“O Brasil, infelizmente, está a rasgar tudo o que é obvio para se colocar como um vassalo do império estrangeiro e não guarda nenhuma coerência com os nossos próprios interesses. A nossa tradição é pan-americana, nós estamos nas Américas, mas não há nenhuma razão para que o Brasil celebre uma aproximação em que os interesses são antagónicos aos nossos, enquanto nega uma outra aproximação com interesses similares aos nossos, e cujas identidades culturais são muito mais fortes”, disse Ciro Gomes, questionado pela Lusa sobre a atual aproximação do Governo de Jair Bolsonaro aos EUA.
O antigo governador do Ceará, candidato presidencial em 2018 pela terceira vez – pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), de esquerda – disse ainda que as “conexões afetivas e culturais” que ligam o Brasil aos países de língua portuguesa, deveriam ser tidas em consideração pelo novo executivo.
“O processo de aproximação global do Brasil deveria obedecer a alguns critérios que são muito óbvios, naturais e espontâneos. Ao mesmo tempo que atendemos conexões afetivas e culturais, podemos atender interesses pragmáticos, de comércio, e economia. Esses passos de aproximação, claramente nos apontam Portugal e as comunidade de língua portuguesa que se espalham pelo mundo, pela extraordinária liderança de Portugal, que atualmente ainda exerce sob o ponto de vista cultural”, acrescentou o político, à margem das celebrações do centenário da comprovação – na localidade de brasileira Sobral (Ceará) e na ilha do Príncipe – da Teoria da Relatividade Geral do físico alemão Albert Einstein, durante um eclipse total solar.
Também outros políticos brasileiros, de diferentes quadrantes ideológicos, defenderam hoje uma maior união entre países de língua portuguesa, em particular no ramo da ciência e tecnologia.
“Eu tenho conversado muito com vários embaixadores, e conversei também com Portugal, e sei inclusive que nos Açores estão a construir um centro de estudos oceânicos e também um centro de lançamento (de satélites), o que é bastante interessante. Espero que essa relação (entre o Brasil e países de língua portuguesa) continue, e cada vez mais forte”, declarou à Lusa o ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
O eclipse solar ocorrido em 29 de maio de 1919 permitiu a duas equipas de astrónomos britânicos, uma na ilha são-tomense do Príncipe — chefiada por Arthur Eddington – e outra em Sobral — liderada por Andrew Crommelin -, comprovar a teoria do encurvamento gravitacional da luz, formulada quatro anos antes por Einstein.
O Prefeito de Sobral, Ivo Gomes, disse estar feliz por partilhar esta celebração com um país que fala a mesma língua que o Brasil.
“A nossa língua proporciona-nos uma integração com vários países, desde África, com o próprio Portugal, e países da Ásia também, que pouca gente sabe que também falam português. Nós temos orgulho das nossas origens, tanto portuguesas, como africanos, e povos nativos, e estamos felizes por celebrar este evento juntos, com a outra comunidade que fala português, que é o Estado de São Tomé e Príncipe”, afirmou à Lusa Ivo Gomes.
A cidade brasileira do Sobral recebeu nos últimos dias palestras, mostras sobre Astronomia, Astrofísica, História do eclipse de 1919, Relatividade Geral e Cosmologia, assim como o lançamento de livros sobre o tema, numa parceria entre a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Prefeitura de Sobral e o Governo do estado do Ceará.
Durante o dia de hoje, foi lançado em Sobral um Selo Comemorativo do Centenário do Eclipse de Sobral e foi feita uma transmissão simultânea entre a cidade brasileira e a ilha do Príncipe, com a participação de várias entidades políticas e científicas de ambas as regiões.
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