“Nada durante ou após a principal operação de repressão em Tigray pode ser identificado ou definido, por quaisquer padrões, como limpeza étnica intencional contra alguém”, declarou o Ministério das Relações Externas da Etiópia em comunicado, citado pela agência noticiosa EFE.

O governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed rejeitou assim a recente posição pública do Secretário de Estado norte-americano, Antony J. Blinken, que intervindo, na quarta-feira, no Comité de Relações Exteriores do Congresso dos EUA, aludiu expressamente a atos de limpeza étnica cometidos em Tigray, ao analisar o conflito e pedindo a retirada das tropas.

“As alegações e acusações diretas de limpeza étnica em Tigray feitas por Antony J.Blinken durante sua declaração perante o Comité de Relações Exteriores do Congresso norte-americano são um veredicto falso e espúrio contra o governo da Etiópia”, indica o comunicado governamentall etíope.

O governo de Addis Abeba acusa aquele responsável norte-americano de “exagero” e sublinha que o governo etíope se manifestou “inequivocamente” a favor de uma investigação completa sobre as alegadas atrocidades ocorridas em Tigray, que envolvem não apenas a Etiópia, mas também a vizinha Eritreia.

Apesar da “resposta veemente” contida no comunicado, a Etiópia enfatizou na mesma nota a intenção de manter “relações bilaterais importantes” com os Estados Unidos e de continuar a trabalhar com a administração do Presidente Joe Biden nos próximos anos.

Contudo, as críticas e reclamações internacionais sobre a situação em Tigray não param de crescer, tendo na semana passada as Nações Unidas revelado que recolheu e analisou informações que evidenciam que crimes de guerra e crimes contra a humanidade estão a ser cometidos em Tigray.

Os autores de tais crimes de guerra seriam, por um lado, as forças armadas etíopes, mas também a Frente de Libertação do Povo Tigray (FLPT), as forças da Eritreia (país fronteiriço), bem como os combatentes da vizinha região de Amhara e milícias relacionadas que apoiam o governo.

Nos últimos meses, acusações semelhantes já haviam sido denunciadas por organizações de direitos humanos como a `Human Rights Watch (HRW)´ e a Amnistia Internacional (AI), que divulgaram relatórios sobre homicídios e violações de mulheres naquela área flagelada.

O conflito em Tigray eclodiu em 04 de novembro último depois de o governo central atacar a FPLT, em retaliação a um ataque das forças Tigray a uma base do exército etíope instalado naquele território.

Em 28 de novembro, após a tomada da cidade de Mekele, o governo liderado por Abiy Ahmed (que foi Prémio Nobel da Paz em 2019) anunciou o fim da ofensiva armada, mas as hostilidades continuam e a situação dos civis é precária, uma vez que não podem receber ajuda humanitária.

O governo etíope mantém Tigray isolado e, até agora, rejeitou apelos da ONU e de muitos países para que permitisse a entrada de pessoal humanitário e especialistas que pudessem verificar o que está a acontecer com uma população local, estimada em cerca de cinco milhões de pessoas.