Num comunicado hoje divulgado, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla do consórcio em inglês) explicou que o ex-lobista da Uber na Europa ‘vazou’ 18,69 gigabytes de e-mails, mensagens de texto e documentos internos da plataforma eletrónica de partilha de veículos para o jornal britânico ‘The Guardian’.

Os documentos, segundo adianta a agência EFE, foram compartilhados pelo jornal com o ICIJ e a sua rede de ‘media partners’ internacionais.

O Consócio refere que Mark MacGann é um irlandês de 52 anos, tendo sido o lobista principal da Uber na Europa, Médio Oriente e África, entre 2014 e 2016, que estava também encarregado de gerir a “caótica expansão global” da Uber, o que o levou a violar as leis locais dos transportes em vários países, indica o ICIJ.

Os documentos ‘vazados’ mostram que diretores da Uber tentaram influenciar políticos em todo o mundo para obter favores, negociaram contratos de investimentos com oligarcas russos, que agora são alvo de sanções, e aproveitaram-se da violência contra os condutores da plataforma usando-a em seu favor.

“Não há desculpas sobre a forma como a empresa jogou com a vida as pessoas”, disse Mark MacGann citado no comunicado do ICIJ.

Em resposta a perguntas do Consórcio, uma porta-voz da Uber, Jill Hazelbaker, afirmou que Mark MacGann não está atualmente em posição de falar sobre a empresa.

“Mark apenas tinha elogios para a Uber quando deixou a empresa, há seis anos”, apontou Hazelbaker, que precisou que o ex-funcionário avançou com um processo judicial contra a Uber procurando receber o pagamento de bónus pelos anos em que lá trabalhou.

“Esse processo terminou recentemente com o pagamento [a Mark MacGann] de 550.000 euros. É incrível que Mark apenas quis falar quando recebeu o cheque”, referiu.

A empresa norte-americana Uber concebeu uma estratégia de expansão que recorreu a lóbi político junto de governos, mas também formas ilícitas para ludibriar autoridades, revela um trabalho do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, divulgado este domingo.

A investigação Uber Files do ICIJ — que envolveu 40 meios de comunicação em 29 países e envolveu a análise de mais de 124 mil documentos — concluiu que, entre 2013 e 2017, o então CEO, Travis Kalanick, deu aval a uma estratégia que explorava a violência contra motoristas dos Uber para promover a imagem da empresa contra os taxistas e os governos que criavam problemas ao seu negócio.

A Uber criou igualmente uma complexa teia de lóbi que se espalhava desde a magnatas dos meios de comunicação a primeiros-ministros, passando por ministros, funcionários governamentais e oligarcas, tudo para que a empresa conseguisse expandir o seu negócio, segundo a investigação jornalística que reuniu quase 200 jornalistas.