Conclusão:

A Evolução da Liderança

DA ARISTOCRACIA À MERITOCRACIA

Estas páginas analisaram o impacto recíproco de seis líderes na circunstância histórica, e da circunstância histórica no papel de cada um deles. Konrad Adenauer, Charles de Gaulle, Richard Nixon, Anwar Sadate, Lee Kuan Yew e Margaret Thatcher, todos eles transformaram as respetivas sociedades, e todos eles contribuíram para o estabelecimento de uma nova ordem mundial. 

Os seis líderes foram profundamente afetados por esse meio século em que a Europa, que durante 400 anos moldara o curso da história, enquanto dominava uma parte sempre crescente do planeta, se entregou à destruição de grande parte da sua própria substância em duas guerras mundiais que foram, na verdade, uma guerra civil europeia. Contribuíram, depois, para moldar a face do pós-guerra, no qual foi necessário reorganizar economias, redefinir estruturas internas e reorganizar relações internacionais. Os seis líderes enfrentaram, ainda, as ameaças da Guerra Fria e as ruturas resultantes da descolonização e da globalização – realidades que ainda hoje têm repercussões.

O período em que esses líderes tinham crescido foi transformador em sentido cultural: tanto as estruturas políticas como sociais do Ocidente estavam a mudar inapelavelmente de um modelo hereditário e aristocrático para outro de classe média e meritocrático. Quando chegaram à idade adulta, o papel residual da aristocracia estava a conjugar-se como o paradigma emergente do mérito, e assim, simultaneamente, a alargar a base de criatividade social e a expandir o seu âmbito.

Atualmente, os princípios e instituições meritocráticas são tão familiares que já dominam a nossa linguagem e o nosso pensamento. Veja-se, por exemplo, a palavra «nepotismo», que significa o favorecimento de familiares e amigos, sobretudo na nomeação para cargos importantes. No mundo pré-meritocrático, o nepotismo era omnipresente (era, aliás, o modo de vida costumeiro), e, no entanto, a prática não era vista como outorga de uma vantagem injusta. Ao contrário, as relações de sangue eram fonte de legitimidade.

Na aceção com que foi concebida pelos filósofos da Grécia antiga, «aristocracia» significava «governo dos melhores». Essa regra, absolutamente não hereditária, encontrava justificação moral num aspeto da vida humana tido por dado adquirido, o da desigualdade natural de aptidões, realidade que era gerida em prol do interesse geral. O «mito dos metais» de Platão retratava uma ordem política aristocrática baseada naquilo a que hoje chamamos «mobilidade social», na qual os jovens (incluindo as raparigas) com almas de «ouro», podiam, ainda que nascidos de pais de «bronze» ou «prata», ascender com base nos seus talentos naturais.1

Todavia, enquanto sistema social que moldou a história da Europa ao longo de séculos, «aristocracia» veio a tomar um significado completamente diferente: de uma nobreza hereditária que investia os seus líderes em poder e estatuto. Os vícios da aristocracia no sentido hereditário – como o de cair na corrupção e na incompetência – são, hoje, bem fáceis de relembrar. Bem menos lembradas são, porém, as suas virtudes.

Desde logo, os aristocratas tinham consciência de que o seu estatuto não fora adquirido mediante esforços pessoais. A sua posição era inata, não alcançada. Como tal, embora existissem perdulários e incompetentes, o aspeto criativo da aristocracia obedecia a uma ética de noblesse oblige, como ilustra a frase «daqueles a quem muito é dado, muito se espera». Visto não terem conseguido a própria posição, os melhores aristocratas sentiam a necessidade de se dedicarem ao serviço público ou ao progresso social.

No domínio das relações internacionais, todos os líderes dos diferentes países pertenciam a esta classe social, e comungavam numa mesma sensibilidade que ignorava fronteiras nacionais. Donde, convergiam normalmente sobre o conceito de ordem internacional legítima. Nem sempre isto bastava para evitar conflitos, mas sem dúvida que contribuía para limitar a sua gravidade e facilitar uma solução. Os conceitos de soberania, equidade, igualdade jurídica dos Estados e equilíbrio de poder – distintivos do sistema de Vestefália – desenvolveram-se num mundo de práticas aristocráticas.

As pragas da política externa aristocrática eram o excesso de confiança na intuição e uma complacência que convidava à estagnação. Ainda assim, em negociações onde a posição de cada um era tida por direito de nascimento, era esperado respeito mútuo entre concorrentes e até adversários (embora ele nem sempre estivesse garantido), e a flexibilidade não estava tolhida por um prévio objetivo de sucesso a todo o custo, por mais que a questão fosse de curto prazo. As políticas podiam ser avaliadas em termos de uma conceção comum do futuro, em vez de serem sacrificadas ao desejo de evitar recuos, ainda que temporários.

Consequentemente, a aristocracia no seu melhor conseguia preservar um sentimento de excelência que era a antítese das tentações demagógicas que por vezes afligem as democracias populares. Na justa medida em que a aristocracia obedecesse aos seus valores de contenção e serviço público desinteressado, os respetivos líderes tenderiam a rejeitar a arbitrariedade do jugo pessoal, antes governando por estatuto e persuasão ética.

Ao longo do século xix e princípio do século xx, os pressupostos que alicerçavam a aristocracia hereditária foram sendo persistentemente varridos pelo declínio da fé religiosa, pelos movimentos defensores de maior igualdade política nascidos da Revolução Francesa, e pelas mudanças patrimoniais e de estatuto resultantes de uma economia de mercado embrionária. Então, súbita e inesperadamente, a Primeira Guerra Mundial veio pôr a nu a contradição entre os valores políticos de uma aristocracia em declínio, por um lado, e as novas realidades tecnológicas nascentes, por outro. Ainda quando a primeira insistia no imperativo de contenção e evolução pacífica, a segunda multiplicava os efeitos destrutivos da guerra. O sistema faliu em 1914 quando as paixões nacionalistas emergentes se sobrepuseram às anteriores salvaguardas, permitindo à tecnologia fornecer os meios para a escalada permanente do nível do conflito, que ao longo de mais de quatro anos de guerra de desgaste minou as instituições existentes. 

Em The Gathering Storm [A Tempestade em Formação] (1948), Winston Churchill observava que a Primeira Guerra Mundial fora um conflito «não de governos, mas de povos», em que o sangue da Europa «foi vertido com raiva e morticínio».2 No final da guerra, já Churchill podia escrever:

Passados estavam os dias dos Tratados de Utrecht e Viena, em que estadistas e diplomatas aristocráticos, vencedores como vencidos, se encontravam em elegantes e corteses disputas, e, longe da algazarra e da Babel da democracia, conseguiam reformular sistemas sobre cujos alicerces todos estavam de acordo. Os povos, tomados por seus sofrimentos e pelos ensinamentos de massas com que haviam sido inspirados, perfilaram-se em hordas de milhões para exigir que a retaliação fosse aplicada em plena medida.3

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia e por Elisa Baltazar, co-fundadora do projeto de escrita "O Primeiro Capítulo”.

Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar à leitura e à discussão à volta dos livros. Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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Visto que os líderes europeus não tinham conseguido impedir a catástrofe iminente, nem contê-la quando eclodiu, a Primeira Guerra Mundial minou a confiança na elite política, deixando na sua esteira uma liderança debilitada que em alguns países importantes foi derrubada por governantes totalitários. Por outro lado, o acordo de paz de 1918 revelou-se desde logo demasiado contraditório em relação aos valores geralmente consagrados para que pudesse alimentar a obediência a uma nova ordem, e estrategicamente falho, por não debilitar suficientemente as partes derrotadas, a fim de eliminar a capacidade de vingança. As consequências foram graves; uma delas, foi a Segunda Guerra Mundial.

Em ambas as guerras, a mobilização geral das populações, com o recurso às suas energias e a exploração das antipatias mútuas, representou a mais precoce e lamentável consequência da ascensão da classe média. Todavia, passado o tumulto da Segunda Guerra dos Trinta Anos (1914-1945), a transformação social revelar-se-ia compatível com a estabilidade e a diplomacia internacionais. Um mundo de sólidos Estados-nação, com a classe média senhora da maior fatia de poder político e cultural, revelou-se capaz de produzir líderes com políticas responsáveis e inovadoras. 

Duas forças sociais conjugadas, a meritocracia e a democratização, permitiram e institucionalizaram a ascensão de líderes da classe média. Uma das palavras de ordem da Revolução Francesa fora «as carreiras abertas aos talentos». A partir de meados do século xix, a adoção de princípios e instituições meritocráticos no Ocidente – como os exames de admissão, as escolas secundárias e as universidades seletivas, e as políticas de recrutamento e promoção baseadas em padrões profissionais – abriram novas oportunidades de entrar na vida política a indivíduos talentosos oriundos da classe média. Por outro lado, também o alargamento do direito de voto veio empurrar o centro de gravidade social e político para a classe média.

Nenhum dos seis líderes analisados neste livro tem ascendentes de classe alta. O pai de Konrad Adenauer fora oficial miliciano no exército prussiano, e, depois, escriturário; o seu filho pôde escalar todos os níveis de educação do Império Alemão. Os avós de Charles de Gaulle eram cultos e prósperos, mas o pai era professor; o seu filho tornou-se o primeiro membro da família a desempenhar os mais altos cargos de governo. Richard Nixon era fruto de uma educação de classe média baixa do Sul da Califórnia. Anwar Sadate, filho de um empregado de escritório, teve dificuldade em conseguir referências para ser admitido na academia militar egípcia. Lee Kuan Yew, filho de pais chineses de Singapura empobrecidos, recorreu a bolsas singapurenses e britânicas para completar a sua educação. Margaret Thatcher frequentou escolas públicas e era filha de um merceeiro; foi o segundo chefe de governo de antecedentes modestos (depois de Edward Heath), e a primeira mulher a tornar-se líder do Partido Conservador britânico. Nenhum deles teve um ponto de partida que prometesse proeminência futura. 

Os seus antecedentes humildes permitiram-lhes desafiar as categorias políticas convencionais, os «do meio» e os «de fora». Tanto Sadate como De Gaulle foram oficiais militares que subiram ao poder através de crises nos respetivos países; Nixon e Adenauer eram políticos experimentados e bem conhecidos, mas que nem por isso deixaram de passar vários anos no deserto político. Dos seis, foram Thatcher e Lee a chegar ao cargo da forma mais ortodoxa, através da política partidária num sistema parlamentar, mas nunca deixariam de questionar a ortodoxia prevalecente. Muito à semelhança dos seus antecessores aristocráticos do século xix, mas diferentemente de muitos dos contemporâneos do século xx, não se preocupavam primordialmente com a conquista de benefícios táticos de curto prazo. Ao contrário, as respetivas origens e experiências distantes do poder emprestaram-lhes perspetiva, e permitiram-lhes articular o interesse nacional e transcender o senso comum do seu tempo.

As instituições crescentemente meritocráticas que lhes haviam permitido desde tenra idade cultivar as suas aptidões tinham surgido à sombra da aristocracia, e muitas vezes em consequência de uma guerra. O Estado-Maior e o aparelho político eficiente e estranho ao nepotismo da Alemanha tinham raízes nas reformas prussianas adotadas depois do choque das derrotas no campo de batalha das Guerras Napoleónicas. De Gaulle frequentou Saint-Cyr, a academia militar fundada por Napoleão em 1802 para desenvolver um corpo profissionalizado de oficiais. Outra grande école do mesmo tipo, o seletivo e elitista Institut d` Études Politiques («Sciences Po») foi fundado depois de a Guerra Franco-Prussiana (1870-71) ter posto a nu as inaptidões da liderança política e administrativa francesa, defeitos que viriam a ser corrigidos com o treino de talentos da geração seguinte. 

A Revolução Industrial também desempenhou o seu papel na ênfase crescente posta na educação. Como escreve o historiador económico David Landes, «todas as antigas vantagens – recursos, riqueza, poder – foram desvalorizados, e a mente afirmou-se sobre a matéria. Daí em diante, o futuro abria-se a todos os que tivessem caráter, braços e cérebros».4 Cada vez mais o sucesso vinha da inteligência e do esforço, em vez de do nascimento, e assim a educação se tornou o caminho essencial para o progresso pessoal.

Graças a tais mudanças, os seis líderes puderam frequentar escolas secundárias exigentes (a maior parte delas seletivas, e todas com espírito de serviço público, senão mesmo com administração pública). A competição por notas altas nos exames e por bolsas era um aspeto importante da vida. Desde o liceu, e, em alguns casos, também na faculdade, estes líderes aprenderam um leque muito variado de temas, incluindo em particular as Humanidades, como que em preparação para os desafios da liderança, para a qual a compreensão da História e a capacidade de lidar com a tragédia são indispensáveis. Acima de tudo, receberam uma educação que lhes viria a permitir compreender o mundo, a psicologia dos outros e a sua própria psicologia.

A revolução meritocrática refletiu-se sobre praticamente todos os aspetos da vida, valorizando as realizações e a ambição de uma carreira que transcendesse as origens familiares.5 O ideal de excelência foi recuperado da época inicial da aristocracia, e se alguma coisa mudou, foi uma maior ênfase, mais forte e mais individualista. Como Thtacher observava em 1975, «as oportunidades nada significam, a menos que incluam o direito de ser desigual e a liberdade de ser diferente».6 Universidades e carreiras foram-se abrindo (ainda que de forma limitada) a mulheres, minorias étnicas e raciais, e a pessoas não originárias das elites. As sociedades beneficiaram da diversidade intelectual e da abertura a diferentes estilos de liderança daí resultantes.

Esses fatores permitiram aos líderes analisados neste livro conjugar qualidades aristocráticas com ambições meritocráticas. A síntese consagrou o serviço público como um empreendimento digno e que incentivava as aspirações à liderança. Tanto o sistema de ensino como a generalidade da sociedade premiavam o desempenho académico, mas ambas punham a tónica, acima de tudo, no caráter individual. Assim, os seis líderes deste livro foram educados em prioridades que iam além das suas habilitações e das suas notas, que, embora relevantes, não foram tratadas como um fim em si. Donde, as constantes referências de Lee ao junzi, ao cavalheiro confuciano, e o empenho de De Gaulle em tornar-se «um homem de caráter». A educação não era algo, apenas, que se tivesse na juventude e depois se pusesse de lado: era um esforço interminável de dimensões tanto intelectuais como morais. 

