O juiz Brian Cogan, contudo, não condenou o ex-czar antidroga do governo de Felipe Calderón (2006-2012) à prisão perpétua, como solicitavam os procuradores, porque queria ter "uma certa luz no fim do túnel". Ele anunciou "460 meses" por quatro acusações pelas quais García Luna foi condenado por um júri popular em fevereiro de 2023, e mais seis meses por falsificação de documentos para solicitar a cidadania americana.

A mulher e a filha do ex-ministro compareceram à audiência, na qual ele se manteve sereno ao ouvir a sentença.

“Não pode haver um exemplo melhor de vida dupla", disse o juiz, endossando os argumentos da procuradoria. Ao mesmo tempo que era um funcionário que respeitava a lei, “facilitou” a perpetração de “coisas horríveis”, acrescentou. “Foi tão intimidante quanto Joaquín Guzmán [líder do Cartel de Sinaloa, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos], apenas manifestou-o de outra forma."

“A sentença ditada hoje contra Genaro García Luna representa um passo fundamental na defesa da justiça e do Estado de Direito. A sua traição à confiança pública e às pessoas que havia jurado proteger deu lugar à importação de mais de um milhão de quilos de substâncias letais nas nossas comunidades e desencadeou uma violência incalculável aqui e no México", declarou o procurador Breon Peace.

“Essa sentença envia uma mensagem contundente de que ninguém, independentemente da sua posição ou influência, está acima da lei”, acrescentou Peace. “Após anos de narcotráfico destrutivo, García Luna passará quase 40 anos onde tem de estar, numa prisão federal."

A procuradoria tinha pedido prisão perpétua para o funcionário público mexicano de mais alto escalão a sentar-se no banco dos réus nos Estados Unidos, enquanto a defesa pedia 20 anos, a pena mínima pelos cinco crimes dos quais ele foi considerado culpado.

Assim como fez em carta, García Luna, que não depôs no julgamento, pediu hoje clemência ao juiz: "Nunca representei uma ameaça ou risco para a comunidade."

Após o anúncio da sentença, Felipe Calderón publicou no seu perfil no X que nunca teve “provas verificáveis" ou informações de agências de inteligência nacionais ou estrangeiras que implicassem García Luna em atividades ilícitas. “Sou partidário de que aquele que infringir a lei deve assumir as consequências dos seus atos.”