Partindo do estado americano do Tennessee num avião médico, o ex-guarda Friedrich Karl Berger aterrou ao fim da manhã de hoje no aeroporto da cidade alemã de Frankfurt, onde deve ser agora interrogado por investigadores da polícia criminal do Land de Hesse, avançou a agência de notícias francesa AFP.

“Recebemos ordem do Ministério Público de Celle [cidade na Alemanha] para interrogar o senhor Berger sobre a acusação de cumplicidade de assassinato”, disse à AFP Sebastian Wolf, porta-voz da polícia criminal desta região alemã.

Apesar da idade avançada, Berger encontra-se de boa saúde e capaz de acompanhar um interrogatório.

No entanto, o procurador-geral de Celle responsável pelo caso, Bernd Kolkmeier, que abandonou o processo contra este antigo guarda alemão de um campo de concentração nazi, no final de dezembro, por falta de provas suficientes, permanece pessimista sobre a possibilidade de um julgamento.

Bernd Kolkmeier disse que "provavelmente não" haverá uma nova investigação a menos que Berger "faça uma confissão detalhada".

O ex-guarda Friedrich Karl Berger mudou-se em 1959 para o Tennessee, na região sudeste dos Estados Unidos, e viveu lá sem ninguém saber sobre o seu passado por muitos anos, de acordo com a AFP.

A agência noticiosa indica que os investigadores começaram a procurá-lo quando documentos da época nazi com o seu nome foram encontrados em 1950 num navio afundado no Mar Báltico.

Berger é suspeito pela justiça americana de ter sido cúmplice na morte de prisioneiros enquanto era guarda entre janeiro e abril de 1945 no complexo do campo de concentração de Neuengamme, no sudeste de Hamburgo, e num dos seus campos externos perto de Meppen, em particular durante uma operação de evacuação em março de 1945.

O tribunal americano especializado em casos de imigração decidiu em março deportar Berger para a Alemanha por "ter servido voluntariamente como guarda armado de um campo de concentração onde ocorreram perseguições".

Durante os seus interrogatórios nos Estados Unidos, Berger admitiu ter sido guarda neste campo durante algum tempo, mas afirmou que não tinha conhecimento de maus tratos a prisioneiros ou de mortes entre detidos, e considerou que apenas obedeceu às ordens.

"Estamos determinados em garantir que os Estados Unidos não servem como um refúgio para autores de violações dos direitos humanos e criminosos de guerra”, avançou o diretor em exercício da agência de polícia aduaneira americana ICE, Tae Johnson, em comunicado.

O campo de concentração de Neuengamme foi inicialmente fundado em 1938 como um subcampo do campo de concentração de Sachsenhausen, localizado mais a leste em Brandenburg, e tornou-se um campo de concentração independente em 1940.

De acordo com o memorial do campo, os prisioneiros foram usados ali como trabalhadores forçados para a economia de guerra, em que 106.000 pessoas foram deportadas para lá, 55.000 das quais morreram, a maioria delas de exaustão no trabalho.