Os valores específicos de classe média de que os seis líderes foram imbuídos desde a infância incluíam disciplina, melhoramento pessoal, caridade, patriotismo e fé em si mesmos. A fé nas respetivas sociedades, nas vertentes de gratidão pelo passado e confiança no futuro, era um dado adquirido. E a igualdade perante a lei ia-se tornando uma expetativa arreigada. 

Livro: "Liderança"

Autor: Henry Kissinger

Editora: Companhia das Letras

Data de Lançamento: 23 de maio

Preço: € 29,90

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Ao contrário dos antecessores aristocráticos, estes líderes possuíam um sentimento de identidade nacional profundamente enraizado, e era ele que lhes inspirava a convicção de que a ambição mais alta estava em servir os seus compatriotas mediante a liderança do Estado. Não se viam como «cidadãos do Mundo». É verdade que Lee recebeu a educação universitária na Grã-Bretanha, e que Nixon se pôde orgulhar das numerosas viagens ao estrangeiro antes de se tornar presidente, mas nenhum deles assumiu uma identidade cosmopolita. Para eles, o privilégio da cidadania implicava a responsabilidade de dar exemplo das virtudes particulares dos respetivos países. Servir os seus povos, e incarnar as mais nobres tradições das suas sociedades era a honra maior. O efeito positivo deste sistema de valores, tal como se manifestou no sistema americano, foram bem descritos pelo historiador e sociólogo Christopher Lasch:

Quaisquer que fossem as suas falhas, o nacionalismo de classe média proporcionou um terreno comum, padrões comuns, uma comum moldura de referência sem os quais a sociedade se dissolve em nada mais que fações adversárias, como os Pais Fundadores da América tão bem compreenderam: uma guerra de todos contra todos.7

Outro fator comum a estes líderes (exceto Lee) foi uma educação religiosa de grande devoção – católica, para Adenauer e De Gaulle; quaker, para Nixon; muçulmana sunita, para Sadate; e metodista, para Thatcher. Por muitas que sejam as diferenças entre as várias fés, elas refletiram-se uniformemente sobre facetas seculares: a aprendizagem do autocontrolo, a reflexão sobre os erros próprios, e a orientação virada para o futuro. Esses hábitos religiosos contribuíram para instilar o autodomínio e a preferência pela visão de longo prazo, dois atributos essenciais do estadista, que estes seis líderes exemplificam.

DURAS VERDADES

Quais são os elementos comuns na liderança meritocrática destas seis figuras? Que lições poderemos tirar das suas experiências?

Todos eles eram conhecidos pela sua franqueza, e todos foram, muitas vezes, porta-vozes de duras verdades. Nunca confiaram o destino dos respetivos países a retóricas testadas em sondagens ou focadas em grupos populacionais. «Quem é que julgam que perdeu a guerra?», perguntava Adenauer sem cerimónia aos outros membros do Parlamento, que se queixavam dos termos impostos pelos Aliados durante a ocupação da Alemanha no pós-guerra. Nixon, que foi pioneiro do recurso a modernas técnicas de marketing na política, tinha, porém, grande orgulho em falar sem notas escritas, com base na sua familiaridade com os temas internacionais, e fazia-o sem rodeios e de forma simples. Hábeis no exercício da ambiguidade política, tanto Sadate como De Gaulle falavam, porém, com excecional clareza e vivacidade quando procuravam mobilizar os respetivos povos para objetivos últimos – tal como o fazia Thatcher.

Todos estes líderes possuíam um profundo sentido das realidades e uma visão poderosa. Os líderes medíocres são incapazes de distinguir o que é significativo do que é vulgar; tendem a deixar-se assoberbar por um sentimento de inexorabilidade da história. Os grandes líderes intuem as exigências perenes da diplomacia e distinguem, entre os diversos elementos da realidade, aqueles que contribuem para um futuro melhor e que têm de ser promovidos, daqueles que têm que ser geridos, ou, em casos extremos, talvez apenas suportados. Assim, tanto Sadate como Nixon– ambos herdaram guerras dolorosas dos seus antecessores–, procuraram ultrapassar rivalidades internacionais mais arreigadas e foram pioneiros de diplomacias mais criativas. Thatcher e Adenauer descobriram que uma aliança forte com a América seria altamente vantajosa para os seus países; Lee e De Gaulle preferiram um menor grau de alinhamento, mais adequado a ajustamentos perante circunstâncias voláteis.

Eram capazes de audácia, todos estes seis líderes. Agiram decididamente em questões de alta relevância nacional, mesmo quando as condições, internas ou internacionais, pareciam francamente desfavoráveis. Thatcher enviou a Força-Tarefa da Royal Navy para resgatar as Ilhas Falkland das mãos da Argentina, apesar de muitos especialistas duvidarem da viabilidade da expedição e a própria Grã-Bretanha estar ainda atolada numa crise económica devastadora. Nixon empreendeu uma abertura diplomática à China e negociações de controlo de armamento com a União Soviética antes de estar finalizada a retirada do Vietname, e contra o senso comum predominante. O refrão de De Gaulle, era, como recordou o seu biógrafo Julian Jackson, «Sempre agi como se…», ou seja, como se a França fosse um país maior, mais unido e mais confiante do que realmente era.8 

Todos compreendiam a importância da solidão.9 Foi na prisão que Sadate apurou os seus hábitos de reflexão, tal como Adenauer o fez num mosteiro durante o seu exílio interno. Thatcher tomou algumas das suas decisões mais importantes enquanto passava em revista os seus papéis às primeiras horas da madrugada. A casa de De Gaulle na remota vila de Colombey-les-Deux-Églises tornou-se parte fundamental da sua vida. Nixon costumava afastar-se fisicamente da Casa Branca, refugiando-se no edifício do Eisenhower Executive Office, em Camp David ou em San Clemente. Longe das luzes e das câmaras e das imposições diários do mando, estes líderes tiravam partido da quietude e da meditação, sobretudo antes de grandes decisões.

Uma impressionante faceta – e um paradoxo – comum a estes seis líderes está em terem sido tão divisivos. Queriam que os seus povos os seguissem no caminho que haviam traçado, mas não procuraram, nem esperaram, ter consenso; a controvérsia era inevitável efeito secundário das transformações que buscavam. Um exemplo da presidência de De Gaulle ilustra bem este ponto. Durante os motins de janeiro de 1960 na Argélia, conhecidos como «a semana das barricadas», eu encontrava-me em Paris em reunião com membros do aparelho de defesa da França. Referindo-se à forma com De Gaulle geria a situação, um dos responsáveis disse-me: «Onde quer que apareça, sempre divide o país.» Todavia, e no fim de contas, seria De Gaulle a ultrapassar a crise argelina e a devolver o seu país a uma ideia comum de interesse nacional, tal como antes resgatara a nação francesa da humilhação da capitulação na Segunda Guerra Mundial.

