“Uma visão abrangente da Europa exige que nos confrontemos com uma história de colonialismo, ditadura, exclusão e genocídios”, salienta o ANTT, numa perspetiva de atualidade, no comunicado enviado à agência Lusa.
Neste sentido, o ANTT argumenta que se “deve reconhecer as vozes minoritárias e o seu ponto de vista a partir da Europa, juntamente com a contribuição de não-europeus”.
“Desta forma, podemos compreender a diversidade como a base da unidade europeia”, atesta.
Intitulada “A Construção da Europa: História, Memória e Mito do Europeísmo ao longo de 1.000 anos”, a exposição “conta a história da Europa e da sua construção como um conceito que mudou ao longo do tempo”, e “questiona sobre a possibilidade de criar uma perspetiva comum a partir da qual a história europeia possa ser entendida como uma história partilhada por todos os seus habitantes”.
Da exposição constam documentos do acervo do ANTT, como a “Bíblia dos Jerónimos” (1495), “um dos tesouros mundiais da iluminura”, o Alvará, com força de lei, do rei José I, proibindo o transporte de escravos negros de ambos os sexos, dos portos da América, África e Ásia para Portugal (1761) e a Carta de lei de abolição da pena de morte em Portugal (1867), classificada como “Marca do Património Europeu”.
A mostra inclui também documentos de arquivos estrangeiros como a Licença para imprimir a obra “D. Quixote”, de Miguel de Cervantes (1604), proveniente do Arquivo Histórico de Espanha, e fotografias da exploração polar de Fridtjof Nansen, pioneiro na exploração polar (1894), da Biblioteca Nacional da Noruega. Dos Arquivos Nacionais deste país estão ainda patentes o Decreto sobre a caça às bruxas (1617) e o Direito de voto para as mulheres (1902).
Os documentos expostos “foram selecionados e organizados pelos técnicos dos arquivos dos países europeus que participam no projeto, de acordo com os aspetos e temas que consideraram mais importantes”.
Segundo o ANTT, “uma obra coletiva deste tipo pode dar uma ideia do que os europeus, desta vez arquivistas e historiadores, podem pensar em conjunto sobre o europeísmo”.
“Os documentos selecionados não só testemunham a história da Europa, mas também, esperemos, proporcionam ao visitante da exposição ou ao leitor do catálogo uma oportunidade para criar a sua própria imagem da Europa”, afirma a mesma fonte.
De fora de Portugal estarão também expostas as miniaturas medievais do manuscrito “Beatus de Tábara” (968-970), provenientes do Arquivo Histórico de Espanha, e abolição da tortura no Império dos Habsburgos (1776), do Arquivo Nacional da Hungria.
De Portugal de destacar ainda o manuscrito “Apocalipse do Lorvão” (1189), classificado como património mundial, pela organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), e os fragmentos das Cantigas de D. Dinis (1280-1320).
A exposição assenta em documentos agrupados em quatro “pilares”, examinando a história comum da Europa sob os seguintes aspetos: “o Espírito da Europa”, “a diversidade da Europa”, “as Múltiplas Faces do Cristianismo” e “o Património do Iluminismo”, refletindo a herança intelectual que a Europa representa, em escritos, obras de vida e tendências na ciência, na educação e nas artes, “e os seus efeitos intelectuais que vão para além das épocas históricas”.
“A Europa é história, tradição, uma memória coletiva”, sublinha o ANTT acrescentando: “Esta exposição pretende mostrar uma construção do europeísmo por forma a que hoje qualquer pessoa — independentemente do nascimento, origem, nacionalidade, religião — se possa identificar com ela, assumindo-a e considerando também as suas próprias identidades como parte dela”.
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