Em 2013, assim que foi conhecido o nome do novo Papa, a maioria das vozes frisava que tinha chegado um pontífice que seria capaz de ter um olhar diferente sobre a Igreja — e que não hesitaria em levar a barca de Pedro a bom porto.

Francisco, a par das reformas na cúria e na renovação do colégio cardinalício, viu o seu pontificado marcado por mudanças significativas, entre as quais a escuta aos fiéis sobre o rumo que a Igreja deve prosseguir.

A palavra-chave é sinodalidade e o sínodo, que juntou clero e leigos em Roma, procurou saber como é que a Igreja está a fazer o “caminho em conjunto” no anúncio do Evangelho.

"Sinodalidade, literalmente, significa caminhar e caminhar juntos. Concretamente, um caminho que se faz em três etapas ou em três dimensões: pela participação, pela comunhão e pela missão", começou por explicar ao SAPO24 D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa.

"Aquilo do 'todos, todos, todos 'não era só um todos, todos, todos para participar ou fazer parte de algo, mas era uma totalidade de pessoas envolvidas na realização, no fazer, na participação", completou.

Por isso, é preciso refletir nas palavras de Francisco. Na igreja “como estamos com a escuta? Como vai o ouvido no nosso coração? Permitimos às pessoas que se expressem, que caminhem na fé mesmo quando têm percursos de vida difíceis, que contribuam para a vida da comunidade sem que se lhes ponham obstáculos, sem que sejam rejeitadas ou julgadas?”, foram perguntas que o Papa deixou na missa de abertura do sínodo.

Para D. Rui Valério, "a primeira e principal condição para falar, para transmitir uma mensagem, para dar uma resposta, é escutar o que o outro me está a dizer ou, melhor, escutar o que o outro me quer dizer".

"Nós escutamos não só o som verbal da palavra que o outro me dirige. Eu tenho de escutar também o seu silêncio, tenho de escutar também o seu fechar de olhos, tenho de escutar também a fisionomia do seu rosto, o ar com que ele vive. Tudo isso faz parte da escuta. Porque a escuta é entrar no mundo interior do meu semelhante", reflete o Patriarca de Lisboa.

Ao longo do pontificado, Francisco soube ouvir todos. E deixa, na sua autobiografia, pistas para o que deve acontecer no futuro, numa Igreja que deve olhar para a frente e não apenas para o passado.

“A tradição é crescer. A tradição é seguir em frente. A igreja não pode ser a reunião dos bons velhos tempos. A nossa responsabilidade é caminhar no nosso tempo, continuar a crescer na arte de reconhecer as suas exigências e de lhes responder com a criatividade do Espírito, que é sempre discernimento em ação. Além disso, a Igreja nem sequer é uma orquestra onde todos tocam as mesmas notas, mas uma onde cada um interpreta a sua própria partitura, e é precisamente por isso que deve criar harmonia”.