e os alunos ainda vão ter uma situação pior do que a que tinham em abril porque não vão ter as aulas à distância", concluiu.

  • CDS-PP

O líder parlamentar do CDS-PP considerou hoje que o encerramento das escolas, na sequência do aumento de contágios no país, foi uma decisão “positiva”, mas também evidenciou que o Governo está “completamente desnorteado”.

“Era uma decisão que era inevitável, incontornável, e, do meu ponto de vista, uma decisão positiva”, sublinhou Telmo Correia, numa declaração nos Passos Perdidos, no parlamento.

Contudo, o centrista considerou que a alteração constante das medidas anunciadas na semana passada pelo executivo liderado pelo socialista António Costa levanta dúvidas sobre a eficácia no combate à pandemia.

“A preocupação que nos fica é que o Governo está completamente desnorteado”, acrescentou, uma vez que “ora faz uma coisa, ora diz o contrário”.

Telmo Correia recordou que na terça-feira, durante o primeiro debate de política geral na Assembleia da República com o primeiro-ministro, António Costa, com um “tom assertivo, quase que arrogante”, garantiu que “não havia nenhuma necessidade de fechar as escolas, porque só havia problemas em 13 e porque as perdas seriam inqualificáveis para o ensino”.

Dois dias depois e face ao elevadíssimo aumento no número de contágios e de óbitos associados ao SARS-CoV-2, o chefe do Governo anunciou o encerramento das escolas de todos os níveis de ensino, a partir de sexta-feira, durante 15 dias.

O líder da bancada parlamentar centrista advogou que o partido já tinha exortado o Governo para o encerramento das escolas, dada a situação “absolutamente dramática”, mas o executivo só agora “conclui o óbvio”.

“De facto, para nós o que é importante é que se consiga ultrapassar este momento. Não temos outra preocupação. Estou de acordo que este não é o momento para alimentar sempre polémicas partidárias”, comentou Telmo Correia.

Contudo, a sensação que dá é que, “ou os especialistas não estão a trabalhar, ou o Governo não tem informação diária dos especialistas, ou teria acontecido qualquer coisa de muito estranho” para o Governo decidir hoje aquilo que os centristas, e não só, defendiam há algum tempo.

“Quando a gestão [da pandemia] é errada, temos de o assinalar”, completou.

O que disseram os sindicatos, ordens e associações

Bastonários dos Enfermeiros e dos Médicos dizem que escolas já deviam ter fechado

Os bastonários das ordens dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, e dos Médicos, Miguel Guimarães, lamentaram que só hoje o Governo tenha decidido encerrar as escolas, considerando que é uma decisão tardia.

Ouvidos por videoconferência numa audição conjunta na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social, os bastonários defenderam que as escolas já deviam ter encerrado mais cedo.

Em resposta a questões levantadas pelos deputados, Ana Rita Cavaco afirmou que “a nova variante [do Reino Unido] é determinante para o combate à pandemia, mas não era determinante para a decisão do encerramento das escolas”.

“Nós não sabíamos em 87% dos casos onde é que ocorrem os contágios para tomarmos essa decisão, nem é determinante para combater a teimosia do senhor primeiro-ministro, porque isto efetivamente custa vidas aos portugueses e nós devíamos ter arranjado uma estratégia diferente de confinamento e não podemos querer agora, para desculpar essa teimosia, escudarmo-nos com a nova variante”, salientou a bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Também para Miguel Guimarães esta decisão é tardia: “A cada dia que passa com as escolas abertas maior é transmissibilidade da infeção e há vários estudos que comprovam exatamente isto”.

Segundo o bastonário, “o nível de jovens estudantes infetados, sobretudo a partir dos 12 anos, é neste momento muito elevado o que significa que eles podem se infetar na escola, mas depois trazem a infeção para casa e a seguir infetam os pais e os avós”.

