Lisboa

Milhares de jovens concentraram-se hoje na praça Marquês do Pombal, em Lisboa, para participar na greve climática estudantil que se realiza em mais de cem países.

O protesto em Lisboa é realizado por pessoas de todas as idades: estudantes do ensino básico ao superior, crianças acompanhadas pelos pais e adultos e tem como destino a Assembleia da República.

Muitos participaram na primeira greve estudantil pelo clima em Portugal realizada a 15 de março, mas também há quem seja novo nestas andanças como as alunas Inês e Margarida da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Lurdes e Beatriz, alunas do 6º ano da escola Filipa de Lencastre em Lisboa.

"Eu não quero lixo, quero 'bollycaos' embrulhados em sacos de papel" e "the planet is getting hotter than Leonardo di Caprio" (o planeta está a ficar mais quente do que Leonardo di Caprio) são duas das mensagens que as alunas de 11 e 12 anos trazem em cartazes.

"É nossa responsabilidade estar aqui porque também somos nós que temos de mudar o planeta, porque é nele que vamos viver no futuro", disse à Lusa Beatriz, que chegou de metro com as colegas da escola.

Já Penélope, de 5 anos, apareceu com o seu pai, Gonçalo Carvalho, que hoje participa na greve climática "para defender o futuro das crianças que está em jogo", saudando o protesto e considerando que veio mostrar que a questão ambiental é um problema de toda a sociedade e não apenas de um grupo restrito de cientistas.

Maria Eugenia Tiago, de 72 anos, destacou-se no meio da multidão graças ao seu grande cartaz onde se lia “quero deixas às minhas netas um planeta limpo e saudável”.

Acompanhada pela neta Ana Catarina Tiago, Maria Eugenia contou à Lusa que faz questão de participar nestes protestos tendo também estado presente na primeira edição que se realizou a 15 de março.

“Os jovens estão a acordar, se continuarmos assim acredito piamente que isto vai mudar”, disse Maria Eugénia aplaudindo a “fantástica” participação dos mais novos. Ao seu lado, a neta contou à Lusa que foi a avó que a “ensinou em primeiro lugar a proteger o planeta”. Em época de testes, a aluna do 11.º ano optou por faltar às aulas: “Acho mais importante para o meu futuro vir para aqui do que ir um dia às aulas”.

Inspirada na música dos Queen, Ana Catarina trouxe para o protesto de hoje um cartaz dizendo “I want to break free from plastic”.

A imaginação não tem limites nos cartazes que hoje são exibidos nas ruas de Lisboa.

 “Assim nem as vacas dos Açores são felizes”, “Unicórnios não são reais, mas as alterações climáticas são”, “Em vez de poluir começa a contribuir” ou “eat the rich” são algumas das mensagens escritas à mão pelos adolescentes de todas as idades.

Também as crianças têm uma voz neste protesto.

“Salvem os peixinhos do plástico” e “carrego um vergonhoso legado ambiental”, são alguns dos ‘slogans’ transportados pelos mais novos.

Vasco, de 8 anos, é uma das crianças que hoje participa na marcha juntamente com as três irmãs Francisca, de 6 anos, Vera, de 5 anos, e Camila, de 2 anos, que trouxeram a mãe para protesto.

“Quero melhorar o meu planeta”, disse à Lusa Vasco, que afirma ter vindo para rua para lutar contra o uso do plástico.

Em declarações à Lusa, a mãe destas quatro crianças também disse não estar “muito preocupada” com o futuro tendo em conta “a onda de sensibilização para o problema da crise climática”.

A crise ambiental é um dos temas que é abordado com os alunos da Cooperativa A Torre, uma escola onde pais e professores se mobilizaram para participar no protesto.

Mariana Mota e Rimaly Silva, alunas do 6.º ano contaram à Lusa que na Torre passaram a ter um projeto que se chama sextas-feiras sem plástico, dando como exemplo os lanches que passaram a vir de casa em sacos de pano.

Mas as manifestações não acontecem só em Lisboa, com estudantes mobilizados em várias outras zonas do país.

Coimbra

Em Coimbra, o ministro do Ambiente e Transição Energética, José Pedro Matos Fernandes, foi hoje recebido por um protesto de cerca de uma dúzia de pessoas, a maioria jovens, que apelaram para ao combate às alterações climáticas.

