Uma águia-imperial-ibérica vai ser devolvida à natureza depois de resgatada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e tratada no LxCRAS - Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Câmara Municipal de Lisboa. A libertação acontece no dia 27 de março, pelas 12h00, na Serra de Alcaria Ruiva, concelho de Mértola.

A águia foi resgatada pelo ICNF numa situação de grande debilidade, apatia e sem conseguir voar, e com suspeita de electrocução ou colisão com cabos, duas das grandes ameaças que enfrenta esta espécie ameaçada.

O processo de reabilitação no LxCRAS envolveu exames complementares de diagnóstico, terapêutica farmacológica, uma dieta adequada, avaliações biológicas e comportamentais. Sendo uma espécie muito sensível, foi também imprescindível assegurar a máxima tranquilidade e reduzir a manipulação ao indispensável.

Pode atingir 2,20 metros de envergadura, 85 centímetros de comprimento e entre 2,5 e 5kg de peso

Os exames realizados evidenciaram a ausência de fraturas ou lesões traumáticas. No entanto, as análises sanguíneas mostraram alguns sinais compatíveis com intoxicação por chumbo ou outro contaminante que poderia ter causado a morte desta ave se não tivesse sido resgatada atempadamente. Os meios cinotécnicos do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (GNR) foram acionados, mas não encontraram evidências de veneno na área investigada.

Depois de um período sob tratamento e vigilância clínica, conseguiu estabilizar e foi alojada no túnel de voo do LxCRAS, com a dimensão adequada a esta grande águia, que pode atingir 2,20 metros de envergadura, 85 centímetros de comprimento e entre 2,5 e 5kg de peso. Neste local, pôde exercitar-se e alimentar-se tranquilamente, recuperando gradualmente a condição física, a capacidade de voo e o ânimo.

Águia voa com um emissor com tecnologia LoRaWAN

De forma a continuar a seguir-lhe o rasto, esta águia foi já equipada pelo ICNF com um emissor com tecnologia LoRaWAN para que possam ser acompanhados os seus movimentos de dispersão e a adaptação pós-libertação em tempo real e atuar em caso de necessidade.

A águia-imperial-ibérica Aquila adalberti ocorre exclusivamente na Península Ibérica e é uma espécie ameaçada, apresentando o estatuto de conservação de “Criticamente em Perigo”. Sofreu um declínio acentuado até ao desaparecimento da população reprodutora em Portugal entre finais da década de 1970 e inícios da década de 1980 e só em 2003 voltou a nidificar no nosso território. Atualmente, está presente em Portugal sobretudo no Tejo Internacional e no Alentejo, estando muito condicionada à presença de coelho-bravo, a sua presa preferencial. É uma espécie monogâmica, ficando o casal unido para a vida e no mesmo território de nidificação consecutivamente.

O local escolhido para a devolução à natureza é a Serra de Alcaria Ruiva, no concelho de Mértola, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana, integrado na zona de proteção especial (ZPE) do Vale do Guadiana, que tem vindo a consolidar-se como a principal área de ocorrência da espécie em Portugal.