Neste julho morreram 10.390 pessoas em Portugal. Trata-se do valor mais alto registado nos meses de julho desde que há registo no sistema nacional de Vigilância da Mortalidade (eVM), mostram os dados recolhidos pelo jornal ‘Público’. Comparando com o mesmo mês do ano passado, em 2020 morreram mais 2.137 pessoas do que no mesmo período de 2019, um aumento à volta dos 26%, revelam as contas do diário.

Apesar da pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, apenas 1,53% (159) dos óbitos tem como culpada a covid-19 (em abril, a percentagem era de 8%). Até esta segunda-feira, desde março morreram em Portugal 1.738 pessoas das 51.569 confirmadas como infetadas.

Segundo a DGS, o agravamento na mortalidade em Portugal no mês passado deve-se ao “calor extremo”, sobretudo “nos grupos etários acima dos 65 anos de idade”. Todavia, mais detalhes só para o ano: “a codificação das causas de morte de 2020 está em curso e só será conhecida em 2021”, refere ainda a autoridade de saúde, em resposta ao jornal.

Os dados de um relatório preliminar do IPMA, a que o ‘Público’ teve acesso, mostram “dois períodos com onda de calor, de 4 a 13 e de 10 a 16”, no passado mês de julho. No entanto, o calor também não explica tudo.

Alguns especialistas de saúde ouvidos pelo jornal apontam antes para as maiores dificuldades no acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) por causa da pandemia de covid-19: seja porque as pessoas tiveram medo de recorrer aos cuidados, seja porque as consultas e exames foram desmarcados, indica Alexandre Abrantes, subdiretor da Escola Nacional de Saúde Pública.

“A atenção está de tal maneira polarizada para a covid — e aqui os media têm alguma culpa — que o resto foi esquecido no serviço de saúde”, diz ainda, afastando a hipótese de os hospitais não terem capacidade (de pessoal e infraestruturas) para tratar outras coisas para além da covid-19.

António Vaz Carneiro, presidente do conselho científico do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência concorda: há um “excesso de mortalidade provocado pela negligência e impossibilidade de acesso a cuidados que os dois milhões de doentes crónicos em Portugal deixaram de ter”, defende. “Temos uma população altamente negligenciada, doentes crónicos com múltiplas doenças que pura e simplesmente não têm consultas. No Interior do país consegue marcar uma consulta? É impossível”, acusa.

A tudo isto acresce, na opinião de Paulo Jorge Nogueira, estatístico do Instituto de Medicina Preventiva e de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o envelhecimento da população: “nunca tivemos uma população tão idosa, há muitas pessoas em sobrevida, também é um fator”, aponta, reforçando a necessidade de “olhar para as estatísticas e estudá-las” para compreender as causas que levaram ao julho mais mortal desde 2009.

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