"Aquilo precisa de uma intervenção profunda, não há dúvida nenhuma. As pequenas reabilitações que foram feitas no edifício foram coisas feitas sem um pensamento global de intervenção na obra", disse Magda Seifert numa entrevista conjunta à Lusa com Pedro Baía, ambos fundadores e diretores da editora Circo de Ideias, especializada em publicações de arquitetura.

Os editores foram também curadores da edição de 2023 do Open House Porto, um evento que abre ao público vários edifícios icónicos do Grande Porto durante um fim de semana (este ano, em 01 e 02 de julho), e que incluiu visitas à escola desenhada por Fernando Távora em 1958 e inaugurada em 1961, Monumento de Interesse Público desde 2013.

Para Pedro Baía, as pequenas intervenções feitas ao longo do tempo no edifício dão "argumentos a quem quer não conservar ou investir na escola".

"Há ali coisas que se calhar não são assim tão dispendiosas, como por exemplo recuperar aqueles pátios, que dariam uma outra vida", complementa o também professor universitário, referindo-se concretamente aos antigos espaços verdes que deram lugar a um pátio de cimento desabrigado do sol, anteriormente ocupado com árvores.

Para Magda Seifert, que defende, em primeiro lugar, uma "intervenção imediata" na escola, "o espaço verde, particularmente naquele edifício, tinha uma importância muito grande, e o arquiteto Fernando Távora pensou o espaço exterior de uma forma que foi completamente pervertida hoje".

"São feridas abertas que ficam no edifício, porque é um espaço exterior que ficou bastante pior na sua utilização, ou seja, quiseram dar-lhe uma melhor funcionalidade mas, na verdade, perderam muito mais, porque retiraram as árvores e quiseram eliminar as pendentes", refere a investigadora.

Para Pedro Baía, a situação "é horrível, porque depois as pessoas chegam, olham para o edifício, relacionam com o Fernando Távora, mas aquilo já foi adulterado, houve malfeitorias".

"Na verdade, aquilo é um campo de cimento para as crianças brincarem, não sei se é o que gostaria para os meus filhos", completa Magda Seifert sobre o pátio da escola, considerando que quem interveio ao longo do tempo pensava estar "a resolver um problema", mas ao invés disso estava "a criar problemas" sem "entendimento da obra de arquitetura na forma como ela foi pensada".

Pedro Baía lembrou ainda que este ano se celebram 100 anos do nascimento de Fernando Távora, comemorados com vários eventos por todo o país, pelo que "seria uma boa notícia" a reabilitação do edifício.

A diretora da escola, Elsa Pinto, disse ao Porto Canal, em julho, que a escola estava a "precisar de uma grande intervenção estrutural", e fonte oficial da Câmara de Gaia adiantou então que estavam previstas obras para 2024/25 que incluem "a reabilitação integral e construtiva da Escola Primária do Cedro, com uma abordagem minimalista e o restauro da linguagem moderna original".

À Lusa, a autarquia acrescenta que a intervenção prevê a "recuperação das caixilharias em madeira e das coberturas em madeira originais, reparação dos rebocos e elementos cerâmicos, entre outros".

"A maior adaptação funcional realizada na Escola do Cedro foi a necessidade de se transformar o espaço polivalente original em espaço destinado às refeições", nos anos 80, segundo a autarquia.

O edifício foi ainda alvo de intervenções entre 2002 e 2004 nas coberturas das salas de aula "para maior isolamento térmico, adaptação de instalações sanitárias para pessoas portadoras de mobilidade condicionada, assim como realizado um abrangente trabalho de arranjos exteriores" e "em 2015 foram realizadas obras de reabilitação construtiva das fachadas voltadas a norte".