Antes de entrar no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra para participar num congresso, José Pedro Matos Fernandes tinha à sua espera cerca de uma dúzia de pessoas que se deitaram no chão, à entrada, segurando também cartazes onde podia ler: "O ar que respiras é mais valioso que o petróleo que extrais" e "A hora do planeta são todas as horas".

Confrontado pelos jornalistas, o ministro afirmou que "esta é a mais justa das lutas" e "das causas". O ministro vincou que as alterações climáticas não podem ser vistas apenas como uma questão das gerações futuras, mas como "uma questão desta geração e sobretudo é uma questão que esta geração tem que resolver certamente a pensar nas gerações futuras, mas também a pensar nesta geração".

Pouco depois de conseguir entrar no Auditório da Reitoria, ouviram-se algumas pessoas a gritar "Emergência climática" e "Emergência climática já".

José Pedro Matos Fernandes salientou que Portugal foi "o primeiro país do mundo que afirmou que ia ser neutro em carbono em 2050" e um dos países com as "políticas mais avançadas" nesta área.

Aquando do seu discurso no 2.º Congresso "Adaptação às Alterações Climáticas da Região de Coimbra", o membro do Governo voltou a frisar a ideia de que Portugal é dos países mais comprometidos pelo combate às alterações climáticas.

José Pedro Matos Fernandes chamou ainda a atenção que alguns dos países que declararam emergência climática "são certamente aqueles que têm má consciência". País com "mais ambição que Portugal tem [nesta área] não conheço no mundo", frisou.

Viseu

Já em Viseu, conscientes de que não há um “planeta B”, cerca de 500 alunos fizeram hoje greve às aulas e juntaram-se no Rossio, em frente à Câmara Municipal, para exigirem medidas que resolvam a crise climática.

“O objetivo é sensibilizar os governadores do nosso país, que não está a ir no bom caminho nesta questão do clima”, disse à agência Lusa Ana Maia, de 18 anos, aluna da Escola Secundária Alves Martins e uma das organizadoras da manifestação.

“Não há planeta B” e “O ambiente não tem preço, eu quero o que mereço” foram alguns dos “gritos de guerra” entoados pelos jovens.

Nas mãos, as inscrições dos cartazes evidenciavam não só algumas críticas, como “Capitalismo polui” e “Salvem o clima, não os bancos”, mas também alguns conselhos, como “A tua cosmética tem microplásticos” e “Salvar a água que ainda temos”.

Mariana Marques, aluna do 9.º ano da escola de Lajeosa do Dão, no concelho de Tondela, abanava um cartaz com a inscrição “A terra esgotou a sua paciência e nós também”. “O estado da Terra está a ficar crítico e não é o futuro dos mais velhos que está a ser posto em causa, mas sim o nosso. Temos de fazer alguma coisa, finalmente”, frisou.

Na sua turma, já há a preocupação de, por exemplo, levar para a escola garrafas que possam ser enchidas com água, evitando que tanto plástico vá diariamente parar aos caixotes do lixo.

“No verão, quando tivermos mais disponibilidade, vamos tentar apanhar lixo. E reciclamos e tentamos por as pessoas da nossa escola a reciclar”, afirmou Mariana Marques.

Leandro Figueiredo, de 17 anos e aluno da Escola Profissional de Torredeita, envergava um cartaz com um “SOS”. “O planeta está a precisar de ajuda e nós temos de o ajudar”, justificou. Na sua opinião, os jovens da sua escola demonstram alguma sensibilidade para o tema das alterações climáticas, mas “ainda há muito caminho a fazer”. “Deitamos sempre o lixo no sítio certo e tentamos reduzir o domínio do papel na escola. Mas há que ter gosto de fazer estas coisas”, defendeu.

Entre os participantes da manifestação, destacavam-se alunos do quarto ano da Escola da Ribeira, com os seus bonés azuis e cor de laranja.

“Trata-se da luta mais importante da atualidade para o futuro deles. É um assunto urgente, premente, e não podiam deixar de estar aqui”, disse à Lusa Helena Marques, professora bibliotecária do Agrupamento de Escolas Grão Vasco. Segundo Helena Marques, estes alunos têm estado envolvidos em vários projetos sobre a proteção da biodiversidade e do Rio Pavia e trabalham com materiais de desperdício. “Estão muito dentro da temática, não estão aqui só a fazer número”, garantiu.

