Segundo o estudo a solução para o problema da alimentação passa por uma agricultura urbana sustentável, e também mais nutritiva se forem usadas as sementes tradicionais.

O estudo usou dois tipos de milho, um tradicional, cujos grãos podem ser usados para nova sementeira, e um híbrido, de elevada produção mas não reproduzível.

O que os investigadores da FCUL fizeram foi testar os dois tipos de milho utilizando apenas fertilizantes orgânicos obtidos através da compostagem de resíduos alimentares e resíduos verdes.

“A surpresa da investigação foi que o milho de polinização aberta (tradicional) atingiu rendimentos quase semelhantes ao do milho híbrido. E o milho tradicional era muito mais nutritivo. Essa foi a grande surpresa da investigação”, disse à Lusa Florian Ulm, primeiro autor do estudo.

O estudo prova, sintetizou, que se pode produzir no meio da cidade, seja em terrenos seja em varandas ou terraços, culturas agrícolas como o milho, o feijão ou a abóbora, com um nível nutricional adequado e utilizando pouco mais que desperdício alimentar.

Com base nos resultados, Florian Ulm aconselha as pessoas que vivem nas cidades, quando têm espaço, a plantar e usar variedades tradicionais, porque assim podem guardar e utilizar posteriormente as sementes, além de que o resultado final é mais positivo, com um produto mais resistente às alterações climáticas e mais nutritivo, ainda que possa ser menos rentável.

“O milho híbrido é muito utilizado por permitir uma elevada produção. No entanto os nossos resultados demonstram que podemos obter densidades de nutrientes muito mais elevadas nos grãos de milho se utilizarmos variedades de polinização aberta, como o pata-de-porco multicolorido”, explica Florian Ulm num comunicado divulgado hoje pela Universidade.

Ainda segundo o documento, ao contrário da variedade comercial, os grãos de milho da variedade não comercial “exibiram uma maior concentração de micronutrientes e uma menor acumulação de metais pesados, independentemente do tipo de tratamento do solo”.

Os responsáveis pelo estudo explicam no comunicado que a menor concentração de metais pesados é importante numa agricultura urbana, onde a poluição atmosférica é muito elevada.

Florian disse à Lusa que o rendimento foi o “ponto fulcral” das últimas décadas mas o estudo mostra agora que “mais rendimento não é necessariamente mais nutrientes”.

Numa área pequena, asseverou, pode produzir-se comida numa quantidade razoável.

Atualmente, 55% da população mundial vive em áreas urbanas. Segundo as Nações Unidas este valor deverá aumentar para 68% até 2050.