O caso, noticia o El País, foi espoletado após a tradicional feira taurina de Begoña, realizada na cidade de Gijón há 133 anos. Com a edição deste ano a decorrer entre os dias 13 e 15 de agosto, na última corrida do evento o matador Morante de la Puebla esteve encarregue de tourear e matar dois touros. O problema é que estes se chamavam “Feminista” e “Nigeriano”.

Além da própria natureza das touradas ter em si muitos opositores, o facto dos touros mortos terem este nome foi visto como uma provocação, o que gerou controvérsia nas redes sociais e levou a reações de associações feministas e de defesa dos animais.

Tal coro de protestos levou a alcaide de Gijón, Ana González, a declarar à comunicação social espanhola que “acabou a feira taurina”. “Foram ultrapassadas várias linhas. Uma cidade que acredita na igualdade entre homens e mulheres, que acredita na integração e em portas abertas a todos não pode permitir que estas coisas aconteçam”, disse a autarca socialista.

Adiantando que as touradas eram um evento que gerava cada vez mais contestação na cidade, González disse que a autarquia não vai renovar o contrato para a feira voltar a decorrer nem vai permitir que a praça de touros de Gijón possa ser alugada. Se isto significa uma perda de 50 mil euros anuais para a cidade, por outro as touradas não podem ser “usadas para promover ideologias contrárias aos direitos humanos”, defendeu.

O setor tauromáquico já reagiu, acusando os responsáveis de desconhecimento quanto às leis agrícolas espanholas. A Unión de Criadores de Toros de Lidia, associação que representa 345 ganadeiros, explicou em comunicado que os nomes dados as touros são os mesmos das mães por imposição legal, para que a sua linhagem genealógica possa ser acompanhada.

Daniel Ruiz, o ganadeiro responsável pelo “Feminista” e o “Nigeriano” disse o mesmo à agência EFE, que “não teria havido esta polémica se se conhecesse um pouco as ideossincrasias de como funciona uma ganadaria” já que “as vacas são as mais importantes e é destas que são herdados os nomes dos touros que são lidados nas praças”.

A reação do setor dos touros, todavia, não se ficou pelas explicações, tendo sido feitas acusações à autarquia de Gijón de agir com preceito ideológico. Numa carta aberta, Victorino Martín, presidente da Fundación Toro de Lidia, diz que o episódio “foi uma desculpa peregrina para propiciar um desejo há muito tido: proibir os touros em Gijón”. “Um mínimo de curiosidade intelectual ou a devida assessoria antes de opinar de maneira tão frívola tinham impedido o ridículo de falar sem conhecimento e não teriam ficado tão claras as suas motivações reais e totalitarismo ideológico”, defende Martín.

O responsável chega a comparar esta proibição com a destruição das estátuas de Buda de Bamiyan, no Afeganistão, por parte dos talibãs em 2001, considerando que ambas partem do pressuposto que “estas manifestações de cultura são imorais”. “As expressões culturais não se podem proibir, são bens de toda a humanidade que é preciso proteger”, argumenta, admitindo levar o caso para a justiça.

Também a direção local do Partido Conservador espanhol em Gijón diz estar a verificar se a decisão de González pode ser legalmente contestada, dizendo-se “completamente contra qualquer um que nos queira retirar liberdades” e admitindo que, caso vença as eleições locais dentro de dois anos, organizará “o melhor festival tauromáquico das próximas décadas”.

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