Ana Maia referiu que “foi fácil mobilizar os jovens” para a luta de hoje, com a ajuda das redes sociais. “Não notámos tanto o apoio dos professores, foi mais dos pais. Mas notámos uma grande força de vontade dos alunos em participar”, sublinhou.

Setúbal

Cerca de duas centenas e meia de alunos de diversas escolas desfilaram hoje entre o largo José Afonso e a praça do Bocage, em Setúbal, para exigir ao Governo "que dê prioridade à resolução da crise climática".

"Queremos sensibilizar o Governo para fazer da resolução da crise climática uma prioridade e para que decrete o estado de emergência climática", disse à agência Lusa a jovem Margarida Marques, da organização desta ação de protesto estudantil em defesa do ambiente.

"Decidimos juntar-nos ao movimento mundial iniciado o ano passado pela jovem sueca Greta Thunberg, para exigirmos ao Governo que seja declarado o estado de emergência climática, a exemplo do que já fizeram alguns países europeus, como a Irlanda e o Reino Unido", corroborou Ricardo Nascimento, de 18 anos, aluno da Escola Secundária da Baixa da Banheira.

Na ação de protesto que decorreu em Setúbal estiveram envolvidos alunos de diversas escolas do ensino básico e secundário dos concelhos de Palmela, Moita e Setúbal, mas, segundo a organização, muitos outros alunos que também gostariam de ter participado não o puderem fazer porque tinham testes marcados ou porque não tiveram abertura para o fazerem por parte de alguns professores.

Solidária com o protesto, a vereadora do Ambiente da Câmara de Setúbal, Carla Guerreiro, que se juntou à concentração final em frente aos Paços do Concelho, na Praça do Bocage, defendeu a necessidade de uma consciencialização de todos para o problema das alterações climáticas.

"Toda a gente tem de estar solidária com este protesto dos nossos jovens, á semelhança do que está a acontecer hoje no mundo inteiro. Para quem, às vezes, diz que os jovens não têm iniciativa nem projetos, está aqui uma iniciativa muito interessante, porque a verdade é que não há ‘planeta `B´", disse à agência Lusa Carla Guerreiro.

"Mais do que ser declarado o estado de emergência climática, tem que haver, em todos nós, uma verdadeira consciência dos problemas que atravessamos em relação às alterações climáticas. Estes jovens que estão aqui parece-me que têm essa consciência, mas há muitas pessoas que ainda não a têm. E se as pessoas não sentirem isso [a necessidade de uma reposta ao problema das alterações climáticas] como uma necessidade, não é uma declaração [do estado de emergência climática] que as vai fazer mudar", acrescentou a vereadora do Ambiente na Câmara de Setúbal.

Covilhã

Duas centenas de jovens da Universidade da Beira Interior (UBI) e das escolas secundárias da Covilhã vestiram-se hoje de negro em sinal de luto pelo planeta e marcharam em silêncio para exigir soluções para as questões climáticas.

"A gritar ninguém nos ouve. Vamos em silêncio para nos fazermos notar. Tem mais impacto o silêncio, se não ninguém nos ouve", explicou à agência Lusa, Daniel Pais, estudante da UBI e responsável pelo Movimento Académico de Proteção Ambiental da UBI (MAPA).

Os cerca de 200 estudantes partiram da porta principal da UBI e percorreram várias artérias da cidade da Covilhã, distrito de Castelo Branco, em silêncio, empunhando apenas cartazes onde se podia ler, "Ignorância Mata", "O tempo de agir é agora" ou "Desculpem estamos só a tentar salvar o planeta".

Pelo caminho, até à porta da Câmara da Covilhã, alguns jovens foram recolhendo lixo que encontraram espalhado pelo percurso que posteriormente depositaram em frente do município, para alertar para "alguma ineficiência" dos serviços camarários.

"Se levamos o lixo que recolhemos é porque não está a ser bem feito o trabalho que compete à câmara", afirmou.

Já concentrados em frente à sede do município, fizeram 12 minutos em total silêncio.

Daniel Pais explicou que os 12 minutos quiseram representar, simbolicamente, os 12 anos que a comunidade científica dá como o tempo ainda possível para reverter a situação que o planeta vive em termos climáticos.

"Mais uma vez queremos reivindicar a ação dos governantes perante as preocupações ambientais. A greve não é um fim em si mesma. É um meio, apenas uma das atividades que podemos fazer. Serve ainda como apelo à ação individual de cada um dos participantes. Queremos que levem esta consciência para dentro das suas casas", concluiu.

