“Eu abandonei o Everest. Fazer esta decisão foi penoso, muito duro, e uma decisão que pensei muito bem. Chorei entre as ‘paredes’ da minha tenda e rezei”, escreveu a esquiadora luso-canadiana nas redes sociais.

Ema Dantas, de 53 anos, tentava subir aos sete cumes mais altos do mundo, uma aventura que teve início em 2017 e devia terminar em meados de maio deste ano, nos 8.848 metros acima do nível do mar, no Everest.

“Ainda não me tornei a primeira mulher portuguesa a ter escalado aos sete cumes do mundo, mas sinto-me confortável com a minha decisão e estou confortável”, disse.

No Canadá desde os seus quatro anos de idade, natural do concelho de Miranda do Douro (distrito de Bragança), a empresária luso-canadiana alega que não conseguiu recuperar de “problemas no estômago”.

A luso-canadiana viajou para o Nepal, no dia 04 de abril, com o objetivo de atingir o topo do Monte Everest. Caso o conseguisse, seria a primeira pessoa de nacionalidade portuguesa a atingir os Sete Cumes nas duas versões; de Richard Bass e de Reinhold Messner.

As sete montanhas mais altas de cada continente, que acabam por ser oito, pois a versão de Messner, considerada por muitos alpinistas como a mais legítima, troca o pico Kosciuszko (2.228) na Austrália incluído na lista de Bass, pela Pirâmide Carztensz, na Indonésia, com 4.484.

Para já, nos últimos três anos e meio, foram alcançados a Pirâmide Carstenz (Indonésia, 4.884), o Monte Kilimanjaro (Tanzânia, 5.895), o Elbrus (Rússia, 5.642), o Monte Vinson Massif (Antártida, 4.892), Anconcágua (Argentina, 6.961), Denali (Estados Unidos, 6.190) e o pico Kosciuzkzo (Austrália, 2.228).

Financiada através do setor privado nas várias expedições, inclusive os 67 mil dólares norte-americanos (55,4 mil euros) necessários para a viagem ao Nepal, na jornada ao Monte Everest.

A empresária e tradutora pretendia angariar 700 mil dólares canadianos (459 mil euros), fundos destinados ao Centro de Vícios e de Saúde Mental – CAMH de Toronto e consciencializar o público para reduzir o estigma da saúde mental.

“Não conseguimos atingir o nosso objetivo de angariar os 700 mil dólares para o CAMH. Isto vem a demonstrar que muitos de nós temos vergonha das nossas imperfeições, das nossas inseguranças próprias, dos nossos receios, dos nossos demónios internos e das nossas ansiedades e assim da nossa própria saúde mental”, lamentou.

Em 2017, Ema Dantas criou a fundação Peaks for Change (Cumes da Mudança), uma instituição sem fins lucrativos sobre a saúde mental, escalando desde então os pontos mais altos do mundo para angariar fundos.

“Isto não é um fracasso da minha parte. Estou a ser sincera comigo própria e agradeço a Jesus pela coragem de ser sincera e aceitar que as coisas nem sempre correram como nós as planeamos e que é razoável sentir receio, e eu senti o furor das cascatas de gelo e não tenho vergonha de o admitir”, confessou.

“Da mesma forma como é aceitável de sermos abertos e compreensivos relativamente à nossa saúde mental, de procurarmos ajuda profissional, de falar livremente acerca dela e conseguir fazê-lo sem condenação”, pontificou

Apenas dois portugueses conseguiram atingir os cumes mais altos do mundo, o montanhista João Garcia (1999) e o piloto e alpinista Ângelo Felgueiras (2010). Maria da Conceição, em 2013, foi a primeira portuguesa a subir ao Everest.