A embarcação, administrada pelas organizações não-governamentais SOS Mediterrâneo e Médicos sem Fronteiras, permanecia no Mediterrâneo central, depois de Itália e Malta terem negado que o navio atracasse nos seus portos nos últimos dias.

Portugal também está disponível para acolher 30 dos 244 imigrantes que se encontram no navio humanitário “Aquarius” e noutras pequenas embarcações que estão a atracar em Malta, disse hoje à Lusa o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

“Portugal, Espanha e França articularam-se e, tal como já tinham feito em casos anteriores, mostraram uma disponibilidade comum para acolhimento e Malta autorizou a atracagem do navio. Haverá uma operação semelhante à que foi feita há um mês com o Lifeline”, explicou Cabrita.

A decisão foi conjugada entre os Governos dos três países e comunicada à Comissão Europeia, mas há outros países que ainda estão a ponderar participar na ajuda a estes migrantes.

“Entendemos que deve haver uma posição estável de nível europeu envolvendo todos. Não podemos andar aqui de solução ‘ad hoc’ em solução ‘ad hoc’ sempre que um navio está à deriva no Mediterrâneo”, acrescentou o ministro português, defendendo uma solução europeia integrada para responder ao desafio dos fluxos migratórios.

A maioria (73) dos 141 imigrantes a bordo do “Aquarius” são menores de idade e 70% são naturais da Somália e da Eritreia, mas também há cidadãos do Bangladesh, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Marrocos e Egito.

O presidente da Generalitat (governo da Catalunha), Quim Torra, disse também hoje que três portos sob a autoridade da Catalunha poderão ser utilizados para o desembarque dos 141 imigrantes do Aquarius.

Chegadas a Espanha desde 2017 equivalem a metade do total dos últimos 20 anos

Os 47 mil migrantes que entraram por mar em Espanha desde o início de 2017 até à presente semana já representam praticamente metade das entradas em território espanhol por via marítima em quase duas décadas, foi hoje divulgado.

Os números foram hoje apresentados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e vêm confirmar que Espanha se tornou ao longo dos últimos meses a principal porta de entrada de migrantes na União Europeia (UE) através do mar Mediterrâneo, substituindo Itália, que atualmente adota uma postura política anti-imigração e decidiu fechar os respetivos portos.

O número total de entradas por mar de refugiados e de migrantes no território espanhol até 1999 era de 95 mil, segundo a OIM.

O balanço agora feito pela organização, que será liderada a partir de outubro pelo português António Vitorino, revela que em quase 20 anos nunca se testemunhou um nível tão elevado de imigração irregular por via marítima em Espanha como aquele que se observa no ano corrente, que já regista até à presente semana 25.101 entradas.

O pico anterior de entradas mais importante ocorreu no ano passado, quando foram registados 22.414 casos entre janeiro e dezembro.

Antes disto, o número de maior relevo tinha sido registado em 2001. Nesse ano, e segundo os dados do Ministério do Interior espanhol, foi registada a chegada por via marítima de 14.412 migrantes.

Atualmente, Espanha supera todos os outros destinos de imigração irregular para a Europa através do Mediterrâneo, nomeadamente Itália que registou 19.231 chegadas desde janeiro passado.

Por sua vez, a Grécia registou 16.834 entradas via Mediterrâneo no mesmo período.

Ainda sobre Espanha, a OIM referiu que 44.000 refugiados e migrantes adicionais entraram no território espanhol por via terrestre desde janeiro passado.

Na apresentação destes dados à comunicação social, o porta-voz da OIM, Joel Millman, afirmou hoje que preferia não especular neste momento sobre as razões que terão provocado este aumento significativo do fluxo migratório em direção a Espanha.

E avançou que a OIM irá realizar um estudo abrangente sobre este fenómeno, tal como fez com a Itália e com a Grécia, para conhecer em profundidade a situação.

O porta-voz da OIM disse, no entanto, ser possível já verificar que as nacionalidades dos migrantes que chegam por mar ao território espanhol correspondem exatamente àquelas que diminuíram nos portos de partida na Líbia em direção à Itália.

“Verificamos a descida nas chegadas de pessoas da Guiné, Gâmbia, Mali, Senegal, Costa do Marfim”, referiu o representante.

Sobre as condições que encontram os migrantes quando chegam a Espanha, Joel Millman afirmou que, neste momento, a OIM não tem informações sobre o tratamento que recebem estas pessoas nas primeiras 24 a 48 horas, referindo, no entanto, que a organização pretende avaliar tal situação.