Os jovens lamentaram ainda que à porta de umas eleições europeias em que muitos deles vão votar pela primeira vez, as questões climáticas quase não tenham sido abordadas pelos diversos partidos políticos.

Braga

Em Braga, cerca de 250 estudantes que entre ‘slogans' ambientais e uma volta pela cidade lamentaram o "aproveitamento político" da manifestação.

"Destacámo-nos de qualquer partido, não aceitámos qualquer contribuição, não apoiámos qualquer tipo de partido. Eles estão a tentar beneficiar da associação com este ambiente jovem, esta é uma ‘manif' pacífica e não podemos condenar a liberdade de expressão de ninguém, mas é óbvio que não apoiamos mas também não podemos proibir", explicou à Lusa um dos organizadores da manifestação, Bernardo Almeida.

Embora descontentes com as bandeiras políticas do Movimento Alternativa Socialista (MAS), o grupo fez por se ouvir e por mais de duas horas passou mensagens ambientais a lembrar que "esta é a última geração a poder salvar o planeta".

"O dinheiro não compra ar puro", "Unidos podemos voltar a tornar a Terra Verde", "Abre os olhos enquanto a poluição de deixa", foram algumas das mensagens repetidas e escritas em vários cartazes.

"Juntamos aqui diversos estudantes de várias escolas de Braga. Todos sabemos que vamos ter faltas injustificadas, mas o nosso futuro justifica-as por si", disse Bernardo Almeida, que não deixou de criticar os diretores das escolas pela opção de não justificar as faltas aos participantes.

Depois de passarem a mensagem, de forma ruidosa, alegre e até divertida, o grupo desfilou até à Câmara Municipal de Braga, onde gostava de ter sido ouvido pelo presidente da autarquia, que justificou a falta por estar ausente do país.

"É uma pena. Gostávamos que nos ouvisse porque algumas destas coisas também passam por medidas autárquicas, de proximidade", lamentou à Lusa Catarina dos Santos, também ela ligada à organização.

Porto

Passavam poucos minutos das 11:00 quando mais de mil estudantes abandonaram a praça da República, no Porto, e munidos de megafones, bandeiras e cartazes deram início à manifestação que, pelas ruas da cidade, "gritou" a favor da defesa do planeta.

"Há medidas a tomar e o governo anda a brincar" e "A nossa a luta é todo o dia, pela água, clima e energia", foram alguns dos apelos que os estudantes, não só de escolas da cidade do Porto, mas também de cidades vizinhas, foram fazendo ao longo de todo o percurso.

"A juventude continuará a levantar-se sempre que houver injustiças e sempre que for confrontada com problemas que dizem respeito a si mesmos. Estamos a falar do futuro do planeta", disse, em declarações à Lusa, Francisco Araújo, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e um dos estudantes que esteve envolvido na organização da greve.

Se para muitos dos estudantes, esta foi a primeira vez que se "levantaram a favor da mudança", para outros "esta luta não é novidade", como foi o caso de Ana Sampaio, aluna da Escola Secundária José Régio, em Vila do Conde, que voltou a aderir à greve.

"Esta é uma causa que tem de ser defendida por todos os jovens do país, visto que os adultos não conseguem tomar decisões certas", frisou a jovem de 17 anos, alertando que "fazer reciclagem já não é suficiente".

"Já não é só a nós que cabe a mudança no dia-a-dia. Já que as eleições europeias estão próximas, pedimos ao governo e aos partidos que se vão candidatar para também defenderem propostas que estão de acordo com aquilo que deve ser o certo", referiu.

Durante a greve, discursos, cânticos e cartazes como "Faltei à aula de história, para fazer história" e "Quando é que deixou de ser prioritário sobreviver?" apelavam para mudança e tomada de consciência dos decisores políticos.

Além de estudantes, foram também vários os pais e educadores que decidiram trazer os "mais novos" a participar na greve climática, como Filomena Moura, que se fez acompanhar dos dois seus filhos, de 5 e 10 anos.

"É importante eles perceberem desde pequenos que podem fazer a mudança e que podem fazer parte da solução", afirmou, em declarações à Lusa, adiantando que já em "casa têm a preocupação" de os sensibilizar para as questões relacionadas com o ambiente.

