No arranque do discurso de balanço sobre os quatro anos de governação, com o apoio parlamentar dos partidos de esquerda (PS, BE, PCP e PEV), António Costa fez um agradecimento aos seus parceiros por terem ousado “derrubar um muro anacrónico”.
E da parte da coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, ouviu que, se o tempo voltasse para trás voltaria a assinar os acordos que levaram a esta solução governativa, uma opinião partilhada pelo líder socialista.
O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, não foi tão claro, mas afirmou que o país “mudou para melhor”, com a “decisiva contribuição do PCP", apesar de admitir que se poderia ter ido mais longe.
Olhando para trás, para quatro anos de Governo, António Costa reconheceu que os portugueses não vivem “um oásis” nem num “país cor de rosa, mas sublinhou que “Portugal está melhor”, “os portugueses vivem melhor”.
E enumerou uma longa lista de indicadores, do desemprego à criação de postos de trabalho, dos apoios sociais ao recuo da dívida pública para justificar o seu otimismo e recuperação da confiança.
“Nem o Diabo apareceu nem a austeridade se disfarçou”, afirmou, numa alusão ao alerta do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do PSD, de que “o Diabo” – ou tempos difíceis - se aproximaria, em 2016.
Pelo PEV, Heloísa Apolónia, elogiou a reposição de rendimentos, mas lamentou que "uma certa obsessão com o défice” não tenha permitido ao Governo PS ir mais longe nesta legislatura.
E pelo PS, o presidente e líder parlamentar, Carlos César, considerou "extraordinário" o caminho percorrido na presente legislatura, defendeu que o Governo recusou os "facilitismos irrazoáveis" e atacou as "prodigalidades desconexas" das promessas eleitorais do PSD e CDS-PP.
As bancadas do PSD e do CDS não gostaram da frase e fizeram uma leitura muito diferente da legislatura.
Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, acusou Costa de falar de um “país virtual”, “para a fotografia”, “cor-de-rosa”, em que o Governo “fez tudo bem”, mas que é desmentido diariamente pelo “lado negro” da realidade, na saúde, segurança social, educação, justiça, segurança, proteção civil ou na falta e apoios ao interior.
Do lado do CDS-PP, Nuno Magalhães, líder parlamentar, ironizou que o Governo é “excelente a anunciar” e “péssimo a fazer”, apontando que o “país real” tem “a carga fiscal máxima e os serviços públicos mínimos".
A três meses das legislativas, o tom de pré-campanha eleitoral notou-se em muitos dos discursos, embora com “nuances”.
Já com as eleições à vista, Catarina Martins questionou quem quer hoje maiorias absolutas. E encarregou-se de dar a resposta: os patrões e grupos privados de saúde.
A coordenadora bloquista advertiu: "Não podemos voltar à política das maiorias absolutas que nos perderam. A responsabilidade política é procurar resposta aos problemas do nosso tempo e o Bloco de Esquerda assume essa responsabilidade."
À direita, com "ambição para Portugal", a líder do CDS-PP, Assunção Cristas anunciou que o partido vai propor, no seu programa eleitoral, uma descida e impostos, o IRS e o IRC, neste caso de 21% para 12,5% num prazo de seis anos, e quer o país a crescer 4% ou 5%, no mesmo prazo.
André Silva, deputado único do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), defendeu que a viabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) depende da "promoção da saúde" e da "prevenção da doença", o que considerou possível apesar de "dar trabalho".
Comentários