Portanto, alertou, “isto nunca mais termina e depois há um descontrolo total de infeção que, é aliás, o que está a acontecer. Portanto, fechar as escolas é uma boa medida, já devia ter acontecido há mais tempo”.

Sobre as escolas encerrarem durante 15 dias e não haver ensino à distância, o bastonário da OM disse que é uma matéria sobre a qual se vai ter de debruçar em breve.

“O confinamento geral é provavelmente a medida que tem mais impacto naquilo que é a diminuição da transmissibilidade da infeção, mas temos que juntar ao confinamento geral, saúde pública, inquéritos epidemiológicos e testes massivos de vários grupos”, sublinhou.

Para Miguel Guimarães, estas são duas “medidas fundamentais” para rastrear as pessoas infetadas, para as isolar e diminuir a transmissibilidade da infeção, mas, lamentou “não está a ser feito. Aliás, há um descontrolo grande naquilo que é a identificação das cadeias de transmissão”.

Relativamente àquilo que pode ser feito para aliviar a pressão do SNS, defendeu que é usar “os vários recursos” na saúde que há no país.

“Neste momento, a saúde e a vida está acima da economia. Nós sabemos que a economia também pode ter impacto na vida das pessoas, é verdade, mas se nós não resolvemos o problema da saúde, nunca mais conseguimos recuperar a economia”, vincou.

“As meias medidas não servem à saúde nem servem a economia, e, portanto, nós temos que neste momento ter de facto uma posição muito firme naquilo que são as medidas restritivas”, advogou.

Fenprof apela a Governo para "preparar futuro" durante pausa letiva

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) considerou hoje inevitável o encerramento das escolas perante o "interesse de saúde pública", mas apelou ao Governo para que aproveite os 15 dias de pausa letiva para "preparar o futuro".

Reagindo ao anúncio do primeiro-ministro, António Costa, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, disse à Lusa que "a opção" do encerramento das escolas, a partir de sexta-feira e durante pelo menos 15 dias, "não merece dúvidas" face ao "interesse de saúde pública".

Para Mário Nogueira, o Governo deve aproveitar os 15 dias de interrupção das aulas para "preparar o futuro", isto é, "criar as condições" para "dois cenários" possíveis: o regresso ao ensino presencial ou ao ensino à distância.

Segundo o dirigente da Fenprof, "recuperar os défices é possível" desde que se acautele que "ninguém fica excluído" da aprendizagem por falta de computador ou acesso à internet ou que as escolas "possam contratar o pessoal necessário" para fazer a higienização dos espaços, testar e vacinar a população escolar, proteger os grupos de risco e cumprir os distanciamentos físicos necessários.

Na terça-feira, a Fenprof defendeu o encerramento das escolas face à "gravíssima situação epidemiológica que se está a viver" em Portugal, bem como à "opinião consensual dos especialistas".

Na altura, Mário Nogueira lamentou a "inépcia do Governo para criar as condições indispensáveis ao ensino presencial em segurança".

Interrupção das aulas é "solução de recurso incontornável"

A Federação Nacional da Educação (FNE) considerou hoje que a interrupção das aulas, por 15 dias, é "uma solução de recurso incontornável" perante o agravamento da pandemia da covid-19, apesar do seu "impacto extremamente negativo".

Reagindo ao anúncio feito pelo primeiro-ministro, o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, disse que o encerramento das escolas, a partir de sexta-feira e durante pelo menos 15 dias, levando à interrupção das aulas, é "uma solução de recurso incontornável perante a evolução da pandemia" e atendendo a que "não foram garantidas as condições para haver ensino remoto".

A medida, sendo necessária para "garantir a saúde", tem, para João Dias da Silva, contudo, "um impacto extremamente negativo", sobretudo para "os mais desfavorecidos e os mais desprotegidos", e vem "acentuar fragilidades" do ensino, em que alunos "não tiveram professores" durante o primeiro período letivo.

