“Não vamos ter SNS se não tivermos recursos humanos, que são, de facto, o principal desafio primordial do Serviço Nacional de Saúde”, disse.
Ana Jorge, que foi ministra da Saúde nos governos socialistas liderados por José Sócrates, participou terça-feira numa sessão pública sobre o SNS, organizada pelo Bloco de Esquerda.
Na iniciativa que decorreu em Lisboa, a antiga governante defendeu que da “resolução destas questões dependerá a qualidade e a eficácia da prestação dos cuidados de saúde aos portugueses”.
Para a antiga ministra, sente-se “nos profissionais uma certa desilusão com o serviço público, sem reconhecerem esses mesmos profissionais que a sua formação e a capacidade de serem excelentes profissionais se deve às características do Serviço Nacional de Saúde”.
“Não basta aumentar o financiamento. Os profissionais – médicos, enfermeiros, técnicos, administrativos, todos – têm de voltar a ter orgulho a trabalhar no SNS”, salientou, reforçando que a questão crucial é “aquilo que é a vontade e a fixação dos profissionais ao sistema”.
Na ótica da médica, “é um erro e é grave aquilo que acontece”, referindo que “o afastamento precoce dos profissionais das equipas estruturadas leva a médio prazo a um empobrecimento da sua diferenciação, com as consequências na qualidade dos cuidados prestados e na formação de novos profissionais”.
“Estamos em risco de não ter capacidade interna, dentro das instituições, de formar novos profissionais, e não é nem o setor privado, nem o setor das PPP [parcerias público-privadas], que vai garantir a formação de qualidade dos novos profissionais”, alertou, notando que “isso é de facto preocupante”.
Ana Jorge falou ainda na exclusividade dos profissionais de saúde, referindo que “ninguém pôs em causa” esta questão aplicada ao setor privado.
“Hoje não há ninguém que trabalhe em grandes hospitais do setor privado que não tenha obviamente uma exclusividade com aquele empregador, e isso no publico não está garantido e não é bem visto”, vincou a antiga governante.
Assim, salientou, “o espírito de equipa tem de ser reconstruído com profissionais que estejam em carreiras que valorizem a competência, a produtividade, os resultados”, e “a inovação pela qualidade tem de ser uma constante”, pelo que “as práticas têm de ser recompensadas e reconhecidas”.
Ana Jorge advogou ainda que a dedicação exclusiva ao SNS é algo que “tem de voltar a ser reinventado”.
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