“Se não conseguirmos abrir as nossas empresas na praia vai ser o caos, vai ser muito difícil para os empresários porque vão à falência”, disse à Lusa o presidente da Federação Portuguesa dos Concessionários de Praia, João Carreira, que mantém a esperança de que seja possível “abrir devagarinho” em junho.
Segundo o responsável, devido à pandemia da covid-19, os concessionários que estão abertos durante todo o ano tiveram de recorrer ao ‘lay-off’ e alguns estão com “problemas gravíssimos” em preparar o próximo verão, porque já perderam o mês de abril e ainda “é tudo muito incerto”.
O clima de dúvida abrange concessionários de todo o país, como os do Algarve, que “não depositam grande esperança” de que o ano turístico possa vir a colmatar todos os encargos que têm de suportar com funcionários e outras despesas, numa altura em que não há receitas.
“Não temos qualquer previsão, nem indicação sobre uma possível data para a abertura das praias, daí estarmos a aguardar para vermos qual a possibilidade de ainda podermos trabalhar este verão”, referiu Artur Simão, vice-presidente da Associação dos Industriais e Similares Concessionários das Praias da Orla Marítima do Algarve.
Em São Pedro de Moel, na Marinha Grande, distrito de Leiria, uma empresária investiu oito mil euros num projeto para o novo bar de praia, mas não sabe se irá conseguir abrir.
“Vou pagar a licença, mas nem sei como vai ser. A época balnear abre em 15 de junho, mas não temos qualquer informação. Vamos ver quais serão as condições, se dá para abrir o bar ou apenas montar as tendas e toldos”, mencionou Natália Loureiro.
Também o litoral alentejano está “cheio de incertezas” e expectativas “um bocadinho más” — os proprietários estão parados há quase dois meses e acreditam que as praias não vão poder receber o mesmo número de banhistas.
“Se não tenho pessoas na praia não vou ter meios para fazer face a essas despesas. Possivelmente está em cima da mesa não abrir a praia e colocarmos um ou dois nadadores-salvadores para garantir a segurança dos banhistas”, adiantou Catarina Gomes, que é proprietária do parque de campismo e concessionária na praia da Galé/Fontainhas, em Grândola, no distrito de Setúbal.
Os 21 concessionários da Costa de Caparica, em Almada (Setúbal), estão “minimamente preparados” para o início da época balnear, mas persistem as dúvidas sobre como proceder quando puderem trabalhar.
”A praia vai ser uma confusão, com muita gente junta. Há uma parte da praia que é privada e podemos pôr alguma distância entre quem aluga um chapéu, mas depois há toda a frente que é para toda a gente e não há controlo”, apontou o presidente da Associação Apoios de Praia Frente Urbana da Costa de Caparica, Acácio Bernardo.
Neste âmbito, Fátima Cunha, presidente da Associação de Concessionários da Póvoa de Varzim (Porto) defendeu que “terá de haver uma outra forma de estar nas praias”, pelo que se aguarda indicações das autoridades competentes para “traçar uma linha de ação”.
No entanto, mesmo que a época balnear possa começar de forma generalizada em junho, há outro “grande problema” que está a preocupar o setor: “a falta de nadadores-salvadores”, porque a covid-19 também impediu a realização dos cursos.
A situação foi confirmada pelo presidente da Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores, Alexandre Tadeia, que duvida que “seja possível formar a mesma quantidade de vigilantes” dos anos anteriores”, até porque o curso dura um mês.
“Nós temos um estudo que nos indica que apena 50% dos nadadores-salvadores voltam a trabalhar na época seguinte, o que quer dizer que todos os anos temos de formar aproximadamente metade dos nadadores-salvadores de que necessitamos para a época balnear”, explicou.
Este ano deveriam ter sido formados entre 1.500 e 2.000 vigilantes de praia, o que levou a Autoridade Marítima Nacional a estender a validade dos cartões que expiraram recentemente, mas a medida pode não ser suficiente.
“Neste momento temos muitos nadadores-salvadores certificados em Portugal, mas o problema não é a certificação, mas sim quantos estão disponíveis para trabalhar”, frisou.
Para Alexandre Tadeia, é preciso incentivar estes profissionais através de benefícios como a isenção de IVA, a diminuição do valor das propinas na faculdade ou até mesmo uma redução do número de vigilantes por concessão, porque “mais vale ter alguma segurança do que não ter nenhuma”.
“Estamos extremamente preocupados, até porque tínhamos vindo a baixar o número de mortes por afogamento em Portugal. Em 2017 tivemos 122, em 2018 foram 117 e os números de 2019, que ainda não foram publicados, também demonstram esta tendência de redução. Não queríamos que esta época balnear viesse em sentido contrário”, sublinhou.
Por agora, referiu o representante dos concessionários, João Carreira, resta manter o “pensamento positivo” e a “esperança de que haja alguma atenção do Governo” a este setor que “vive do sol”.
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