"Portugal encontra-se de momento na quinta fase pandémica"
Na primeira intervenção da tarde, Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde, contextualizou a situação pandémica em Portugal, referindo que o país atravessou quatro grandes fases e que se encontra "de momento na quinta fase pandémica".
"Portugal encontra-se de momento na quinta fase pandémica, até ao momento com impacto na gravidade e mortalidade inferiores a fases anteriores, ainda que mereçam alguma atenção especial", referiu.
Atualmente, "encontramo-nos com 203 casos de infeção por SARS-Cov-2 nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes, com uma tendência crescente, com uma variação de +47% relativamente ao período homólogo do passado".
Numa análise por grupos etários, Pinto Leite destacou que "todos os grupos etários têm uma tendência crescente, à exceção do grupo etário dos 80+ que tem uma tendência estável que já se tem vindo a verificar nos últimos tempos e que se mantém".
"Eventualmente podemos estar também aqui assistir a algum efeito já das doses de reforço", explicou.
Relativamente à testagem, o especialista da DGS revelou que "na última semana foram realizados e notificados cerca de 267 mil testes, um número que é superior às últimas três semanas", sendo que há a verificar "um aumento na proporção de positividade, acima do valor de referência do ECDC de 4%".
No que diz respeito aos internamentos, tem-se "observado um aumento dos internamentos totais, à data de ontem tínhamos 523 caos de covid-19 internados nos hospitais". "Isto corresponde a uma variação de +37% relativamente ao período homólogo, dos quais 72 casos encontravam-se em unidade de cuidados intensivos com uma variação, relativamente ao mesmo período, de +12% e este valor corresponde a uma percentagem, ao nível de alerta das linhas vermelhas, de 28%".
De acordo com o especialista, a região com maior incidência de infeções é o Algarve, seguida do Centro e da Madeira, estando estas três regiões acima dos 240 casos por 100 mil habitantes.
Já Lisboa e Vale do Tejo está com uma incidência “ligeiramente inferior à nacional", seguida do Alentejo, do Norte e dos Açores, mas também com tendência crescente e com variações superiores a 10%.
Pedro Pinto Leite adiantou ainda que o grupo etário com maior incidência de infeções é o das crianças até aos 9 anos, que corresponde a uma faixa da população não vacinada.
O grupo dos 20 aos 29 anos é o segundo que apresenta uma maior incidência de casos de infeção, seguindo-se a faixa dos 30 aos 39 anos.
Pedro Pinto Leite adiantou também que, para os casos notificados em agosto, o risco de internamento por estado vacinal é duas a cinco vezes menor nas pessoas com vacinação completa.
Relativamente à letalidade para os casos notificados em outubro, é 1,4 a quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa relativamente às pessoas que não completaram a sua vacinação.
Num nota de conclusão, a "atividade epidémica de SARS-CoV-2 em Portugal acompanha a situação no resto da Europa, mas com uma magnitude inferior, sobretudo à dos países da Europa Central e do Leste, globalmente com coberturas vacinais mais reduzidas".
"Vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em UCI"
No segundo painel da tarde, entitulado "Entender como a pandemia evoluiu", apresentado por Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, foram apresentados dois grandes destaques relativamente à análise da evolução pandémica.
O primeiro é que se concluiu que existe "um quadro inequívoco de uma apresentação sazonal, em que se adivinha muito bem já aquilo que nós podemos chamar a transformação endémica deste nosso contacto com o vírus da covid-19".
O segundo é que existe "uma evidente diferença entre o que aconteceu no primeiro e no segundo ano e essa diferença é essencialmente marcada por todo o processo de vacinação". "Isso permite explicar muito daquilo que vemos na diferença destas curvas, mesmo sabendo que com esse processo de vacinação foi acompanhado por uma diminuição de medidas restritivas que eram complementares, naturalmente, para impedir a infeção", explica Henrique Barros.
O resultado do processo nacional de vacinação contra a covid-19, que atingiu perto de 87% de cobertura da população, terá evitado a morte de quase duas mil pessoas desde maio até agora, defendeu hoje o epidemiologista Henrique Barros.
“Desde maio até agora, a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em unidades de cuidados intensivos e pouparam-se cerca de duas mil vidas”, afirmou o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Numa intervenção intitulada “Entender como a pandemia evoluiu”, o especialista traçou alguns cenários comparativos com o passado e o momento atual da situação epidemiológica da covid-19, tendo concluído ser “extraordinariamente evidente” que o aumento do número de infeções “parte de uma base mais baixa, como um reflexo da vacinação” e com um notório efeito na distribuição da doença pelos grupos etários.