Da mesma forma, nenhum líder consegue realizar reformas económicas fundamentais, como Thatcher fez, ou procurar celebrar a paz com adversários históricos, como Sadate, ou construir a partir do nada uma sociedade multiétnica e bem-sucedida, como Lee, sem com isso ofender interesses entrincheirados ou alienar sectores importantes. A aceitação por parte de Adenauer das restrições que acompanharam a ocupação da Alemanha no pós-guerra suscitaram vitupérios vindos dos seus adversários políticos. De Gaulle sobreviveu a (e provocou) inúmeros confrontos, mas o seu derradeiro grande ato público foi serenar as manifestações de estudantes e sindicatos que tinham levado a França ao limiar da revolução em maio de 1968. Sadate foi martirizado, não apenas por conseguir a paz entre o seu povo e Israel, mas, sobretudo, por justificar as suas diligências com valores que muitos consideravam heréticos. Nem durante os anos no poder nem, depois, estes seis líderes mereceram a admiração de toda a gente ou o apoio às respetivas políticas. Todos eles enfrentaram resistências – muitas vezes, por motivos honrados, e, por vezes, de parte de distintas figuras da oposição. Mas é esse o preço de se fazer história.

A MERITOCRACIA EM DECLÍNIO

Ao menos no Ocidente, há sinais de que as condições que contribuíram para criar os seis líderes recordados neste livro sofrem uma evolução desfavorável. O patriotismo cívico que em tempos emprestou prestígio ao serviço público parece ter perdido terreno em relação a um facciosismo identitário e a um cosmopolitismo concomitante. Na América, é crescente o número de licenciados que ambicionam ser executivos empresariais errantes ou ativistas profissionais; são muito menos os que desejam um papel de líder político regional ou nacional, ou entrar no serviço público. Alguma coisa está em falta quando a relação entre a classe liderante e uma boa parte do público é caraterizada por hostilidade e suspeita mútuas.

As escolas secundárias e as universidades do Ocidente continuam a ser muito boas na educação de ativistas e técnicos, mas alhearam-se da missão de formar cidadãos, e, entre eles, estadistas potenciais. Tanto os ativistas como os técnicos desempenham importantes papéis nas sociedades, chamando a atenção para as falhas e para as várias formas de as corrigir, mas a mais ampla e rigorosa educação humanista que moldou gerações anteriores de líderes ficou fora de moda. A educação do técnico tende a ser pré-profissional e quantitativa; a do ativista, hiperespecializada e politizada. Nenhuma delas oferece grande coisa de História ou Filosofia, molas tradicionais da imaginação do estadista.

As excelentes notas nos testes e os ensaios brilhantes fazem que a elite de hoje «creia que ganhou o seu poder, e que o possui mais por direito do que por privilégio», nas palavras do teórico político Yuval Levin, agudo observador do declínio atual da meritocracia. (Estamos a substituir «uma noção fria e estéril de intelecto por um entendimento cordial e vivaz do caráter como medida de valia».10 O problema mais profundo, na sua opinião, é do domínio do comportamento da elite:

Os americanos vêm nutrindo ceticismo em relação às reivindicações de legitimidade das elites, não tanto por ser demasiado difícil aceder à camada superior da vida americana (ainda que assim seja), mas porque aos que pertencem a essa camada parece ser permitido tudo o que querem… O problema, por outras palavras, não está necessariamente nos padrões de acesso, mas na falta de padrões após a entrada. Exatamente porque não se considera uma aristocracia, a nossa elite não crê que tenha de estabelecer-se padrões e limites.11

 Enquanto os aristocratas do século xix compreendiam que muito se esperava deles, e os meritocratas do século xx cultivavam valores de serviço, as elites de hoje falam menos de obrigações do que de expressão individual ou progresso pessoal. E, mais, estão a se formados no seio de um ambiente tecnológico que ameaça as mesmas qualidades de carácter e intelecto que serviram historicamente para unir os líderes aos respetivos povos.

LITERACIA PROFUNDA E CULTURA VISUAL

O mundo atual vive uma transformação da condição humana tão subtil que quase se torna impercetível. Esta mudança – impulsionada pelas novas tecnologias que medeiam a nossa experiência do mundo e a aquisição de informação – desenvolve-se em grande medida sem o entendimento das consequências de longo prazo, nomeadamente em relação à liderança. Em tais condições, ler atentamente um livro complexo e entendê-lo criticamente tornou-se um ato tão contracultural como memorizar o poema épico nos primeiros tempos da imprensa.

Embora a Internet e as inovações adjacentes sejam inquestionavelmente maravilhas tecnológicas, é necessário estar-se muito atento ao equilíbrio entre os hábitos construtivos e os hábitos corrosivos incentivados pela nova tecnologia.12 Assim como a transição da cultura oral para a cultura escrita proporcionou os benefícios da literacia, mas diminuiu as artes da poesia falada e dos contadores de histórias, também a atual mudança de uma cultura impressa para cultura visual traz perdas e ganhos.

O que corre o risco de ser perdido numa era dominada pela imagem? Há muitos nomes para essa perda – erudição, cultura geral, pensamento sério e independente –, mas o melhor termo será «literacia profunda», que o ensaísta Adam Garfinkle definiu como a capacidade de abordar «uma longa peça escrita de forma a antecipar a direção e a opinião do autor».13 Ubíqua e pervasiva, e, no entanto, invisível, a literacia profunda era «a radiação de fundo» do período em que se tornaram adultos os seis líderes analisados neste livro.

Para os que se preocupam com a política, a literacia profunda garante a qualidade a que Max Weber chamou «proporção», ou «capacidade de permitir que as realidades nos impregnem do mesmo passo que se mantém a calma e a compostura internas».14 A leitura intensa pode ajudar os líderes a cultivarem em relação aos estímulos e personalidades externos esse distanciamento mental que alimenta a noção das proporções. Quando combinada com a reflexão e o treino da memória, providencia além disso o armazenamento de conhecimento pormenorizado e granular a partir dos quais os líderes conseguem construir raciocínios analógicos. A um nível mais profundo, os livros oferecem uma realidade que é racional, sequencial e ordenada – uma realidade que pode ser controlada, ou, ao menos, gerida, através de reflexão ou planeamento.15 Acresce que – e talvez seja o fator mais importante para um líder – a leitura cria «uma rede de conversação intergeracional», incentivando a aprendizagem com sentido de perspetiva.16 Por fim, a leitura é fonte de inspiração. Os livros registam os feitos de líderes que antes muito ousaram, bem como de outros que ousaram demasiado, a título de advertência.

