Para promover esse encontro, a fundação criou, em dezembro de 2009, a equipa de intervenção social 'Ergue-te', que já contactou 1.500 mulheres em contexto de prostituição, na região de Coimbra, e conseguiu que 15 alterassem o seu percurso de vida.
“Entendemos que uma pessoa que está em contexto de prostituição não o faz por opção, e que esta atividade não promove a dignidade pessoal” e, por isso, “propomos em alternativa o abandono do contexto e a integração no mercado laboral”, disse à agência Lusa a diretora técnica do projeto, Marta Neves.
Com o apoio de uma unidade móvel, a equipa desloca-se todas as semanas aos locais conotados com a prática de prostituição.
“Vamos às ruas, às matas, às estradas nacionais, aos bares de alterne, aos apartamentos, às pensões divulgar os nossos serviços, conhecer as pessoas e procurar estabelecer uma relação de confiança”, contou Marta Neves, que falava à Lusa, a propósito da atribuição do prémio BPI Solidário ao projeto.
Nesse encontro, “oferecemos um chá, uns bolinhos, conversamos e procuramos que as pessoas venham ao nosso gabinete”, onde é prestado apoio de saúde, social, psicológico e jurídico, e são delineados planos de acompanhamento para as utentes.
A equipa é sempre “muito bem recebida” e um terço das mulheres acaba por procurar o gabinete de atendimento social, localizado na avenida Fernão Magalhães, em Coimbra.
“Das 1.500 que contactámos, 500 vieram abrir processo”, disse Marta Neves, considerando este número “fantástico, tendo em conta o preconceito social e os estereótipos” que existem sobre estas mulheres.
Segundo a psicóloga, há “dois grandes motivos” que impedem que mais mulheres recorram ao serviço.
Um deles deve-se ao facto de muitas mulheres serem estrangeiras e estarem associadas a proxenetas ou a redes que não lhe dão “liberdade de movimentos”.
O segundo motivo prende-se com as dificuldades económicas: “A maior parte das portuguesas que apoiamos são casos sociais, prostituem-se maioritariamente nas ruas e nas matas, têm muito pouco rendimento e deslocarem-se a Coimbra implica pagar um autocarro ou um comboio e acabam por não vir”, explicou a responsável.
Desde o início do projeto, 15 mulheres conseguiram mudar de vida, mas, entretanto, houve duas que regrediram, “uma situação que infelizmente às vezes acontece”.
“O contexto de vida de prostituição é muito negativo e é vivido com muita angústia e sofrimento”, mas é uma vida que as mulheres conhecem e a que acabam por voltar, quando a rede social falha e precisam de obter dinheiro.
Apesar dos casos de sucesso ainda serem poucos, a equipa, formada por uma psicóloga, uma assistente social, voluntários e as irmãs Adoradoras, considera que tem sido um movimento bastante bom”.
“É um trabalho muito grande, quer nosso, quer delas”, disse Marta Neves.
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