O relatório de mais de 500 páginas foi entregue na segunda-feira ao Ministério Público Federal (MPF) brasileiro pela Universidade Politécnica de Catalunha (UPC), em Espanha, que concluiu que a rutura ocorreu devido ao fenómeno de liquefação, ligado diretamente ao comportamento frágil não drenado do solo, causado por um “evento adicional”: uma perfuração que estava a ser feita no momento da rutura.
Através do Centro Internacional de Métodos Numéricos em Engenharia (CIMNE), a UPC entregou o relatório final dos serviços de análise, modelagem e simulação computacional para determinar objetivamente as causas prováveis ou determinantes da rutura da barragem na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, no Estado de Minas Gerais, em janeiro de 2019.
“É incontroverso que o rompimento da barragem envolveu o fenómeno do fluxo por liquefação. A liquefação é um processo associado ao aumento da poropressão, pelo qual a resistência ao cisalhamento é reduzida à medida que a tensão efetiva no solo se aproxima de zero. Apenas materiais contráteis estão sujeitos à liquefação. A liquefação está intrinsecamente relacionada ao comportamento frágil não drenado do solo”, diz o relatório.
Para chegar a essas conclusões, o CIMNE realizou diversas simulações: foi desenvolvido um modelo numérico o mais próximo possível da realidade e as informações disponíveis da barragem foram examinadas criticamente, incluindo a história da construção da barragem, registos pluviométricos (com extensão de mais de 40 anos) e movimentações de superfície da barragem nos anos imediatamente anteriores à rutura.
O relatório, encomendado pelo MPF e pago pela Vale, aponta que “a maioria dos rejeitos da barragem eram fofos, contráteis, saturados e mal drenados e, portanto, altamente suscetíveis à liquefação”.
O documento também deu atenção especial às operações realizadas no ano anterior ao rompimento pela empresa Vale, proprietária da barragem, que envolveram perfuração horizontal para instalação de drenos e perfuração de furos verticais, segundo o MPF do Brasil.
O relatório cita “ainda o grave incidente ocorrido durante a instalação de um dreno, em junho de 2018, que resultou em vazamentos visíveis de lama em vários pontos da barragem, mas que foram contidos”, indicou o MPF.
“O conjunto de análises numéricas realizadas permite concluir que a perfuração do furo (…) é um potencial gatilho da liquefação que ocasionou o rompimento da barragem. As análises realizadas não foram capazes de identificar outros gatilhos de liquefação”, concluiu a Universidade.
Em 25 de janeiro de 2019, o município de Brumadinho, em Minais Gerais, ficou parcialmente destruído por um mar de lama e resíduos, após a rutura de uma barragem de mineração da empresa brasileira Vale.
Além da gigantesca destruição de vegetação nativa, equivalente a cerca de 186 campos de futebol, o colapso da barragem causou a morte de 260 pessoas, sendo que os corpos de outras 10 continuam desaparecidos, dados como mortos pelas autoridades.
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