Num debate televisivo frente-a-frente transmitido pela RTP3, o tom foi cordial e só existiram interrupções e vozes um pouco mais colocadas quando se discutiu o que fazer em relação àquilo que a candidata bloquista considerou a "moeda da Alemanha", enquanto o candidato comunista advogou a preparação de Portugal para abandonar a moeda única de forma negociada e organizada.
"Estes 20 anos de integração [no euro] foram de criação de maiores desigualdades e de desagregação das economias, não foram de progresso e crescimento. Criou uma Europa a várias velocidades. O euro foi o melhor serviço que a União Europeia (UE) fez à Alemanha. Esta arquitetura e modelo não funcionam", disse a eurodeputada Marisa Matias, desejando "reformas profundas para que o euro não seja a moeda da Alemanha".
Para o eurodeputado João Ferreira, "não chega dizer que, insistindo no mesmo tipo de políticas" dos últimos 20 anos, é de esperar que, "por milagre, os resultados possam ser diferentes", "nem chega dizer vagamente" que se quer "uma reforma sem dizer exatamente o quê".
"Concordamos em muito no diagnóstico. Agora, há uma diferença fundamental entre a CDU e o BE. Nós não nos limitamos a constatar um cenário negro, queremos acabar com esse cenário negro. Queremos rasgar um horizonte de esperança, uma saída para as pessoas", afirmou.
Os candidatos começaram o debate por reconhecer os muitos pontos em comum, com Marisa Matias a admitir a partilha da "crítica à construção europeia e ao défice democrático que existe".
"Houve nos últimos anos, no Parlamento Europeu, vários pontos de contacto ou posições em que convergimos. Mais convergências do que o PCP e o BE só mesmo o PS, PSD e CDS é que as tiveram", ironizou João Ferreira.
Sobre a possibilidade de Portugal vir a perder 7% de fundos europeus, a cabeça-de-lista do BE lançou a ideia precisamente contrária.
"Não só não podemos perder fundos de coesão, como devemos reforçá-los. Na sequência da crise económica e financeira que vivemos e que se transformou numa crise social profunda, não nos aproximámos da média europeia, afastámo-nos. O nível de desequilíbrio macroeconómico e desigualdade é hoje superior àquele que existia anteriormente”, disse Marisa Matias.
“Não podemos aceitar que haja um corte, sobretudo quando a desculpa é dizer que vamos ter menos recursos e, no entanto, há 13 mil milhões de euros para a militarização da União Europeia", criticou.
Para Marisa Matias, "o Governo português, seja ele qual for, não poderá nunca aceitar um orçamento europeu que possa colocar esta medida de cortar os fundos de coesão em cima da mesa", pois "os governos têm direito, têm esse poder, de vetar".
"Os fundos de coesão não têm uma função de solidariedade. Têm, essencialmente, uma função de compensação. A integração não é igual para todos, tem benefícios para uns e prejuízos para outros. Acontece com a política agrícola, de pescas, comercial, acontece com o euro, com o mercado único. Há quem ganhe, há quem, em termos relativos, fique a perder”, afirmou João Ferreira
Para o cabeça-de-lista comunista, “os fundos de coesão nunca compensaram os prejuízos que países como Portugal tiveram”.
“Devíamos ter reforçado os fundos de coesão, aconteceu precisamente o contrário, cortes sucessivos. O ponto de partida do Governo devia ser a exigência de um reforço das verbas de coesão", concordou João Ferreira.
Noutra temática, dos refugiados, ambos voltaram a estar em sintonia, com Marisa Matias a defender uma "abordagem humanista e não burocrática", além do princípio da "reunificação familiar" no tratamento destas pessoas que "não são números".
"A vaga de refugiados que hoje chega à Europa é como pedras atiradas à cara daqueles que interferiram em países na vizinhança da Europa, levando a guerra e a desestabilização. Um grande número de refugiados vem de um número muito reduzido de países. Líbia e Síria, vêm de lá a esmagadora maioria dos refugiados", disse João Ferreira, que também defendeu o princípio do "reagrupamento familiar".
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