Rodolfo "El Ruso" Lohrman e Horacio Maidana, de 53 e 57 anos, detidos preventivamente na prisão de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, são suspeitos de, em 2003, em conjunto com outros elementos, terem sequestrado Christian Schaerer, à data com 21 anos, estudante de direito e filho de um empresário da província de Corrientes, perto da fronteira com o Paraguai.

Os autores exigiram um resgate para a sua libertação, mas até hoje o jovem nunca apareceu.

Quando foram detidos, a 16 de novembro de 2016, pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da Polícia Judiciária (PJ), no momento em que se preparavam para assaltar uma carrinha de valores, os dois apresentaram identidades falsas. Só meses depois é que a PJ descobriu as suas verdadeiras identidades: dois dos criminosos mais procurados pelas autoridades argentinas.

Os outros arguidos - Manuel Garcia, guatemalteco, 32 anos, e Christian Gomez, 35 anos, de nacionalidade espanhola - estão em prisão preventiva ao abrigo deste processo, enquanto Jaime Fontes, português, 33 anos, está a cumprir pena por tráfico de droga, no âmbito de outro processo.

Alguns dos arguidos requereram a abertura de instrução – fase facultativa que visa comprovar ou arquivar a acusação do Ministério Público -, mas uma juíza de instrução criminal de Loures decidiu levar a julgamento os cinco homens nos exatos termos da acusação.

Segundo a acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, antes de meados de agosto de 2014, os arguidos organizaram-se num grupo, que tinha “o seu modo de viver único e exclusivo”, para a prática de roubos a instituições bancárias em Portugal, liderado por Lohrman.

A acusação conta que o grupo começava por fazer reconhecimentos a instituições bancárias, para verificar as suas rotinas e as horas em que tinham elevadas quantias de dinheiro, nomeadamente quando os funcionários contabilizavam os depósitos diários e nas caixas multibanco.

Escolhido o dia e hora do assalto, o grupo atuava com grande violência.

“Maidana arrombava a porta de entrada na dependência bancária, fazendo, por norma, uso de uma marreta, permitindo o acesso dos demais arguidos ao seu interior. Trazendo armas de fogo (pistolas e caçadeiras) e recorrendo ao uso da força física, intimidavam, privavam da sua liberdade os funcionários e constrangiam-nos a entregar o dinheiro”, sustenta o MP.

A acusação indica que o grupo assaltou quatro bancos (três no concelho de Odivelas e um em Cascais), conseguindo levar, ao todo, cerca de 235 mil euros, que foram transferindo para o estrangeiro, e furtado cinco viaturas.

O primeiro assalto registou-se a 14 de agosto de 2014, no concelho de Odivelas, de onde os arguidos levaram quase 50.000 euros. A 16 de novembro de 2015, descreve a acusação, o grupo assaltou outra agência bancária na Ramada, Odivelas, arrecadando quase 83.000 euros.

A 14 de março de 2016, também na Ramada, Odivelas, os arguidos roubaram mais de 38.000 euros das instalações de outro banco, depois de ameaçarem de morte os funcionários.

O grupo é ainda acusado do assalto a um banco no concelho de Cascais, de onde levou mais de 62.000 euros, depois de ameaçarem os funcionários, uma das quais ainda disse que estava grávida, com uma metralhadora.

Os arguidos estão acusados de associação criminosa, e de vários crimes de roubo qualificado, furto qualificado, falsificação, branqueamento de capitais, detenção de arma proibida, condução sem carta e alguns respondem ainda por falsas declarações.

O início do julgamento está agendado para as 14:00 de segunda-feira no Tribunal de Loures, onde se esperam fortes medidas de segurança.

A Argentina pediu a extradição de Rodolfo "El Ruso" Lohrman e de Horacio Maidana, no âmbito do processo que investiga o sequestro do jovem, em 2003.

O Supremo Tribunal de Justiça já autorizou a extradição de Maidana, mas ainda não decidiu sobre um recurso interposto pelo advogado de Lohrman, depois de o Tribunal da Relação de Lisboa ter também autorizado a extradição deste para a Argentina.

A Bulgária pediu igualmente a extradição de “El Ruso" Lohrman, que se evadiu daquele país em 2014, onde estava preso preventivamente a aguardar julgamento, acusado de roubo à mão armada de carrinhas de valores e de homicídio.

Contudo, os arguidos só poderão ser extraditados após trânsito em julgado da pena a que eventualmente vierem a ser condenados, assim como terão de cumprir parte dessa pena.

Manuel Garcia fugiu de Espanha, em março de 2016, onde cumpria pena de prisão de seis anos por tráfico de droga. O arguido não regressou de uma saída precária, razão pela qual foram difundidos mandados de detenção com vista à sua entrega às autoridades espanholas.