"Este protesto dá-nos esperança, há mais consciência daquela que a minha geração teve, maior vontade de mudar. Estou na casa dos quarenta e para nós é um grande alento perceber que isto está assim", frisou.

Também a educadora Rita, responsável pelo espaço de apoio educativo 'Brincar para crescer' se fez acompanhar de 22 crianças, entre os 2 e 5 anos, e à Lusa, admitiu "ter pena" que mais educadores não viessem para “a rua” acompanhar os jovens.

Sines

Centenas de estudantes do litoral alentejano manifestaram-se hoje em Sines (Setúbal), “um concelho muito poluidor” e com “muitas fábricas”, para defenderem o planeta, alertando que as alterações climáticas são “um problema atual, não do futuro”.

“Temos a Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento defendemos, e muitas outras fábricas”, como as “da Repsol ou da Galp”, disse à agência Lusa Duarte Colaço, um dos porta-vozes da manifestação em defesa do planeta.

Segundo este aluno, que frequenta o 11.º ano da Escola Secundária Poeta Al Berto, de Sines, trata-se, pois, de “um concelho muito poluidor” e, “de manhã e à noite”, isso nota-se: “Cheira mesmo muito mal, a enxofre e a gases tóxicos, o que não é muito agradável”.

“E temos muita libertação de fumos das fábricas, o que é muito poluente e muito mau para o ambiente”, acrescentou o aluno.

Em dia de greve climática estudantil, a manifestação em Sines começou por volta das 10:30, com uma concentração no Jardim das Descobertas, desfilando depois os alunos por diversas ruas da cidade até chegarem ao edifício da Câmara Municipal, cerca das 12:00, onde continuaram a protestar em defesa do ambiente e do futuro do planeta.

Fonte da GNR de Sines disse à agência Lusa que, no início, a manifestação chegou a juntar “cerca de 400” pessoas, mas, no final do desfile, junto ao município, concentraram-se “perto de 200”.

Duarte Colaço confirmou que, em frente a câmara estiveram “cerca de 200 estudantes”, porque “os alunos mais novos, por exemplo de escolas primárias, não participaram no desfile pelas ruas”.

O protesto juntou estudantes de várias escolas de Sines, como as duas secundárias e uma básica, da escola Tecnológica do Litoral Alentejano, também no mesmo concelho, das escolas secundárias de Santiago do Cacém e Santo André e de escolas do concelho de Odemira (Beja).

Com diversos participantes vestidos de preto, para simbolizar “o luto pelo planeta”, de acordo com Duarte Colaço, gritaram-se palavras de ordem como “Não há Planeta B” ou “Senhor presidente porque deixa esta bela cidade ter uma fábrica tão poluente”, numa mensagem dirigida ao autarca de Sines.

Outros empunhavam cartazes que diziam “You Will die of old age, I will die of climate change” (“Tu vais morrer de velhice, eu vou morrer por causa das alterações climáticas”), “Oh mar quanto do teu sal é plástico de Portugal” e “Pequenas mudanças, grandes Repercussões”.

“Os governos não se têm preocupado com o clima e os jovens é que vão revolucionar isto tudo. Nós temos mesmo de agir, somos o futuro e temos voz e poder para falar perante muitas pessoas e temos que ser ouvidos”, reivindicou Duarte Colaço.

Outra aluna da mesma escola de Sines, mas do 10.º ano, Mafalda Carreira, insistiu à Lusa que “é importante” os jovens mostrarem “aos líderes políticos que não estão satisfeitos com o estado atual do planeta” e que “este é um problema atual, não é um problema do futuro. As mudanças têm de acontecer agora”.

Évora

Cerca de 200 jovens e crianças de Évora participaram hoje numa marcha lenta pelas ruas da cidade, com cartazes e palavras de ordem, exigindo uma mudança de políticas em defesa do planeta.

A iniciativa arrancou com uma concentração na praça do Giraldo, considerada a sala de visita de Évora, e contou com a participação de cerca de duas centenas de jovens e crianças, segundo uma estimativa da PSP feita no local.

Pouco depois do início da concentração, Linda Assunção, com um megafone na mão, subiu para um banco da praça e leu o manifesto da greve climática estudantil, tendo outros participantes também usado da palavra para entoar 'slogans'.

"Não há planeta b", "somos natureza em autodefesa", "Governo escuta, os jovens estão em luta, planeta amigo os jovens estão contigo" e "oh senhor ministro explique por favor porque é que no inverno ainda faz calor" foram algumas das palavras de ordem.

