As imagens de uma atmosfera laranja em paisagens urbanas globalmente reconhecidas como Manhattan, em Nova Iorque, ou o memorial de Abraham Lincoln, em Washington, são o registo de mais um episódio de alarme no que respeita ao clima e é a proteção dos ambientes naturais.

Os autarcas de Nova Iorque, Montreal, Toronto, Washington e Filadélfia emitiram uma declaração conjunta nesta sexta-feira, em que sublinham que "este episódio alarmante serve como um claro lembrete dos impactos negativos que a crise climática está a causar em cidades do mundo inteiro".

Mais de 111 milhões de pessoas nos Estados Unidos ficaram sob alertas de qualidade do ar na quinta-feira, 8 de junho, devido aos incêndios florestais no Canadá. O fumo resultante destes mesmos incêndios foi também detetado a milhares de quilómetros de distância, na Noruega.Na capital americana, o céu voltou a ficar azul na sexta-feira, mas, como medida de precaução, as crianças das escolas públicas da cidade continuaram proibidas de passar o recreio ao ar livre.A qualidade do ar melhorou depois de os ventos que sopravam sobre a província do Québec, no Canadá, palco de intensos incêndios florestais, terem mudado de direção, disse à AFP Ryan Stauffer, cientista da NASA especializado em poluição do ar.A concentração de partículas finas no ar foi até 20 vezes menor na manhã de sexta-feira em Washington, em comparação com o mesmo horário de quinta-feira, referiu o cientista.

Uma densa neblina e um odor pairaram sobre a região durante dias, com a poluição do ar a exceder os níveis das cidades mais poluídas do mundo, localizadas no sul da Ásia e na China.

“Sem reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis para reduzir, pelo menos pela metade, nossas emissões até 2030, provavelmente nos condenaremos a um futuro cheio de semanas como esta”, acrescentou Stauffer.

Um ciclo de destruição que se alimenta a si mesmo

Só este ano, o Canadá já sofreu 2.400 incêndios florestais e perdeu 4,3 milhões de hectares de floresta, 16 vezes mais do que a média da última década.

A professora de Física e Ciências Ambientais da Universidade de Toronto, Tanzina Mohsin, declarou à agência de notícias Efe que as alterações climáticas são as responsáveis diretas pelo dramático aumento dos incêndios florestais no Canadá.

Mohsin assinalou que o designado ‘défice de pressão de vapor’, a diferença entre a quantidade de vapor de água no ar e a quantidade que pode reter quando está saturado, está a provocar a seca extrema da vegetação, tornada assim combustível ideal para as chamas.

A académica advertiu que se está a chegar a, ou já se está mesmo, um ciclo de destruição que se alimenta a si mesmo.

Neste processo de autoalimentação, a subida das temperaturas devido às causas humanas do dióxido de carbono (CO2) provoca um aumento dos incêndios florestais nas regiões mais a norte do planeta.

Estes incêndios, como os que existem agora no Canadá, emitem grandes quantidades de CO2, além de que reduzem a capacidade da vegetação para o reter, o que acelera o aquecimento global, criando um ciclo imparável.

“Mesmo agora, façamos o que fizermos, não vamos poder escapar deste aumento [do aquecimento]. E vai ser difícil mantê-lo abaixo dos dois graus [centígrados]. Assim, não nos podemos limitar a procurar mitigar os efeitos do aquecimento global. Agora temos de fazer ações de adaptação”, disse.

Um dos exemplos que avançou foi o fim de todo a urbanização em áreas propícias a incêndios florestais.

“Temos de planificar a redução dos riscos. Temos de planificar a gestão da floresta. Temos de pensar na tecnologia. Estes deveriam ser os nossos objetivos”, disse.