“O grupo etário das pessoas com mais de 80 anos, que era um dos mais afetados, é agora completamente ultrapassado pelo grupo dos 5 aos 10 anos, em que ainda não utilizamos a vacinação”, frisou, notando que “a situação portuguesa na hierarquização dos casos e das mortes encontra-se muito melhor do que há um ano, comparativamente com os outros e consigo próprio”.
Apesar dessa evolução, o especialista aconselhou que, perante a situação epidemiológica neste momento, “poderia fazer sentido desaconselhar as reuniões com muitas pessoas, as chamada reuniões sociais com mais de 50 pessoas”, tendo em conta o panorama de infeções que se tem registado nas últimas semanas.
Para Henrique Barros, a vacinação assume-se como a “medida fundamental de proteção”, por isso apelou à vacinação das crianças assim que as autoridades permitam a administração abaixo dos 12 anos, bem como a toma da dose de reforço para a população já elegível. Porém, salientou também a necessidade de manter as medidas não farmacológicas individuais, a vigilância epidemiológica e um adequado planeamento da resposta clínica.
"A linha dos 240 casos por 100 mil habitantes vai ser atingida rapidamente"
Portugal pode atingir os 240 casos por 100.000 habitantes em menos de duas semanas a manter-se a taxa de crescimento de número de casos, avançou o investigador Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA)
Na sua intervenção "Impacto da vacinação contra a covid-19 na população portuguesa: efeito observado" na reunião de peritos no Infarmed, em Lisboa, o epidemiologista afirmou que a transmissibilidade é elevada no país, com o número de casos a duplicar aproximadamente a cada 15 dias.
“Quando olhamos para as várias regiões verificamos que em comparação com a última reunião do Infarmed em que efetivamente estávamos numa situação contrária com praticamente todas as regiões com tendência decrescente, agora estamos com todas as regiões com uma tendência crescente”, salientou.
Segundo o responsável da unidade de investigação epidemiológica do INSA, os valores do ‘R’ (transmissibilidade) estão “elevados ou muito elevados”, estando alguns dias acima de 1,2 em algumas regiões.
“Olhando para as projeções da incidência, verificamos que a linha dos 240 casos por 100.000 habitantes vai ser atingida rapidamente em aproximadamente menos duas semanas se mantivermos esta taxa de crescimento, mas também podemos verificar que as linhas dos 480 e dos 960 podem ser atingidas em um mês ou dois meses se mantivermos sempre esta taxa de crescimento”, advertiu o investigador.
Na sua intervenção na reunião de peritos no Infarmed, em Lisboa, Baltazar Nunes apresentou vários cenários, afirmando que, na maior parte deles, “o pico de maior pressão sobre o sistema nacional de saúde em camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos é o período entre final de janeiro e princípio de fevereiro”.
“Para não atingirmos o limiar de 255 camas em cuidados intensivos, que é o nível de alerta que definimos para não começar a afetar o funcionamento normal dos serviços de saúde, precisamos de vacinar praticamente toda a população elegível para vacinação (mais de 65 anos) antes do período em que irá haver uma maior transmissibilidade que é o período de finais de dezembro”, disse o responsável da unidade de investigação epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Observou, contudo, se o país tiver “uma situação bastante mais favorável”, com “uma perda de efetividade mais lenta” todos os cenários estão abaixo da linha vermelha.
Por isso, defendeu, “é muito importante” atingir elevados níveis de cobertura vacinal na dose de reforço na população elegível, afirmou, sublinhando que existe claramente uma correlação entre a cobertura vacinal, a incidência e a mortalidade.
Baltazar Nunes salientou que as simulações apontam que a redução da efetividade da vacina no tempo vai-se traduzir, provavelmente, numa onda epidémica e com a intensidade de impacto que poderá ultrapassar as “linhas vermelhas”.
No entanto ressalvou, há uma medida que está a ser implementada e que vai ter um efeito claro: “Se conseguirmos vacinar grande parte da população que é elegível antes do Natal podemos claramente evitar uma onda epidémica que ultrapasse as ‘linhas vermelhas’ e sem impacto significativo no Serviço Nacional de saúde”.
“À medida que a cobertura vacinal aumenta, a incidência a 14 dias diminui e Portugal coloca-se claramente como o país com maior cobertura vacinal e numa situação bastante confortável a nível de impacto em termos de incidência”, vincou.