Os participantes, incluindo crianças do pré-escolar acompanhadas por educadoras, empunhavam cartazes que tinham frases como "Mudem a política não o clima", "o planeta está a morrer e os políticos só a ver" e "pum de vaca = gás metano, vamos comer vegetais".

Linda Assunção afirmou à agência Lusa que o Governo "não se manifestou" sobre a anterior greve climática, realizada em março, assinalando que os jovens "voltam a unir-se para mostrar que não estão esquecidos e que não vão desistir desta causa".

"Somos nós que vamos sofrer no futuro as consequências", alertou, referindo que, apesar de não terem voz "devido à idade e por a maior parte ainda não poder votar", os jovens querem mostrar que "não se calam até que haja alguma mudança".

Madalena Batanete e Inês Malhado, ambas da Escola Secundária Gabriel Pereira, defenderam, também em declarações à Lusa, uma mudança de políticas e advertiram que "já não há muito tempo" para o fazer.

"O nosso ministro do Ambiente diz que faz muito em defesa do planeta e até acho que fez, mas ainda falta fazer muita coisa. Temos de apostar nisso e só com esta pressão é que se calhar vão fazer mais alguma coisa", acrescentou Inês.

Os manifestantes desfilaram depois por algumas das principais ruas da cidade, culminando o protesto na praça do Sertório, junto aos Paços do Concelho.

Protesto de hoje entre maiores manifestações de sempre pelo ambiente em Portugal, diz Zero

O ativista e dirigente da Zero Francisco Ferreira considerou hoje que os protesto dos estudantes em greve climática estão entre “as maiores manifestações por uma causa ambiental de sempre em Portugal”.

Falando à agência Lusa entre milhares de jovens que se deslocaram da rotunda do Marquês de Pombal para a Assembleia da República, em Lisboa, o presidente da associação Zero afirmou que a dois dias das eleições europeias é “absolutamente fundamental” por na agenda dos políticos o clima, “de que se ouviu pouco falar durante a campanha eleitoral”.

Francisco Ferreira defendeu que é preciso “garantir que em Portugal se trabalhe para uma lei do clima” e que na União Europeia se aumentem os níveis de ambição, antecipando a meta da neutralidade carbónica para 2040, em vez de 2050, como apontam a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e o governo português.

A Zero marcou presença na manifestação sem faixas nem cartazes “para não tirar o protagonismo” aos estudantes que compõem o grosso da manifestação.

O ambientalista considerou que o movimento da juventude pelo clima “veio para ficar de forma credível” e interpela cada cidadão e cada decisor para “a importância desta emergência climática”.

O dirigente da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves Domingues Leitão, que, com outros ativistas seguia na cauda da manifestação, disse à Lusa que este movimento é “uma lufada de ar fresco e uma grande esperança”, porque se vê “gente tão nova mobilizada pelo futuro”.

Domingues Leitão destacou que estas preocupações ambientais têm de se refletir no voto nas eleições europeias do próximo domingo, caso contrário “não faz sentido”.

“Além de vir criticar para as ruas, o mais importante é exigir nas urnas”, porque depois das eleições “os eleitos têm de fazer alguma coisa do que prometeram”, frisou.

Milhares de jovens de mais de uma centena de países, incluindo meia centena de localidades de Portugal, fazem hoje greve às aulas para protestar contra a inação dos governos em relação às alterações climáticas.

O protesto, o segundo deste ano, serve para alertar os governos para a necessidade de tomarem medidas concretas para se limitarem a emissão de gases com efeito de estufa, que, segundo os cientistas de todo o mundo, estão a provocar alterações drásticas, graves e rápidas no clima da Terra.

Depois de uma greve idêntica a 15 de março passado, a de hoje tem o apoio dos adultos, professores, organizações ambientalistas e cidadãos anónimos.

Estão previstas ações dos jovens em mais de 1.600 cidades de 119 países e em Portugal devem realizar-se manifestações em pelo menos 48 locais, por todo o país.

A greve climática estudantil é inspirada na sueca Greta Thunberg, 16 anos, que no ano passado iniciou um boicote às aulas para exigir do parlamento da Suécia ações urgentes para travar as alterações climáticos, um protesto que rapidamente se replicou por todo o mundo.

(Notícia atualizada às 14h56)