Muito antes do fim do século xx, porém, já a imprensa perdera a antiga predominância. Isto teve como consequência, entre outras coisas, que «um tipo diferente de pessoas fosse eleito para líder, pessoas capazes de se apresentarem pessoalmente e ao seu programa de forma elegante», como Lee Kuan Yew observava em 2000, para acrescentar: 

A televisão por satélite permitiu-me seguir a campanha presidencial americana. Fico espantado com a forma como os profissionais dos media conseguem dar a um novo candidato uma nova imagem e transformá-lo, ao menos superficialmente num personagem diferente. Ganhar uma eleição torna-se em grande medida um concurso de embalagem e publicidade.17

Se os benefícios da era da imprensa eram inseparáveis dos seus custos, o mesmo se diga da era visual. Com ecrãs em todos os lares, o entretenimento é omnipresente e o aborrecimento uma raridade. Mais significativamente, a injustiça visualizada é mais visceral do que a injustiça descrita; a televisão desempenhou um papel crucial, por exemplo, no movimento de direitos civis americano. Todavia, são substanciais os custos da televisão, por privilegiar o teatro emocional em relação ao autodomínio, e por mudar o tipo de pessoas e de discussões que são levadas a sério na vida pública. 

A mudança de cultura impressa para cultura visual continua com a afirmação contemporânea de Internet e redes sociais, que trazem consigo quatro enviesamentos que tornam agora mais difícil do que na era da imprensa que os líderes desenvolvam as suas capacidades: imediatismo, intensidade, polaridade e conformidade.

Embora a Internet torne notícias e dados mais imediatamente acessíveis do que nunca, dificilmente se diria que esta sobrecarga de informação nos tornou individualmente mais conhecedores, e ainda menos ilustrados. À medida que o «custo» do acesso à informação se vai tornando negligenciável, como acontece com a Internet, vão diminuindo do mesmo passo os incentivos para nos lembrarmos dela. Ora, embora esquecer determinado facto possa não ter importância, a sistemática falta de assimilação da informação provoca uma mudança de perceção e um enfraquecimento da capacidade analítica. Raramente os factos se explicam por si; o seu significado e interpretação dependem de contexto e relevância. Para que a informação seja transformada em algo parecido com sabedoria, ela tem de ser colocada num contexto mais amplo de história e experiência. 

Em termos gerais, as imagens «falam» num registo mais emotivo de intensidade do que as palavras. Televisão e redes sociais assentam em imagens que incendeiam as paixões, ameaçando afogar a liderança numa combinação de emoções individuais e de massas. As redes sociais, em especial, vêm incentivando os utilizadores a usarem as imagens para se tornarem influenciadores. Todos estes fatores engendram uma vida política mais populista, que celebra proclamações tidas por autênticas, mais do que os soundbytes mais elaborados da era da televisão, para já não falar do produto mais analítico oferecido pela imprensa.

Os arquitetos da Internet conceberam a sua invenção como um meio engenhoso de interligar o mundo; na realidade, ela também trouxe uma nova forma de dividir a humanidade em tribos beligerantes. A polaridade e a conformidade dependem uma da outra e reforçam-se mutuamente: é-se arrumado num grupo, e depois o grupo policia o nosso pensamento. Não é de surpreender que em muitas plataformas sociais contemporâneas os utilizadores sejam divididos em «seguidores» e «influenciadores»; líderes é que não há.

Quais são as consequências da liderança? Na circunstâncias atuais, o sombrio juízo de Lee sobre os efeitos dos media visuais é relevante: «Com tal processo, duvido que um Churchill, um Roosevelt ou um De Gaulle possa emergir».18 Não que as mudanças nas tecnologias de comunicação tenham tornado impossível lideranças inspiradas e pensamento profundo sobre a ordem mundial; diga-se, antes, que numa era dominada por televisão e Internet, os líderes mais sólidos têm de lutar contra a maré.

VALORES INTRÍNSECOS

Hoje, o mérito tende a ser entendido restritivamente como capacidade intelectual conjugada com esforço. Mas a antiga aceção de Thomas Jefferson como uma «aristocracia natural» assentava numa base diferente e talvez mais sustentável: a fusão de «virtude e talentos».19 Para que possa prestar serviço público relevante, uma elite política terá de ter duas coisas, educação e caráter.

Como vimos antes, os líderes com impacto histórico mundial beneficiaram de uma educação rigorosa e humanista. Uma educação assim começa num ambiente formal e continua ao longo da vida através de leituras e de debate com outras pessoas. Esse passo inicial raramente é dado hoje: poucas universidades oferecem uma educação para as questões de Estado, explicita ou implicitamente, e o esforço perene vai-se tornando mais difícil à medida que as mudanças tecnológicas provocam a erosão da literacia profunda. Assim, para que a meritocracia seja revigorante, a educação humanística teria de recuperar a sua importância, tratando assuntos como filosofia, política, geografia humana, línguas modernas, história, pensamento económico, literatura, e talvez até antiguidade clássica, cujo estudo foi ao longo de tanto tempo berço de estadistas.

E, visto que o carácter é essencial, uma conceção mais profunda de meritocracia teria de acolher ainda a definição de virtude formulada pelo cientista político James Q. Wilson: «hábitos de atuação moderada; mais especificamente, agir com devida contenção dos próprios impulsos, devido respeito dos direitos dos outros, e razoável preocupação com as consequências distantes».20 Desde a juventude à velhice, a crucial centralidade do caráter – essa mais indispensável das qualidades – é um desafio permanente, tanto para líderes como para estudantes de liderança. Um bom caráter não garante sucesso mundano, ou triunfo nas questões de Estado, mas proporciona uma sólida base na vitória e consolo no insucesso.

Estes seis líderes serão recordados pelas qualidades que a eles ficaram associadas e que definiram o impacto que tiveram: Adenauer, pela sua integridade e persistência; De Gaulle pela sua determinação e visão histórica; Nixon, pela compreensão dos elos da situação internacional e o poder de decisão; Sadate, pela elevação espiritual com que forjou a paz; Lee pela conceção e fundação de uma nova sociedade multiétnica; e Thatcher, pela sua liderança em obediência a valores, e pela tenacidade. Todos eles deram provas de extraordinária coragem. Ninguém poderia possuir, individualmente e alguma vez, todas estas qualidades; os seis líderes combinavam-nas em proporções diversas. A sua liderança acabou por ficar tão identificada com os seus atributos como com as suas realizações.

LIDERANÇA E ORDEM MUNDIAL

Desde o fim daquilo a que nestas páginas se chamou a Segunda Guerra dos Trinta Anos (1914-1945), a comunicação instantânea e a revolução tecnológica combinaram-se para dar novo significado e urgência a duas questões cruciais que os líderes têm perante si: o que é imperativo para a segurança nacional? E o que se exige para a coexistência internacional pacífica?

Estas perguntas tiveram respostas diversas ao longo da história. Embora tenha existido uma pletora de impérios, as aspirações de ordem mundial estavam limitadas pela geografia, bem como pela tecnologia, a determinadas regiões.; isto foi verdade até em relação aos impérios romano e chinês, que englobavam no seu seio um vasto leque de sociedades e culturas. Estas eram ordens regionais apresentando-se a si mesmas como sendo ordens mundiais.