Esta relação torna-se ainda “mais clara” tendo em conta a mortalidade.
Fazendo a comparação com a situação há um ano, apontou que nessa altura Portugal estava com uma taxa de 700 casos por 100 mil habitantes a 14 dias e atualmente com 190.
“Vemos agora uma maior transmissibilidade do que há um ano, mas nessa altura também tínhamos medidas não farmacológicas implementadas, estávamos naquela fase em que estávamos com um confinamento aos fins de semana e o índice de confinamento na altura já era de cerca de 36%”, rematou.
"Há um decaimento da eficácia da vacina ao longo do tempo"
As vacinas contra a covid-19 utilizadas em Portugal apresentam uma eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalização e de morte e superior a 53% contra a infeção pelo SARS-CoV-2, adiantou a especialista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) Ausenda Machado.
Em relação às formas graves de doença, as "efetividades [das vacinas] são bastante elevadas, superior a 80% de uma forma geral, sendo mais baixas quando olhamos para população acima dos 80 anos”, referiu Ausenda Machado, na reunião sobre a situação epidemiológica em Portugal na sede do Infarmed, em Lisboa.
Segundo a especialista do INSA, contra a infeção pelo coronavírus, as quatro vacinas utilizadas no plano de vacinação nacional permitem uma proteção acima dos 50% para os vários grupos etários.
“Os resultados da efetividade indicam-nos que as vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular quando olhamos para doença grave ou muito grave”, adiantou Ausenda Machado.
Segundo disse, esta eficácia varia com a idade, o que já se observa em outras vacinas, e os valores mais elevados encontra-se na população entre os 30 e 49 anos.
Já nos idosos com 65 ou mais anos, “começamos a perceber que há um decaimento desta proteção conferida após a vacinação completa, sendo que este decaimento é mais significativo” no caso da infeção, o que vem reforçar da importância de uma dose de reforço, disse.
“A informação preliminar da introdução da estratégia de reforçar a vacinação na população com 80 ou mais anos parece mostrar um decréscimo da incidência neste grupo etário”, adiantou a especialista.
Coordenação do Plano de Vacinação alerta que são precisos mais meios
O alargamento da população elegível para dose de reforço contra a covid-19 vai exigir a disponibilização de mais meios no terreno, alerta hoje o responsável pelo Núcleo de Coordenação do Plano de Vacinação, coronel Carlos Penha-Gonçalves.
Na intervenção efetuada na reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal, o coordenador desta fase do processo de vacinação referiu que a atualização feita na quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre as condições de elegibilidade para a dose de reforço “duplica o esforço de planeamento” que tinha sido feito e impôs uma reprogramação do plano.
“Desde ontem [quinta-feira], pela norma da DGS, estamos agora a considerar outros grupos populacionais e estamos a falar, basicamente, de 1,8 milhões de pessoas”, começou por dizer, continuando: “Esta nova ambição com o alargamento da população-alvo indica-nos que é preciso fazer um reforço da estrutura executiva, que administra a vacina. É nesse equilíbrio de aumento da capacidade no terreno que vamos atingir os objetivos”.
O coronel Carlos Penha-Gonçalves reconheceu ainda a necessidade de se avançarem com “opções de planeamento” para a organização dos novos grupos elegíveis, bem como a importância do “acesso a dados de vacinação, infeção e hospitalização” para a definição das prioridades, embora a “vacinação das pessoas mais expostas” continue no topo da agenda.
Descrevendo o plano que foi traçado para decorrer entre 27 de setembro e 19 de dezembro com vista à vacinação da gripe e da dose de reforço contra a covid-19, com uma estimativa de cerca de 4,5 milhões de inoculações, o responsável pelo núcleo de coordenação vincou que o dispositivo “tem evoluído no tempo” e conta agora com 304 pontos de vacinação, com capacidade de administrar 460 mil vacinas por semana.
Em termos de cobertura já conseguida na vacina da gripe, o coronel Carlos Penha-Gonçalves explicou que a população elegível foi dividida essencialmente em três grupos: os maiores de 80 anos, os idosos entre os 70 e os 79 e, finalmente, as pessoas entre os 65 e os 69 anos. Nesse sentido, foram já alcançadas coberturas vacinais de 73%, 42% e 20%, respetivamente.
O teto vacinal da vacina da gripe costuma ser de 75%, segundo o responsável. “Temos cerca de 730 mil para dar, o que se traduz em cerca de 25 mil vacinas por dia, perfeitamente dentro daquilo que temos estado a dar”, observou.
