“Cumpri o meu papel neste processo, sempre de acordo com o dever fiduciário e sempre, em todo o momento, guiado pelos meus princípios e pela minha consciência. Não sei estar de outra forma na vida”, disse Paulo Neto Leite numa carta enviada aos trabalhadores na segunda-feira à noite, a que a Lusa teve acesso.
Paulo Neto Leite deixou na segunda-feira de ser presidente executivo (CEO) da Groundforce, cargo que passará a ser exercido pelo presidente do Conselho de Administração, Alfredo Casimiro, acionista privado da empresa de ‘handling’, segundo foi anunciado.
Após o anúncio do afastamento do cargo, Paulo Neto Leite escreveu aos trabalhadores da empresa de ‘handling’ (assistência nos aeroportos), dizendo que “em todos os momentos” está “preparado para suportar as consequências” das suas decisões.
“[…] E nunca tomei uma decisão que me proteja, favoreça ou vá contra as minhas convicções”, lê-se na carta.
Neste âmbito, explica que em 19 de março, dia em que, depois de semanas de negociações, a Groundforce e TAP chegaram a um acordo, tomou “a decisão possível que permitiria o pagamento dos salários dos trabalhadores, protegendo assim a empresa e defendendo os seus ‘stakeholders'”.
“A partir desse momento continuei focado na única coisa que me preocupava nesse momento: garantir a continuidade da empresa, com a solução que permitia injetar liquidez através do aval do Estado a um empréstimo bancário”, acrescenta no dia em que o Conselho de Administração da empresa, liderado por Alfredo Casimiro, decidiu afastá-lo da liderança executiva, mas mantendo-se como administrador.
“Ao longo destes anos dei o meu melhor e o melhor de mim, permitindo que todos os ‘stakeholders’ beneficiassem do resultado de uma empresa saudável, próspera e operacionalmente eficiente. É um momento de garantir que estamos preparados para o futuro e para garantir a sustentabilidade da nossa empresa. Será por isso que continuarei a lutar todos os dias, como tenho feito até ao momento, agora noutro papel”, conclui.
Como a Lusa noticiou, Alfredo Casimiro comunicou aos trabalhadores que “para garantir uma mais eficiente capacidade de resposta e uma necessária coesão na gestão da companhia, foi decidido em Conselho de Administração alterar a composição da Comissão Executiva passando o presidente do Conselho de Administração a assumir também a presidência da Comissão Executiva”.
Em comunicado, a Pasagol, de Alfredo Casimiro, acionista maioritário da Groundforce (50,1%), explica que “a destituição de Paulo Neto Leite, com efeitos imediatos, justifica-se por um conjunto de situações que configuraram uma violação grave dos deveres de lealdade”.
“Os acionistas entenderam que a confiança no até aqui CEO foi ferida de morte e que este não tem condições para conduzir os negócios sociais da empresa ou para se envolver na procura de soluções sustentáveis para a Groundforce”, refere.
Em 19 de março, depois de várias negociações, a Groundforce e TAP chegaram a um acordo, em que a companhia aérea adquiriu por cerca de sete milhões de euros equipamentos da empresa de ‘handling’ (assistência nos aeroportos), que passa a pagar à TAP pelo aluguer deste material. Este acordo permitiu desbloquear provisoriamente o impasse na empresa e pagar os salários em atraso aos 2.400 trabalhadores.
O acordo foi fechado com três votos a favor — os dois administradores nomeados pela TAP e o presidente executivo da empresa de ‘handling’, Paulo Neto Leite –, a abstenção do presidente do Conselho de Administração, Alfredo Casimiro, e um voto contra, disse então à Lusa fonte ligada ao processo.
Segundo adiantou à Lusa a mesma fonte, os dois administradores da Groundforce nomeados pela TAP, acionista minoritário (49,9%), aprovaram o acordo, a que se juntou Paulo Neto Leite, que já tinha manifestado na véspera a sua intenção de validar o acordo proposto pela TAP.
Por seu lado, o presidente da Pasogal absteve-se e o outro administrador nomeado pelo acionista privado, Gonçalo Carvalho, votou contra.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português e que é acionista minoritário e principal cliente da empresa que presta assistência nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.
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