Iniciada no século xvi, uma explosão de tecnologia, medicina e organização política e económica expandiu a capacidade do Ocidente para projetar o seu poder e os seus sistemas de governação por todo o mundo.21 A partir de meados do século xvii, o sistema vestefaliano, baseado no respeito da soberania e do direito internacional desenvolveu-se em toda a Europa. Esse sistema, acolhido em todo o mundo depois do fim do colonialismo, permitiu a génese de Estados que, repudiando o domínio do Ocidente, insistiam em participar na definição – e por vezes, na contestação – das regras definidoras da ordem mundial.

No seu ensaio A Paz Perpétua, o filósofo Immanuel Kant escreveu há três séculos que a humanidade estava condenada à paz universal quer através do conhecimento humano quer por conflitos de tal magnitude e capacidade de destruição que não deixariam alternativa. As probabilidades referidas eram demasiado taxativas; o problema da ordem internacional não se tem apresentado com a proposição de tipo «ou uma coisa, ou outra». Em rigor, a humanidade tem vivido recentemente num equilíbrio entre a segurança relativa e a legitimidade estabelecida pelos seus líderes – e por eles interpretada.

Em nenhum outro período da história as consequências de não entender corretamente este equilíbrio foram tão delicadas ou catastróficas. A idade contemporânea introduziu um nível de destruição que permite à humanidade aniquilar a própria civilização. Isto mesmo é refletido nas grandes estratégias estabelecidas deste período, conceptualizadas na expressão «Destruição Mútua Assegurada» (MAD – Mutual Assured Destruction). Elas foram desenvolvidas não tanto para alcançar a vitória tradicional, mas para prevenir a guerra; e ostensivamente não desenhadas para o conflito – percecionado como potencialmente suicida – mas para dissuadir. Pouco após Hiroshima e Nagasaqui, os riscos de recorrer às armas nucleares tornaram-se incalculáveis, o seu uso implicaria consequências inimagináveis.

Há mais de sete décadas – durante as quais as armas se tornaram mais poderosas, complexas e precisas – que nenhum país persuadiu-se a si mesmo de as usar – mesmo em conflitos com países sem armamento nuclear. Como descrito anteriormente, nem a União Soviética nem os Estados Unidos aceitaram a derrota perante potências não nucleares sem que recorrecem às suas armas mais poderosas. Estes dilemas da estratégia nuclear nunca desapareceram; antes mudaram, à medida que novos estados desenvolviam armas avançadas, e que a distribuição bipolar das capacidades destrutivas da Guerra Fria dava lugar a um caleidoscópio de opções de alta tecnologia mais complicado e potenciamente menos estável. 

As armas cibernéticas e as aplicações da Inteligência Artificial ( como os sistemas autónomos de armamento) agravam os riscos existentes. Ao contrário das armas nucleares, as armas cibernéticas e a inteligência artificial são ubíquas, o seu desenvolvimento é relativamente económico, e a sua utilização é tentadora. As armas cibernéticas combinam a capacidade de impacto maciço com a possibilidade de ocultar a origem dos ataques. A inteligência artificial consegue até ultrapassar os limites impostos por operadores humanos, permitindo que as armas sejam lançadas de forma autónoma com base em estimativas próprias e na sua capacidade de selecionar alvos com precisão quase absoluta. E como quase não há limites para o seu uso, e a sua capacidade destrutiva é tão grande, o recurso a tais armas – ou a ameaça oficial do seu uso – podem transformar uma crise numa guerra, ou transformar uma guerra limitada numa guerra nuclear através de uma escalada involuntária ou incontrolável. O impacto da revolução tecnológica faz com que o uso pleno destas armas possa ser cataclísmico, uma vez que é quase impossível controlá-las. Até ao momento, não foi inventado qualquer instrumento diplomático para o seu uso explícito que não acarretasse o risco de uma resposta preemtiva. Os esforços para controlar este tipo de armamento parece terem sido eclipsados por estas enormidades.

É um paradoxo da era da alta tecnologia que as operações militares actuais estejam confinadas às armas convencionais e ao uso tático de armas high-tech em pequena escala, desde ataques com drones a ciberataques. Ao mesmo tempo, espera-se que as armas avançadas sejam contidas pela destruição mútua assegurada. Este modelo é demasiado precário no longo prazo. 

A história continua a ser um administrador implacável, numa época em que às mudanças impostas pela revolução tecnológica corresponde uma intensa transformação política. Ao tempo em que escrevo, o mundo testemunha o regresso da rivalidade entre grandes potências, agravado pela expansão e progresso de tecnologias espantosas. Quando, em inícios dos anos de 1970, a China se empenhou em regressar ao sistema internacional, o seu potencial humano e económico era vasto, mas a sua tecnologia e o seu poder real eram comparativamente limitados. As capacidades económicas e estratégicas chinesas em expansão conseguiram, entretanto, obrigar os Estados Unidos a confrontar-se pela primeira vez na sua história com um concorrente geopolítico cujos recursos são potencialmente comparáveis aos seus, uma tarefa tão pouco familiar para Washington como para Pequim, que historicamente tratou os países estrangeiros como tributários do poder e da cultura chineses. 

Cada um dos lados considera-se excecional, mas de forma diferente. Os Estados Unidos agem segundo a premissa de que os seus valores são aplicáveis universalmente e acabarão por ser adotados em toda a parte. A China espera que a sua singularidade civilizacional e o seu impressionante desempenho económico inspirem as outras sociedades a mostrar deferência perante as suas prioridades. Tanto o impulso missionário dos Estados Unidos como o sentimento de eminência cultural apontam para uma espécie de subordinação de um ao outro. Pela natureza das respetivas economias e alta tecnologia, cada um dos países está a intrometer-se – em parte, por inércia, mas fundamentalmente por intenção – naquilo a que o outro considerava até agora os seus interesses centrais.

A China do século XXI parece ambicionar uma posição internacional para a qual se considera habilitada tendo em conta o que alcançou ao longo dos milénios. Os Estados Unidos estão a agir de forma a projetar poder, resolução e diplomacia no mundo inteiro, de forma a manter um equilíbrio global baseado na sua experiência dos pós-guerra. Respondem aos desafios tangíveis e conceptuais a essa ordem. Para os líderes de cada lado, estes requisitos de segurança parecem evidentes. E são apoiados pelas respetivas opiniões públicas. No entanto, a segurança é apenas um dos dados da equação; a questão é a de saber se os dois gigantes conseguem aprender a combinar a rivalidade com um conceito e uma prática de coexistência.

Quanto à Rússia, ela carece clamorosamente do poder de mercado da China, da sua robusta demografia e da sua base industrial diversificada. Estendendo-se por onze fusos horários e dotada de escassos elementos de demarcação defensiva, a Rússia tem atuado de acordo com os seus próprios imperativos geográficos e históricos. A política externa da Rússia transforma um patriotismo místico num direito imperial, com uma perene perceção de insegurança que deriva fundamentalmente da proverbial vulnerabilidade do país a invasões através das planícies da Europa de Leste. Há séculos que os seus líderes autoritários tentam isolar o vasto território russo com um cordão de segurança em redor da sua fronteira difusa. Na atualidade, a mesma prioridade manifesta-se uma outra vez no ataque à Ucrânia.

