“Estamos realmente preocupados com o amanhã [sábado]”, disse um alto responsável norte-americano. “Será um verdadeiro teste às intenções dos militares”, acrescentou.
“O povo sudanês prepara-se para ir para as ruas amanhã [sábado] para protestar contra a tomada do poder pelos militares, e apelamos às forças de segurança para não usarem a violência contra os manifestantes e respeitarem plenamente o direito dos seus concidadãos a manifestarem-se pacificamente”, afirmou a fonte oficial.
Segundo a mesma fonte, “20 a 30 pessoas” foram mortas na sequência da repressão pelo Exército desde o golpe de Estado de segunda-feira, que derrubou o governo.
Fontes médicas disseram que pelo menos oito manifestantes foram mortos e mais de 170 ficaram feridos na sequência da violência usada pelas forças de segurança para reprimir os manifestantes, mas sublinharam que o balanço poderia ser mais elevado.
Embora as autoridades tenham cortado a Internet, os manifestantes estão a organizar-se para se reunirem em Cartum e outras cidades do Sudão.
Apesar de os sindicatos e outras associações terem sido dissolvidos, os ativistas continuam a mobilizar-se para a “desobediência civil” e “greve geral”, que já transformaram a capital sudanesa numa cidade morta durante cinco dias.
No sábado, os opositores ao golpe prometem “um milhão” sudaneses nas ruas, apesar do bloqueio da Internet que perturbou a organização do protesto.
“O que é que o Exército vai fazer em resposta a isto, vai tentar impedir a manifestação, reprimir antes mesmo de ela acontecer? Irão fechar estradas, pontes? Se os manifestantes avançarem de qualquer forma, será que o Exército impedirá a realização de manifestações pacíficas?”, questionou o alto responsável norte-americano. “Amanhã vai ser um verdadeiro teste”, reiterou, segundo a agência France-Presse.
Desde segunda-feira, quando o líder militar sudanês Abdel- Fatah al-Burhan desencadeou um golpe de Estado, na sequência do qual foi preso o primeiro-ministro, Abdullah Hamdok, que grupos da oposição têm vindo a lutar contra as forças de segurança para devolver o país a um governo civil, que foi dissolvido.
Islam Omar, um oficial governamental de 35 anos, disse à agência de notícias espanhola Efe que participará nas manifestações de amanhã “para condenar o golpe”, pois, acrescentou: “Desviou os meus sonhos e suspendeu a transição democrática e o governo civil”.
Diferentes grupos da oposição têm vindo a apelar desde o dia 25 para os “filhos da revolução”, referindo-se aos movimentos populares que derrubaram o ditador Omar al-Bashir, que manteve o poder durante três décadas no país até abril de 2019, para saírem às ruas e se manifestarem, mas o apelo de amanhã pode ser diferente.
“Os protestos de amanhã não irão derrubar as autoridades militares, mas mostrarão à comunidade internacional a rejeição popular das medidas tomadas por Al-Bashir”, disse Omar, acrescentando que “a juventude continuará na resistência que será pacífica, mesmo que dure 10 anos”.
Por outro lado, Ibrahim Mustafa, um estudante universitário de 22 anos, disse à Efe que a sua intenção é “mobilizar toda a rua” contra as decisões tomadas por Al-Burhan.
“Conseguimos a nossa liberdade após 30 anos de Al-Bashir e não vamos desistir da nossa liberdade agora”, frisou.
Al-Burhan dissolveu, na segunda-feira, os órgãos criados para o período de transição que teve início após o derrube de Al-Bashir e declarou o estado de emergência em todo o país, mas um dia mais tarde prometeu reintegrá-los.
O golpe ocorreu na sequência de críticas cruzadas entre os militares e os partidos políticos, cuja coexistência no processo de transição foi tensa desde o início, e aumentou a tensão após uma alegada tentativa de golpe há um mês, que o governo atribuiu a “restos” do regime de Al-Bashir “dentro e fora das forças armadas”, algo que enfureceu os militares.
O Sudão assistiu a dias sangrentos de protestos contra o regime de Al-Bashir nos últimos anos, incluindo em 03 de junho de 2019, quando as forças de segurança dispersaram brutalmente uma concentração em massa em Cartum com armas de fogo e gás lacrimogéneo, matando mais de 100 pessoas e ferindo pelo menos 700, de acordo com a organização Amnistia Internacional.
Numa possível reviravolta face aos acontecimentos da semana passada no país africano, Al-Burhan está a considerar o regresso de Hamdok como primeiro-ministro, apesar deste ter sido deposto, disse hoje uma fonte do gabinete militar à Efe, solicitando o anonimato.
Comentários