“Foi um desespero. Estava a ver que ficava mesmo sem casa. Não apareceu um carro de bombeiros, nem a GNR”, disse à Lusa Albertina Cruz, de 48 anos, que passou toda a noite acordada, juntamente com o marido e uma filha, para conseguir proteger os seus bens.

Albertina conta que no início só via uma “fogueirinha” e pensava que o fogo estava controlado, mas, "de repente, começou tudo a arder".

“Era tanto fogo, tanto fogo, tanto fogo. A gente não podia com as fragolas. Era só lume em cima de nós”, disse, com as mãos em cima da cabeça.

Quando falhou a água, entrou em desespero e chegou a pensar fugir, mas alguns amigos do lugar vieram ajudar a proteger a casa.

“Tenho de agradecer a muita gente. Houve pessoas que me vieram ajudar com caldeiros de água e um rapaz com uma carrinha que tem uma bomba e foi o que nos salvou”, contou, sempre a chorar.

Alguns metros mais acima, Maria de Fátima, 63 anos, varria a entrada da casa com medo dos reacendimentos.

“Estou a tirar estas folhas ao menos. A gente tem sempre medo que o vento leve uma fagulha para um lado qualquer e ele [incêndio] se reacenda”, explicou.

O marido, José Ferreira, que completa 66 anos na quarta-feira, afirma que nunca teve tanto medo na vida como na última noite. “Isto nem é bom lembrar. Já levei muitos tombos e nunca tive tanto medo de morrer como esta noite”, acrescentou.

José Ferreira diz que o maior problema foi quando a água falhou, adiantando que a sua sorte foi um vizinho que tem um furo e que o ajudou.

“Não havia aqui bombeiros. Eles passavam na estrada e eu acenava-lhes, mas eles iam-se embora”, disse.

José Ferreira conta que ficou com a casa onde vive intacta, mas perdeu um curral, que felizmente não tinha animais. “Tinha lá um touro grande e foi há oito dias embora. Se o tinha lá, morria. Ele pesava mais de 200 quilos. Quem é que o tirava de lá àquela hora da noite?”, terminou.

O incêndio que lavra há mais de 24 horas, tendo já provocado a morte a um bombeiro, deflagrou na segunda-feira, às 11:24, em Oliveira de Frades, no distrito de Viseu, tendo passado para os concelhos de Sever do Vouga e Águeda, no distrito de Aveiro.

De acordo com a informação disponível no ‘site’ da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), às 16:00 o fogo estava a ser combatido por 765 operacionais, apoiados por 246 viaturas e 13 meios aéreos.

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