O impacto que estas sociedades causam umas às outras tem sido ditado pelas avaliações estratégicas que fazem, que por sua vez resultam da sua história. A Ucrânia ilustra isso. Após a desintegração dos estados-satélite soviéticos na Europa de Leste e da emergência destes enquanto nações independentes, todo o território da linha de segurança instituída no centro da Europa que fazia fronteira com a Rússia ficou disponível a uma reconfiguração estratégica. A estabilidade dependia da distribuição emergente acalmar os receios históricos europeus de dominação russa, bem como de levar em conta a tradicional preocupação russa com as ofensivas oriundas do Ocidente. 

A geografia estratégica da Ucrânia resume estas inquietações. Se a Ucrânia aderisse à NATO, a linha de segurança entre a Rússia e a Europa ficaria a menos de 500 quilómetros de Moscovo – eliminando eficazmente a zona- tampão que salvou a Rússia quando a França e a Alemanha tentaram ocupá-la em séculos sucessivos. Se a linha de segurança fosse estabelecida no lado ocidental da Ucrânia, as forças russas estariam a pouca distância de Budapeste e de Varsóvia. Portanto, a invasão da Ucrânia de fevereiro de 2022 resulta em larga medida de um diálogo estratégico falhado, ou mesmo mal conduzido. A experiência de duas entidades nucleares confrontarem-se militarmente entre si – mesmo que não fazendo uso do seu armamento de último recurso – enfatiza a urgência de resolver o problema fundamental.

Nas relações EUA-China, o busílis da questão é saber se dois conceitos diferentes de grandeza nacional conseguem aprender a co-existir pacificamente. Com a Rússia, o desafio é se o país consegue reconciliar a ideia de si próprio com a autodeterminação e a segurança de países situados naquilo que há muito considera as suas fronteiras próximas (sobretudo na Ásia Central e na Europa de Leste), e de fazê-lo enquanto parte do sistema internacional e não por meio de dominação.

Atualmente parece possível que a ordem internacional liberal sustentada no direito, por muitos méritos que tenha, será substituída, na prática, durante um período de tempo indeterminado, por um mundo dividido. Tal divisão encoraja nas periferias a procura de esferas de influência. Se isso acontecer, como é que os países que discordam das regras de conduta globais vão atuar dentro de um quadro consensual de equilíbrio? Será que a procura de poder será mais forte que a análise da coexistência?

Num mundo de tecnologia cada vez mais formidável, que tanto pode fortalecer como destruir a civilização humana, não há resposta definitiva, para não falar de resposta militar, para a competição entre grandes potências. Uma corrida sem limites à tecnologia, justificada pela ideologização da política externa em que cada lado se convença das intenções maléficas do outro, arrisca-se a criar um ciclo catastrófico de suspeita mútua como aquele que conduziu à Primeira Guerra Mundial, mas com consequências incomparavelmente mais graves.

Todos os lados têm hoje, portanto, a obrigação de reexaminar os seus princípios básicos de comportamento internacional e aferi-los às possibilidades de coexistência. Para os líderes das sociedades de alta tecnologia, em particular, há um imperativo moral e estratégico a assumir, quer dentro do seu próprio país quer com países potencialmente seus adversários, de permanente debate sobre as consequências da tecnologia e de como as suas aplicações militares podem ser restringidas. O tema é demasiado importante para ser negligenciado até as crises eclodirem. Tal como aconteceu com os diálogos sobre controlo de armamento que contribuíram para a contenção durante a era nuclear, a discussão de alto nível das consequências das tecnologias emergentes podem ajudar à reflexão e promover hábitos de auto-controlo estratégico recíprocos.

 Uma das ironias do mundo contemporâneo é o facto de uma das suas glórias – a explosão revolucionária de tecnologia – ter surgido de forma tão célere, e com tanto otimismo, que ignorou a avaliação dos seus perigos, e nunca se preocupou adequadamente com a compreensão das capacidades. Os cientistas desenvolveram dispositivos espantosos, mas têm tido poucas oportunidades para explorar e avaliar as consequências comparadas segundo uma moldura histórica. Estas circunstâncias levam frequentemente os líderes políticos a empregar as máquinas e algoritmos à sua disposição sem uma noção adequada das implicações estratégicas e filosóficas. Ao mesmo tempo, a revolução tecnológica colide com a consciência humana e sua perceção da natureza e realidade. A última grande transformação comparável, o Iluminismo, substituiu a idade da fé pela experimentação consistente e a dedução lógica. Está agora a ser suplantada pela fiabilidade dos algoritmos, que atuam na direção oposta, oferecendo resultados na procura de explicações. Explorar estas novas fronteiras requer o esforço empenhado dos líderes para estreitar, e idealmente fechar, fossos existentes entre os mundos da tecnologia, da política, da história e da filosofia. 

No primeiro capítulo deste livro, a prova de liderança foi descrita como sendo a capacidade para analisar, ter uma estratégia, a coragem e o caráter. Os desafios que os líderes tratados nestas páginas enfrentaram eram tão complexos quanto os contemporâneos, ainda que menos vastos. Os critérios com que julgamos um líder na história do seu tempo são os mesmos: transcender a circunstância através de visão e dedicação. 

Não é necessário que os líderes das grandes potências contemporâneas desenvolvam um plano pormenorizado para resolver imediatamente os dilemas aqui descritos. Eles têm, porém, a obrigação de deixar claro aquilo que tem de ser evitado e aquilo que é intolerável. Os líderes conhecedores têm de antecipar os seus desafios antes que eles se manifestem enquanto crises.

Sem visão moral e estratégica, a presente época anda à deriva. A vastidão do nosso futuro ainda desafia a nossa compreensão. A crescente e desorientadora dimensão das cristas das ondas, a profundidade das cavas, os perigos dos recifes – tudo isso exige navegadores capazes de criatividade e firmeza para conduzir as sociedades a destinos ainda desconhecidos, mas mais esperançosos.

O FUTURO DA LIDERANÇA

As duas perguntas que Konrad Adenauer me fez durante o nosso derradeiro encontro em 1967, três meses antes da sua morte, ganharam nova relevância: haverá ainda algum líder capaz de conduzir uma política realmente de longo prazo? A liderança genuína ainda é possível, hoje?

Depois de explorar os percursos de seis figuras relevantes do século xx e as condições que possibilitaram as respetivas realizações, o estudante de liderança perguntar-se-á, naturalmente, se desempenhos semelhantes alguma vez poderão ser repetidos. Poder-se-á dizer que estão a despontar novos líderes com o caráter, a inteligência e a determinação necessárias para enfrentar os desafios que a ordem mundial tem perante si?

Esta pergunta já antes foi feita, e sempre surgiram líderes à altura da ocasião. Quando Adenauer me fez aquelas perguntas, Sadate, Lee e Thatcher eram praticamente desconhecidos. Da mesma forma, poucos dos que assistiram à queda da França em 1940 imaginariam a sua regeneração sob De Gaulle ao longo de uma carreira de três décadas. Quando Nixon abriu o diálogo com a China, raros dos seus contemporâneos teriam alguma noção das consequências possíveis.