Carlos Penha-Gonçalves adiantou que cerca de 630 mil pessoas receberam a dose de reforço contra a covid-19, numa população igualmente elegível para a vacina da gripe e que, para o coordenador, está a ter efeito na adesão à vacinação. A adesão atual é de 80%, com cerca de 600 mil pessoas para vacinar até 19 de dezembro, a uma média de 20 mil inoculações diárias.
Todavia, avisou que, se a adesão subir até aos 100%, isso traduz-se na vacinação de um milhão de pessoas, a “uma média de 35 mil por dia”, de acordo com o coronel do Exército.
"Devemos atuar" antes do Natal. As medidas propostas pelos especialistas
Raquel Duarte, médica pneumologista, com formação académica em Saúde Pública e Economia da Saúde, que foi convidada pelo Governo para liderar a equipa que elaborou as propostas de desconfinamento do país até ao início de outubro, apresentou uma lista de eventuais ameaças que o país enfrenta:
- Situação dos países vizinhos terá “repercussão a nível nacional”;
- Efeito protetor da vacina contra a covid-19 diminui com o tempo;
- Redução da perceção de risco por parte da população;
- Elevada da transmissibilidade;
- Inverno, com intensificação das atividades em interior e circulação de outros vírus respiratórios;
- População envelhecida;
- Velocidade da administração da dose de reforço para proteger a população de risco;
- Aproximação da época natalícia, com aumento da mobilidade, de concentrações e de convívios sem medidas de proteção individual;
A especialista defende ainda que "devemos atuar" antes do Natal porque existe um risco de aumento exponencial do número de casos, que poderá duplicar ou triplicar em poucas semanas.
“O que nós propomos é que a estratégia adaptada à circunstância atual continue a assentar em cinco eixos fundamentais: a vacinação, a renovação do ar interior, a distância, a máscara e a testagem”, afirmou Raquel Duarte.
A especialista em saúde pública salientou que o conjunto de medidas hoje proposto “deve ser aplicado a par de um processo célere de reforço com a terceira dose da vacinação”.
Nesse sentido, como medida geral a aplicar em todos os contextos os peritos propõem a adequação da climatização e ventilação dos espaços interiores, a utilização do certificado digital com teste recente nos espaços públicos, a autoavaliação de risco, a promoção de atividades no exterior ou por via remota sempre que possível, o cumprimento do distanciamento físico e a utilização obrigatória de máscara em ambientes fechados e eventos públicos.
Especificamente no contexto laboral, deve ser adotado, sempre que possível, o desfasamento de horários e o teletrabalho, no “sentido de facilitar o cumprimento das medidas gerais”, adiantou Raquel Duarte.
Para o comércio - incluindo centros comerciais -, restauração, hotelaria e alojamento, assim como para as atividades desportivas, os peritos propõem as medidas gerais apresentadas.
Para eventos de grande dimensão, nos casos em que não for possível o seu controlo, através do cumprimento das medidas gerais, não devem ser realizados, tanto no exterior, como no interior.
No que se refere à circulação nos espaços públicos, deve ser mantida da distância e a autoavaliação de risco com a utilização da máscara, “perante a perceção que existe risco, nomeadamente quando há concentração de pessoas”, avançou a especialista em saúde pública.
Nos convívios familiares alargados, os especialistas avançam com a necessidade de cumprimento das medidas gerais, da autoavaliação do risco e a aplicação de autotestes de despiste do vírus.
Nos lares de idosos “deve haver cuidados particulares”, salientou Raquel Duarte, propondo a identificação do risco de acordo com o grupo etário, as comorbilidades e o estado vacinal, a testagem regular para funcionários e visitas e a promoção de medidas de controlo de infeção.
Nos transportes públicos, além de sistemas de ventilação adequados, é proposto o distanciamento sempre que possível e utilização obrigatória de máscara.
Os números do boletim epidemiológico de hoje
Portugal regista hoje 2.371 novos casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, com cinco mortes associadas à covid-19, e um aumento de internamentos em enfermaria e cuidados intensivos, segundo dados oficiais.
De acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado hoje, estão agora internadas 528 pessoas, mais cinco do que na quinta-feira, das quais 79 em unidades de cuidados intensivos, mais sete do que nas últimas 24 horas.
As cinco mortes registaram-se no Centro (duas), em Lisboa e Vale do Tejo (uma) e no Norte (uma).
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