A comparação teve lugar no primeiro discurso de Ben Carson, esta segunda-feira, perante centenas de funcionários do departamento de Habitação, no mesmo dia em que o presidente Donald Trump assinou um novo veto migratório que impede imigrantes de seis países de maioria muçulmana de entrar no país por 90 dias e suspende o programa de acolhimento de refugiados por 120 dias.

O discurso de 40 minutos tinha como objetivo falar de uma América de “sonhos e das oportunidades”, mas acabou por espoletar a polémica.

“Isto são os Estados Unidos: uma terra de sonhos e de oportunidades. (…) Existiram outros imigrantes que vieram para cá no fundo de navios negreiros, que inclusivamente trabalharam por mais tempo, mais duro e por menos. Mas também eles tinham o sonho de que um dia os seus filhos, filhas, netos, netas, bisnetos e bisnetas pudessem encontrar riqueza e felicidade nesta terra”, concluiu.

As reações à comparação não se fizeram esperar. "Imigrantes?" - questionou no Twitter a Associação Nacional para as Pessoas de Cor (NAACP).

Os comentários de Carson são "trágicos, chocantes e inaceitáveis", afirmou o centro Anne Frank nos Estados Unidos, um museu em memória da menina judia alemã que morreu num campo de concentração nazi em 1945.

Também a atriz Whoopi Goldberg reagiu através de uma publicação no Twitter onde escreveu o seguinte: “Ben Carson… por favor leia ou veja “Roots”, a maioria dos migrantes vem para cá [EUA] VOLUNTARIAMENTE. Não podemos dizer o mesmo sobre os escravos… foram roubados”.

Para o departamento de Habitação, as numerosas reações às declarações de Carson obedecem a uma "interpretação cínica" do que foi dito. "Ninguém acredita, sinceramente, que (Carson) coloque no mesmo nível a imigração e a servidão involuntária".

Carson usou também as redes sociais para esclarecer o seu ponto de vista. “É possível ser um imigrante involuntário. Os escravos não se limitaram a desistir e a morrer, os nossos antepassados fizeram alguma coisa de si mesmos. Um imigrante é alguém que ‘vem para viver de forma permanente num país estrangeiro’. Estou orgulhoso da coragem e perseverança dos afro-americanos e a sua luta da escravidão para para a liberdade”.

Carson, neurocirurgião reformado, que foi rival de Trump nas eleições primárias do Partido Republicano, já fez declarações polémicas no passado. Em 2013, afirmou que a reforma do sistema de saúde conhecida como Obamacare era "a pior coisa que tinha acontecido ao país desde a escravatura".

Esta nova polémica sucede a da semana passada, altura em que a secretária da Educação, Betsy DeVos, descreveu as escolas e universidades para negros - fundadas por causa da segregação racial, que impedia estes estudantes de frequentarem as restantes instituições de ensino - como “pioneiras”.

Mais tarde, DeVos recuou nas suas afirmações, reconhecendo que as escolas e universidades para negros “surgiram, não por escolha, mas por necessidade, face ao racismo, e na sequência da guerra civil”.