Nos seus Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Maquiavel atribuiu o afrouxamento da liderança à lassidão social induzida por longos períodos de tranquilidade. Quando as sociedades são abençoadas com tempos de paz e aceitam a lenta corrupção de padrões, os povos podem seguir «ou um homem considerado bom pela multidão iludida ou alguém apoiado por homens que, provavelmente, almejam mais favores especiais do que o bem comum».23 Mais tarde, porém, sob o impacto de «tempos difíceis» – grandes mestres das realidades, invariavelmente – «a ilusão é revelada, e, por necessidade, as gentes voltam-se para aqueles que os tempos tranquilos quase tinham feito esquecer».24

As graves condições aqui descritas terão, por fim, de suscitar o impulso das sociedades para insistirem em lideranças consequentes. Em finais do século xix, Friedrich Engels prognosticou que «o governo das pessoas» seria substituído pela «administração das coisas».25 Mas na história, a grandeza reside na recusa de ceder a vastas forças impessoais; os seus elementos definidores são – e têm de continuar a ser – criados por seres humanos. Max Weber descreveu as qualidades essenciais de uma liderança regeneradora:

O único homem com «vocação» para a política é aquele que está seguro de que o seu espírito não se deixará quebrar se o mundo, quando olhado do seu ponto de vista, mostrar ser demasiado estúpido ou básico para aceitar o que ele deseja oferecer-lhe, e que, perante tanta obtusidade, ainda consegue dizer «Ainda assim», apesar de tudo.26

Os seis líderes aqui analisados desenvolveram qualidades semelhantes apesar das profundas diferenças entre as respetivas sociedades: a capacidade de compreender a situação em que as suas sociedades se encontravam, a capacidade de conceber uma estratégia para gerir o presente e moldar o futuro, a aptidão para conduzir as sociedades rumo a propósitos elevados, e a prontidão para retificar defeitos. A fé no futuro era para eles indispensável. Continua a sê-lo. Nenhuma sociedade consegue continuar a ser grande se perder a fé em si mesma ou se desmente sistematicamente a perceção que dela é tida. Isto impõe acima de tudo a disposição para alargar a esfera de preocupações do eu para a sociedade em geral, e para inspirar a generosidade do espírito público que informa o sacrifício e o serviço. 

A grande liderança resulta da colisão do intangível e do maleável, daquilo que é um dado e daquilo que se almeja. Resta sempre campo de ação para o esforço individual – para aprofundar o conhecimento histórico, afinar as estratégias, e aperfeiçoar o caráter. O filósofo estoico Epicteto escreveu há muito tempo: «Não podemos escolher as nossas circunstâncias externas, mas podemos sempre escolher como reagir a elas».27 Cabe aos líderes guiar essa escolha e inspirar o respetivo povo na sua execução.

NOTAS

1. A República de Platão, trad. Allan Bloom, Nova Iorque, Basic Books, 1991, pp. 93-96.

2. Winston S. Churchill, The Gathering Storm, Boston, Houghton Mifflin,1948, p. 4.

3. Ibid.

4. David Landes, The Wealth and Poverty of Nations, Nova Iorque, Norton, 1998, p. 285.

5. Ver, em geral, Adrian Wooldridge, The Aristocracy of Talent: How Meritocracy Made the Modern World, Nova Iorque, Skyhorse Publishing, 2021.

6. Margaret Thatcher, «Speech to the Institute of Socioeconomic Studies», 15 de setembro de 1975, https://www.margaretthatcher.org/document/102769.

7. Christopher Lasch, The Revolt of the Elites and the Betrayal of Democracy, Nova Iorque, Norton, 1995, pp. 48-49.

8. Julian Jackson, De Gaulle, Cambridge, Harvard Belknap Press, 2018, p. 772.

9. Ver William Deresiewicz, «Solitude and Leadership», The American Scholar, 1 de março de 2010, https://theamericanscholar.org/solitude-and-leadership/.

10. Yuval Levin, «Making Meritocrats Moral», American Purpose, 7 de dezembro de 2021. Ver também Yuval Levin, A Time to Build: From Family and Community to Congress and the Campus, How Recommitting to Our Institutions Can Revive the American Dream, Nova Iorque, Basic Books, 2020.

11. Ibid.

12. Ver, em geral, Marshall McLuhan, Understanding Media: The Extensions of Man, Nova Iorque, Signet Books, 1966.

13. Garfinkle credita a tese da cientista cognitiva Maryanne Wolf’s de «leitura profunda» e desenvolve-a. Ver Adam Garfinkle, «The Erosion of Deep Literacy», National Affairs, n.º 43, primavera de 2020, https://nationalaffairs.com/publications/detail/the-erosion-of-deep-literacy.

14. Max Weber, «Politics as a Vocation», in The Vocation Lectures, eds. David Owen e Tracy B. Strong, trad. Rodney Livingstone, Indianapolis, Hackett Publishing Company, 2004, p. 77.

15. Ver Neil Postman, Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business, Nova Iorque, Penguin, 1985, p. 10. O General dos Fuzileiros, na reserva, e antigo secretário da Defesa James Mattis também estudou esta questão: «Quem não leu centenas de livros é funcionalmente iletrado, e há de ser incompetente, porque as suas experiências pessoais, por si sós, não são sustentáculo bastante. Qualquer comandante que declare estar “demasiado ocupado para ler” vai encher muitos sacos de plástico com os seus homens». James Mattis, Call Sign Chaos, Nova Iorque, Random House, 2019, p. 42.

16. Garfinkle, ‘«The Erosion of Deep Literacy».

17. Lee Kuan Yew, «Collins Family International Fellowship Lecture», proferidas em 17 de outubro de 2000 na John F. Kennedy School of Government da Harvard University, https://www.nas.gov.sg/archivesonline/data/pdfdoc/2000101706.htm

18. Ibid.

19. Thomas Jefferson, carta para John Adams, 28 de outubro de 1813, in Adrienne Koch e William Peden, eds., The Life and Selected Writings of Thomas Jefferson, Nova Iorque, Random House, 1944, pp. 632-33.

20. James Q. Wilson, On Character, Washington, DC, The AEI Press, 1995, p. 22.

21. Niall Ferguson, Civilization: The West and the Rest, Nova Iorque, Penguin, 2012.

22. «Joint Soviet–United States Statement on the Summit Meeting in Geneva», 21 de novembro de 1985, Reagan Library and Museum website, https://www.reaganlibrary.gov/archives/speech/joint-soviet- united-states-statement-summit-meeting-geneva.

23. Niccolò Machiavelli, Discourses on Livy, trad. Julia Conaway Bondanella e Peter Bondanella, Oxford, Oxford University Press, 2009, p. 213.

24. Ibid.

25. Friedrich Engels, Herr Eugen Dühring’s Revolution in Science (AntiDühring), Nova Iorque, International Publishers, 1966, p. 307.

26. Weber, «Politics as a Vocation», pp. 93-94.

27. Epicteto, Enquirídio, in The Art of Living: The Classic Manual on Virtue, Happiness, and Effectiveness, trad. Sharon Lebell, Nova Iorque, HarperCollins, 1995, p.10.