A FNE, que na segunda-feira defendeu em comunicado a suspensão do ensino presencial, pede que a interrupção das aulas nas escolas dure "o tempo considerado imprescindível", renovando o apelo à tutela para que dote as escolas dos "recursos indispensáveis", como professores, técnicos e equipamento informático, que garantam a retoma do ensino presencial.

"Não é a mera contabilização de dias", sustentou.

Diretores dizem que António Costa não tinha alternativa ao encerramento das escolas

O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) concordou hoje com o encerramento dos estabelecimentos de ensino, considerando que não havia outra alternativa que não fosse a de basear a decisão na ciência.

Filinto Lima, presidente da ANDAEP, considerou a decisão "positiva, porque sentiu-se nestes últimos dias uma convergência quase total dos peritos de saúde" que apontava para esta necessidade.

Os diretores escolares ficaram agradados com a decisão do Governo baseada "na ciência e não na política", acrescentou Filinto Lima.

Ainda assim, o presidente da ANDAEP alertou que esta medida poderá "envolver uma reorganização do calendário escolar" por não ser uma pausa letiva habitual, situação que António Costa acautelou ao garantir que os 15 dias serão compensados noutro período de férias.

"A tutela terá de estar atenta às consequências desta medida excecional e temporária, mas a pergunta é esta e ainda não há resposta, por quanto tempo?", questionou o presidente da ANDAEP, que considera o período para já definido não prejudicial para as aprendizagens e avaliações escolares.

O presidente da ANDAEP considera que ainda é cedo para falar sobre as consequências negativas do encerramento das escolas a longo prazo, porque não há certeza quanto ao tempo necessário da medida.

"Ao fim destes 15 dias terá de haver uma reavaliação da situação antes de qualquer nova decisão", concluiu.

Dirigentes escolares preferiam avançar já para ensino 'online'

A Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) defendeu hoje que deveria ter sido já adotada a modalidade de ensino 'online', em vez da suspensão das aulas, numa altura em que os alunos regressaram de férias há duas semanas.

“Todos percebemos que há necessidade de medidas com urgência, que faz todo o sentido parar tudo, mas penso que não faz sentido interromper agora as aulas para depois passarmos para o ensino 'online'”, disse à agência Lusa o presidente da ANDE, Manuel Pereira.

“Fazer uma interrupção letiva neste momento, não acho boa ideia. Faria mais sentido o ensino a distância. Não foi essa a opção do Governo, para nós é estranho”, acrescentou.

Os alunos, referiu, regressaram das férias de natal há 15 dias. “Para eles uma interrupção é mais uma forma de se distanciarem da escola, o que não é bom, e estando sem aulas vão querer sair de casa, o que em termos de controlo da pandemia também não é bom”, observou o dirigente associativo.

Se o prazo de interrupção letiva se prolongar vai avançar o modelo de ensino a distância, considerou.

Relativamente à situação dos meios digitais ao dispor das escolas e dos alunos, Manuel Pereira indicou que é hoje “melhor do que em março de 2020”, mas que ainda faltam entregar computadores prometidos em abril e que continua a haver famílias sem internet.

É preciso começar já a organizar o segundo semestre no ensino superior

O Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup) alertou hoje para a necessidade de se começar, desde já, a pensar soluções para as atividades letivas no segundo semestre, que permitam as melhores condições de aprendizagem.

Em declarações à agência Lusa, a presidente do Snesup defendeu que com o anúncio das novas medidas face ao contexto pandémico é importante agora decidir se, por exemplo, será melhor para as aprendizagens adiar o início do segundo semestre.

“Começar mais tarde e acabar mais tarde, por exemplo, para tirar melhor partido do ensino presencial”, referiu Mariana Gaio Alves.

A dirigente frisou que o alerta é no sentido de não pensar apenas no imediato e de preparar a comunidade académica para no segundo semestre permitir as melhores condições de aprendizagem.