No final de uma viagem de 10 dias a seis comunidade autónomas de Espanha, Philip Alston referiu ter percebido a existência de “duas Espanhas muito diferentes”, com uma percentagem muito alta da população “a viver acima das suas possibilidades”, situação pela qual responsabiliza a política adotada no país nos últimos 10 anos.
Alston alertou para o número “demasiado grande de pessoas que ainda estão em apuros” depois da recessão de que o país foi alvo na década passada.
“A recuperação após a recessão deixou muitas pessoas para trás porque as políticas económicas beneficiam as empresas e as pessoas mais ricas”, considerou Alston, numa conferência realizada hoje para explicar as recomendações que vai fazer ao Governo espanhol.
O relator descreveu uma situação de “pobreza generalizada” em muitos grupos, como os imigrantes, ciganos, pessoas com deficiências ou famílias despejadas.
Philip Alston lamentou ainda “o alto nível de desemprego que se regista em Espanha, assim como a burocracia, a crise habitacional de proporções perturbadoras e um sistema de proteção social completamente desadequado”.
Entre as recomendações que serão transmitidas ao Governo espanhol, Alston destacou a aplicação de um rendimento mínimo nacional, bem como uma reforma tributária redistributiva e uma nova política habitacional.
Especificamente sobre esta questão, lembrou que a Constituição espanhola contempla o direito a uma casa, mas reconheceu que, na realidade, “isso não significa nada”, pedindo, por isso, aos legisladores, que comecem a “levar a sério” o problema para acabar com despejos, limitar os valores das rendas nas grandes cidades e aumentar a habitação social”.
Alston, que elogiou o sistema espanhol de saúde e o sistema de pensões para idosos, criticou o grande número de abandonos escolares e denunciou que o sistema oferece “baixa mobilidade aos grupos com menores rendimentos”.
“Quem nasce pobre, morre pobre”, afirmou.
O relator da ONU felicitou o Governo de coligação conseguido entre o PSOE e o Unidos Podemos e elogiou os projetos para combater a pobreza e “embarcar no caminho que leva à justiça social”.
O representante das Nações Unidas foi o relator que publicou, em maio do ano passado, um relatório no qual concluía que um em cada cinco britânicos vivia em estado de pobreza em resultado direto da austeridade adotada desde a crise económica que começou em 2008.
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