As mãos que, durante sete meses, criaram “tixas”, uma lagartixa de tecido, costuradas por avós e adotadas como o símbolo do Festival Bons Sons, erguem-se hoje, em frente ao palco onde atua Cristina Branco.
“Somos as mais animadas e não ficamos atrás do público mais jovem”, assegura a ‘avó Fernanda', de 79 anos, e a mais velha do grupo de senhoras que, em janeiro, aceitaram o desafio de produzir o 'merchandising' (produtos promocionais) do Festival Bons Sons.
Sob coordenação da 'designer' Susana António, o grupo de senhoras encetou uma viagem de “partilha e aprendizagem” em que, ao longo de sete meses, foram, de quinze em quinze dias, a Cem Soldos, a aldeia onde se realiza o festival, fazer e ensinar a fazer, não apenas a “tixa”, mas também sacos, carteiras, porta-chaves e pregadeiras alusivas ao festival.
A habitantes da aldeia ensinaram técnicas de costura, bordado e serigrafia, com as quais foram criados os produtos que, desde sexta-feira, estão a ser vendidos aos festivaleiros.
“Em jeito de agradecimento as avós [todas residentes na zona de Lisboa] foram convidadas a virem divertir-se e vivenciar o que é um festival de música na sua plenitude”, explicou à Lusa a mentora do projeto, Susana António.
Todas vestidas de camisola igual e envergando na cabeça fitas floridas atadas com o laço, as avós não se fizeram rogadas e, embora estreantes em matéria de festivais, deram nas vistas, vibrando, na sexta-feira, ao som dos Best Youth e dos Kumpania Algazarra e, no sábado, ao ritmo de Cristina Branco.
“Ontem [sexta] foi sempre a dançar e só saímos daqui às 03:00, e hoje [sábado], vai pelo mesmo caminho”, afirmou Fernanda, assegurando que, depois de Cristina Branco, fazia questão de ver os Deolinda, cuja atuação está agendada para a 01:00.
Decididas a não arredar pé do recinto do festival “até acabarem todos os concertos”, as avós descansaram esta tarde, fugindo ao calor da aldeia, que atingiu temperaturas de 39 graus.
Mas esta noite “os Deolinda não nos escapam”, garantiu Patrícia, brasileira e a mais nova das avós, que, por causa do projeto, acabou “ficando em Portugal”, contou.
Estreante em festivais de música confessava-se hoje “apaixonada” pelo Festival Bons Sons onde diz ter dançado “a noite inteira, tal como o resto do grupo que, defende, “está a fazer um trabalho melhor que as meninas de 18 [anos]".
Satisfeitas por verem muitos dos milhares de festivaleiros que esta noite enchem a praça da aldeia as avós comprarem a suas peças e “levar um pedacinho de Cem Soldos e das avós de Lisboa”, o grupo promete “aplaudir, dançar, divertir e passar alegria para toda a gente” e só deixar a aldeia de madrugada.
E, para o ano, remata a avó Patrícia, “mesmo que não nos convidem vamos voltar”.
O Festival Bons Sons, que este ano comemora o 10.º aniversário, fecha hoje o cartaz com as atuações de Cristina Branco e dos Deolinda, enquanto no palco Aguardela a animação segue com 'dj' até depois das cinco da madrugada.
O Bons Sons fecha portas na segunda-feira, depois de quatro dias e cinquenta concertos a celebrarem a música portuguesa, na aldeia que é, toda ela, o recinto do festival por onde os organizadores estimam que passem 40 mil pessoas.
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