Em conferência de imprensa, na sede nacional do PSD, em Lisboa, logo após ter sido anunciado pelo presidente do partido, Rui Rio, como número um da lista social-democrata, Paulo Rangel fez o seu discurso de apresentação, em que falou de questões europeias, mas também nacionais, lançando quatro desafios diretos ao primeiro-ministro.
“Neste momento, subsiste a legítima suspeita de que houve o aproveitamento de um cargo ministerial para engendrar, lançar e promover um candidato”, afirmou, acrescentando: “Não nos compete fazer fé em especulações mediáticas, mas, diante do risco que temos tido, nos últimos dois meses um candidato disfarçado de ministro, e um ministro em campanha dissimulada, desafio o primeiro-ministro a fazer um esclarecimento”.
Sem nunca se referir ao nome do ministro do Planeamento, Pedro Marques, – que tem sido apontado como o cabeça de lista pelo PS – Rangel desafiou o primeiro-ministro a esclarecer se “o Governo está a utilizar recursos públicos e aproveitar um cargo ministerial para promover um candidato”.
Na sua intervenção, Paulo Rangel, que será pela terceira vez cabeça de lista do PSD ao Parlamento Europeu, assumiu que está perante um desafio “árduo e difícil”, mas manifestou confiança na vitória.
“Renovo a confiança que abriremos aqui um caminho para que o PSD possa ser o espaço em que os portugueses se reveem na União Europeia e em Portugal. Essa luta começa hoje e vai ser ganha, ao contrário do que muitos imaginam”, afirmou.
Afirmando o PSD como partido “europeísta e realista”, Paulo Rangel acusou o Governo de responsabilizar as regras europeias pelas suas escolhas.
“É verdade que não há dinheiro para tudo, há que fazer escolhas. Mas foi o Governo Costa que fez as suas escolhas. Foi o PS que escolheu não investir no Serviço Nacional de Saúde, não investir na Proteção Civil e na segurança das pessoas e dos bens, não apostar na mobilidade, nos transportes e nas infraestruturas”, criticou.
Neste ponto, o cabeça de lista social-democrata apelou a todos os que “sofrem com a degradação dos serviços públicos” que confiem no PSD e na sua candidatura, assegurando que o partido “acredita no Estado social e numa Europa social”.
Em matéria europeia, Rangel acusou o Governo e, em particular, o ministro Pedro Marques de “passividade, conformismo, a complacência” na negociação do próximo quadro comunitário.
“Temos de lançar um primeiro desafio a António Costa: em sede de política de coesão, o Governo aceita ou veta a proposta da Comissão que tira fundos a Portugal para dar a países bem mais ricos?”, questionou.
Reafirmando a posição do PSD contra a criação de um exército único europeu, Rangel desafiou o primeiro-ministro a esclarecer se o Governo aceita a proposta da Comissão Europeia para que, em alguns domínios, se transite da regra da unanimidade para a regra da maioria qualificada.
“O PSD é contra o fim da unanimidade na política externa. E o Governo do PS?”, perguntou.
O eurodeputado Paulo Rangel salientou ainda que o PSD rejeita, há mais de 20 anos, impostos europeus, e deixou uma crítica implícita nesta matéria ao CDS-PP.
“São muitos os que agora falam – e bem alto – contra o imposto europeu, mas foi sempre o PSD, em 1999 contra Mário Soares, e depois em 2009 contra Vital Moreira, já comigo a cabeça de lista, que liderou a oposição à criação de impostos europeus, agora de novo defendida por António Costa”, salientou.
Neste ponto, o antigo líder parlamentar do PSD salientou que “ser contra um imposto europeu nada tem a ver com as novas receitas próprias”, provenientes de áreas como as transações financeiras, as plataformas digitais ou ambientais e climáticas.
“Estas não incidem sobre os contribuintes e, muito menos, sobre os contribuintes portugueses”, frisou, desafiando quem recusa estas receitas a explicar como vai pagar as contas da União Europeia sem aumentar impostos nacionais.
No início do seu discurso, Rangel agradeceu a Rio a sua indicação como cabeça de lista, recordando os dois antigos presidentes do PSD que já o tinham indicado: Manuela Ferreira Leite em 2009 e Passos Coelho em 2014.
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