“Se a China, os EUA e a UE [União Europeia] e os outros grandes intervenientes geopolíticos não entrarem na mesma página, não sei se haverá um caminho a seguir”, diz a professora da Faculdade de Direito da Universidade de Miami especializada em IA e segurança, que participou na segunda-feira numa conferência da Lusa sobre o tema “Inteligência Artificial – Negócios e Democracia”.

“É uma questão significativa porque, e é por isso que é difícil, uma das coisas que me preocupa é a falta de conhecimentos técnicos suficientes nos governos para realmente pensarmos sobre como podemos legislar sobre isto e se a China e os EUA são capazes de juntar-se”, sublinha Marcia Narine Weldone.

Mas para isso, EUA e a China “teriam de primeiro superar a falta de confiança, as guerras comerciais, os boicotes a tal ponto que até mesmo coisas como o TikTok, onde muitos governos, universidades (…) não querem” que os seus colaboradores usem a rede social nos locais de trabalho dado os receios da relação da ByteDance [dona do TikTok] com o Governo chinês, prossegue.

“Da mesma forma, o Governo chinês poderia infiltrar-se, aprender mais sobre nós, aprender mais sobre o que sabemos e gostamos, e depois usar isso para enviar novamente ‘chatbots’, o que, mais uma vez, poderá minar os interesses da democracia”, aponta, ressalvando que estes receios não apenas sobre a China, porque tal pode ser feito por qualquer governo ou indivíduo desonestos, diz.

“Passamos muito tempo a falar sobre ‘é a China, é a Rússia, é o Irão, é a Coreia do Norte'”, mas alguém inteligente “que fosse um programador a desenvolver algo poderia (…) destruir infraestruturas” críticas como de energia, por exemplo, causando problemas de cibersegurança “enormes”.

Com a aceleração do desenvolvimento tecnológico torna-se “mais fácil e rápido” criar um “código destrutivo” e “essas são as coisas que me preocupam”, salienta a professora.

Apesar de manifestar preocupação com a China, Marcia Narine Weldone alerta que é preciso também estar a atento a indivíduos que “não querem ver a democracia avançar” e que querem “causar estragos”, algo que já acontece.

“Imagine agora se tem o poder IA, nem precisa ser um especialista”, sublinha.

“Garanto-lhe que há pessoas em todos os governos que nomeei que querem fazer a coisa certa. É como as armas nucleares”, razão por que “ainda não tivemos uma guerra nuclear até agora”, acrescenta, apontando: “Acho que é aí que estamos”.

Se os países não se unirem e não entrarem “na mesma página”, o jogo acaba, “não temos escolha”, alerta.

Por isso, “o meu conselho aos governos – e é muito fácil para mim dizê-lo sentada aqui em Lisboa – é que tem de ser prioridade”, com isso não se pretende dizer “necessariamente deixar as diferenças comerciais, mas perceber que há um propósito maior”.

Isto porque “estamos a falar do futuro da civilização, se não estivermos todos juntos, então não haverá ninguém, não haverá nada pelo que lutar se não estivermos todos aqui”.

Mas “tenho de ter fé” que há pessoas nestes governos que estão em conversações “que nós não sabemos” porque “todos temos o interesse comum na sobrevivência”, remata Marcia Narine Weldone.