O vídeo de Richard Corcoran visa promover uma campanha para banir as cidades e estados "santuário", assim denominadas porque as autoridades locais não denunciam aos órgãos federais pessoas que desconfiam estar ilegalmente no país.

"A verdade é que não são santuários, são apenas esconderijos para ilegais criminosos", pode ler-se na publicação do presidente da Câmara de Representantes da Florida, Richard Corcoran, que, especula-se nos meios de comunicação social norte-americanos, prepara-se para se candidatar ao cargo de governador, cujas eleições têm lugar em novembro deste ano.

Corcoran acrescenta que o que este vídeo retrata "poderia acontecer com qualquer família, em qualquer lugar". "Sob a minha vigilância, Florida nunca se tornará um estado santuário", assegura.

Washington quer acabar com as chamadas cidades ou estados "santuário", como a Califórnia, por exemplo, onde as autoridades não sinalizam os imigrantes em situação irregular ao governo federal para deportação. A Florida, todavia, não é um estado santuário.

O anúncio está ser condenado por defensores dos direitos humanos, que o consideraram "imprudente" e "degradante".

Mónica Russo, presidente do sindicato de trabalhadores SEIU, classificou o anúncio de 30 segundos como uma "tentativa imprudente de difundir o pânico". "Este vídeo, segundo o qual qualquer um poderia morrer pelas mãos de um imigrante sem documentos não só é enganoso como é extremamente perigoso. Se alguém precisa do ódio e do medo para perseguir os seus próprios interesses, essa pessoa não pode ter um papel de liderança em Tallahassee (capital da Florida)", acrescentou Russo, referindo-se desta forma a uma eventual candidatura de Corcoran.

Entretanto, as organizações de defesa dos imigrantes denunciam um aumento de deportações indiscriminadas na Florida.

"É muito interessante a escolha de atores para o anúncio. A vítima é uma mulher branca, o criminoso é um homem de cabelo escuro, barba ou pelos faciais, de forma a que alguém pode argumentar que estão a tentar criar uma imagem de um latino suspeito", diz Elizabeth Aranda, professora de Sociologia, especializada em imigração. "Estão a usar essa imagem estereotipada neste anúncio, num subúrbio, tentando passar a mensagem de que qualquer pessoa corre risco, mas os dados não mostram isso", salienta, em declarações ao Tampa Bay Times.

Detalha a publicação local Tampa Bay Times que o comité político de Corcoran já gastou mais de 95 mil dólares (cerca de 76 mil euros) para o anúncio de 30 segundos passar mais de 700 vezes nos canais da Fox News esta semana, nas cidades do norte e centro do estado da Florida, entre as quais Jacksonville, Pensacola, Orlando e Tampa.

No anúncio, explica o jornal, Cocoran evoca o caso de Kate Steinle, de 32 anos, alegadamente assassinada por um imigrante indocumentado em São Francisco, em julho de 2015. O acusado, Jose Ines Garcia Zarate, mexicano, foi deportado e reentrou nos Estados Unidos por diversas vezes. Neste caso, a defesa de Zarate argumentou que se tratou de um acidente, a bala fez ricochete. Os factos são disputados, mas Zarate não foi condenado por homicídio, tendo sido condenado a prisão pelo mesmo tempo que esteve detido a aguardar julgamento.

Questionado sobre o polémico anúncio, Richard Corcoran considerou-o responsável porque "a primeira preocupação do governo é proteger as suas pessoas e os seus cidadãos"

O tema é particularmente fraturante nos Estados Unidos, numa altura em que Republicanos e Democratas discutem o futuro dos "dreamers" [sonhadores], cidadãos sem documentos que foram levados pela família para os Estados Unidos quando ainda eram menores e que nunca se chegaram a legalizar.

Durante o discurso do Estado da Nação, esta terça-feira, Donald Trump colocou em cima da mesa a possibilidade de se encontrar um caminho para a legalização de 1,8 milhões de "dreamers". Dias antes, o Presidente dava conta da contrapartida para esta cedência: Trump quer que o Congresso aprove um financiamento de 30 mil milhões de dólares (cerca de 25 mil milhões de euros) para segurança fronteiriça, dos quais 25 mil milhões de dólares (quase 21 mil milhões de euros) para construir um muro na fronteira com o México.

A imigração tem sido um tema central desde que Trump assumiu funções, em janeiro de 2017. O Presidente dos Estados Unidos avançou no início do mandado com um decreto anti-imigração, que visa impedir a entrada de pessoas de seis países de maioria muçulmana. O decreto foi travado pelos tribunais, num braço de ferro que fez a Administração recorrer entretanto ao Supremo Tribunal.