Por agora é a palavra de uns contra os outros: na manhã de segunda-feira, uma mulher de 32 anos com hemorragias dirigiu-se ao hospital de Caldas da Rainha e deparou-se com a urgência de obstetrícia encerrada. Foi atendida mais de meia hora depois e após a insistência dos bombeiros locais e do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

A Entidade Reguladora da Saúde recorda que em junho de 2022, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde realizou um inquérito às circunstâncias que envolveram a assistência do hospital de Caldas da Rainha a uma mulher em trabalho de parto, que acabaria por perder o bebé. Na sequência da investigação, concluída em maio de 2023, "foram emitidas cinco recomendações", quatro dirigidas ao então Centro Hospitalar do Oeste, uma à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

Apesar de "o órgão de gestão do estabelecimento" ter "apresentado evidências do acolhimento das quatro recomendações" que lhe foram feitas, o hospital está agora envolvido em nova polémica.

O comandante dos bombeiros de Caldas da Rainha, Nelson Cruz, conta, em declarações à agência Lusa, que uma ambulância da corporação foi acionada às 7h21 pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) para socorrer uma mulher de 32 anos, que estava frente à urgência do hospital de Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, dentro do seu carro. "A senhora tinha tido um aborto espontâneo, tinha o feto com ela dentro de um saco e estava com muitas hemorragias", explicou.

Quando chegaram ao local, os bombeiros transmitiram as informações sobre estado da mulher, "com hemorragia abundante", ao CODU e disseram ao marido para pedir ajuda dentro do hospital, coisa que o homem diz ter feito logo à chegada, antes de ligar o 112. O CODU terá ainda avançado a possibilidade de irem para a Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, a mais de uma hora de caminho.

A ULS Oeste confirmou em comunicado que a urgência de ginecologia e obstetrícia de Caldas da Rainha “não estava a funcionar”, mas negou que a unidade hospitalar tivesse recusado atender a utente. "Temos registo de que a utente apenas entrou no hospital às 08:04, tendo sido de imediato admitida. Em momento algum foi recusada a sua admissão, nem temos registo de várias insistências para admissão", esclareceu.

A ULS Oeste é acusada pelos bombeiros de "faltar à verdade", argumentando que "se a urgência estava fechada, não há registo na admissão de doentes". Quanto ao inquérito do IGAS, o hospital diz que o importante é que tudo se esclareça e garante que não tem qualquer receio de uma inspeção.

A situação de há dois anos, referida pela ERS, ocorreu em junho de 2022 e a médica que assistiu a grávida que perdeu o bebé, bem como a assistente que recusou a inscrição da grávida, foram alvo de um processo disciplinar.

*Com Lusa