O trabalho "Population genomics of the Viking world", que podemos traduzir para "O genoma da população do mundo Viking", foi agora publicado e vem desmistificar ideias que existem sobre este povo.

Quando imagina um Viking é provável que pense nele de cabelo loiro. Este estudo revela que, na verdade, muitos deles tinham cabelos castanhos e não apenas loiros.

Também temos a ideia de que os Vikings eram um povo de pilhadores e piratas, mas o objetivo que tinham ao se deslocarem era o comércio: a venda de peles, bolotas e gordura de foca, por exemplo.

A equipa internacional de cientistas, da qual o geneticista português Rui Martiniano faz parte, sequenciou o genoma antigo de 442 humanos de locais arqueológicos por toda a Europa e Gronelândia, durante seis anos, para entender a influência que a expansão Viking teve no mundo.

Este estudo é já considerado um dos maiores estudos de ADN antigo até à data e o maior sobre o ADN Viking.

"Descobrimos que o período Viking envolveu fluxo genético para a Escandinávia do sul e de este", escrevem no estudo publicado na revista científica Nature. Mas também confirmaram que a ancestralidade genética Viking não está limitada à Escandinávia.

Os Vikings foram influenciados mas também influenciaram a composição genética de diferentes povos da Europa. Neste novo estudo, observou-se, pela primeira vez, que os Vikings também têm genes vindos da Ásia e do Sul da Europa.

Conseguiu-se ainda seguir as migrações dos Vikings: os da atual Noruega viajaram para a Irlanda, a Escócia, a Islândia e a Gronelândia; os que viviam no território que é hoje a Dinamarca foram para a Inglaterra; e os da agora Suécia seguiram para os países bálticos.

“Não andavam a movimentar-se em bloco e viu-se que não eram uma única população homogénea”, assinala Rui Martiniano, professor de Genética e Evolução Humana na Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, que participou no estudo que tem como autores Ashot Margaryan, Daniel J. Lawson, Martin Sikora e Fernando Racimo.

Ao Público, Rui Martiniano diz que foram usadas para “efeitos comparativos” 14 amostras de genomas portugueses de vários locais do centro e do sul do país sequenciadas em 2017 e pertencentes ao Neolítico e à Idade do Bronze. “Não houve nenhum achado particularmente relevante acerca de Portugal”, informa.

“Na sua maioria, os Vikings são geneticamente europeus, mas ao examinar-se os genomas antigos com técnicas refinadas observou-se uma estrutura genética diversificada, sendo possível diferenciar vários subgrupos de Vikings que hoje têm afinidades com as populações presentes dos sítios onde foram sepultados”, explica Rui Martiniano.

Assim, é possível pensar que cada um de nós, pelo mundo, tem um pouco de Viking. Os indivíduos da Noruega têm entre 12% e 25% de ancestralidade dos Vikings; na Suécia, 10%. Fora da Escandinávia é mais baixa: na Polónia é de 5% e em Inglaterra de 6%. E quanto à Península Ibérica? Rui Martiniano diz ao Público que a resposta ainda está por vir.