Conceição Mateus, de 89 anos, vai hoje levar a vacina da gripe, mas a idade baralhou-a, levando-a a pensar que ia receber uma segunda dose da terceira fase da vacina contra a covid-19. Recebeu já a terceira dose – que corresponde a uma única toma - em 16 de novembro.
“Marcaram-me a vacina. Honestamente, não sei ler mensagens. Não posso ter jeito para tudo, não atino com essas coisas eletrónicas e o telefone”, diz, explicando que foi para o centro com a sua vizinha no carro da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, em Lisboa, e que “as duas meninas” que as levaram vão buscá-las no final também.
Conceição Mateus considera importante poder reforçar a proteção com a terceira dose da vacina, não vacilando quando a Lusa a questiona: “Claro acho que sim, se é para toma, temos de tomar, temos de cumprir as ordens. Isto está tão mau que temos de nos proteger de qualquer maneira.”
À semelhança de Conceição, Palmira Borges, de 78 anos, reconhece que a vacinação é importante, embora diga que, “por aquilo que se ouve, tem havido problemas”, mas como há apelos decidiu ser vacinada com a terceira dose contra a covid-19.
“A gente vai tentar [proteger-se], ficamos mais descansadas”, afirma.
Depois de darem os primeiros dados na triagem, as duas amigas amparam-se e vão esperar pela administração da vacina do outro lado do pano que divide o pavilhão, sendo guiadas pelos bombeiros sapadores até ao posto de vacinação respetivo.
Não fosse a confirmação dos dados no computador, e o despe e veste de casacos e camisolas, a inoculação seria ainda mais rápida, mas a enfermeira Patrícia não tem pressa e ajuda as pacientes sempre com uma palavra de conforto.
Contrariando algumas imagens de filas à porta dos centros de vacinação, o da Ajuda, que abriu em 12 de fevereiro e se mantém em funcionamento para vacinação contra a covid-19 e a gripe, a par do recém-aberto na FIL de Lisboa, nunca tem hoje mais de uma dúzia de pessoas à espera até ir à triagem.
Neste processo inicial, na entrada, as pessoas aguardam, sentadas, para dar os dados e depois passam a uma outra parte do pavilhão onde esperam pela inoculação. Após a administração da vacina esperam ainda meia hora ou 15 minutos, consoante a toma, antes de seguir viagem, sendo-lhes dado um saco com um lanche.
Até ao meio-dia de hoje, de acordo com o enfermeiro António Sousa, coordenador do centro de vacinação, foram inoculadas 300 pessoas. No final do dia, é habitual terem sido realizadas “mil inoculações, entre 800 e 1.100 utentes”.
“Trata-se do processo de vacinação da gripe e da covid-19. O processo de vacinação da gripe está mais acelerado, mas o da covid está a aproximar-se a passos largos”, explica o responsável.
António Sousa, que está no centro desde a sua abertura, refere não notar “grande diferença” no processo quando se compara a altura em que este era um dos vários centros espalhados pela cidade de Lisboa e agora, em que é o único dos anteriores a permanecer aberto, funcionando além do da FIL, aberto na quarta-feira.
“O processo está a fluir, o único senão foi na segunda e terça-feira, em que só estivemos nós a dar resposta, os outros estiveram fechados e tivemos um aumento de pessoas, mas reforçámos os recursos e acho que conseguimos dar resposta”, relata.
No Centro de Vacinação da Ajuda instalado na Calçada da Tapada, no Pavilhão Desportivo, a maioria das vacinações ocorre por agendamento, apesar da ‘casa aberta’ para os mais de 75 anos para a terceira dose contra a covid-19, mas estão também a ser administradas primeiras e segundas doses da vacina.
“Chegou uma altura em que ficaram 250 mil pessoas por vacinar e por isso estão a fazer agora a primeira dose, estão agora a recorrer, não sei se pela situação que está alterada [números de infetados], se pela exigência do pedido de certificado”, diz o responsável.
“Já não tínhamos primeiras doses ou era muito residual e agora temos cento e tal primeiras doses diariamente”, acrescenta, referindo ser essa a razão por que nas cadeiras do pavilhão se encontram pessoas idosas, mas também mais jovens.
Aos agendamentos correspondem ainda “grandes faltas”, que rondam os “20 a 30%”, mas que o centro compensa com agendamentos locais, já que tem abertura para vacinar pessoas elegíveis através de convocação pelas unidades de saúde locais.
De acordo com o responsável, até ao momento, o centro de vacinação da Ajuda foi responsável pela administração de “130 mil doses de vacina covid-19 e nove mil vacinas da gripe”, desde 12 de fevereiro, altura em que começou o processo.
Hoje é dia de os sete enfermeiros contratados administrarem a vacina da Pfizer. Há dias em que se juntam à equipa mais dois ou três profissionais do agrupamento dos centros de saúde.
António Sousa e uma colega preparam as inoculações numa sala, sendo que uma ampola dá para seis vacinas. Já a da Moderna, em doses de reforço, poderá dar para 11 ou 22 doses.
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