O estudo, intitulado “Notícias falsas no Twitter durante a eleição presidencial dos EUA em 2016” e realizado por investigadores das universidades norte-americanas de Northeastern, Harvard e Nova Iorque, examinou “a exposição e a partilha de notícias falsas por eleitores registados no Twitter e descobriu que o nível de interação com fontes de notícias falsas foi extremamente concentrado”.

“Apenas 1% de indivíduos foram responsáveis por 80% das exposições a fontes de notícias falsas e 0,1% estiveram por trás de quase 80% de fontes de notícias falsas partilhadas. Os indivíduos mais prováveis de interagir com fontes de notícias falsas eram conservadores, mais velhos e altamente ligados a notícias políticas”, pode ler-se no resumo do artigo publicado na Science com data de hoje.

A investigação definiu um produtor de notícias falsas “como aquele que tem a aparência de notícias legitimamente produzidas, mas que não contém as normas e os processos editoriais dos meios de comunicação para garantir a precisão e a credibilidade da informação”.

A partir daqui e depois de listadas centenas de ‘sites’ classificados por diferentes graus de profundidade de falsidades partilhadas, foram recolhidas mensagens de Twitter enviadas por 16.442 contas ativas durante a temporada eleitoral de 2016 (entre 01 de agosto e 06 de dezembro desse ano), das quais foram obtidas listas de seguidores. O conjunto obtido foi então comparado a uma amostra de eleitores nos Estados Unidas reunida pelo centro de investigação Pew.

A conclusão do estudo apontou para que 5% das exposições de utilizadores daquela rede social a 'sites' de política tenha sido a fontes de notícias falsas.

“No entanto, estes números agregados mascaram o facto de o conteúdo de fontes de notícias falsas estar altamente concentrado, entre um pequeno número de ‘sites’ e entre um pequeno número de membros da amostra”, pode ler-se no documento.

As distorções agravavam-se com o facto de estes 0,1% de utilizadores responsáveis por 80% de partilhas de ‘sites’ de notícias falsas serem mais ativos no Twitter do que a média: partilhavam mensagens 71 vezes por dia enquanto o membro médio da amostra só ‘tuitava’ 0,1 vezes por dia.

O estudo concluiu ainda que as contas rotuladas como pertencendo a um utilizador de esquerda eram menos prováveis de partilhar conteúdos de origem duvidosa (apenas 5%), enquanto à direita a probabilidade era de 11 e 21% entre os utilizadores de direita e de extrema-direita, respetivamente.

Embora salientem que os resultados são apenas aplicáveis aos comportamentos no Twitter e não replicáveis noutras redes sociais, os investigadores abordam possíveis soluções para este problema, sugerindo que as plataformas desencorajem os utilizadores de seguir ou partilhar conteúdo de fontes referenciadas como estando na origem de notícias falsas e desinformação, podendo também “adotar políticas que desincentivem as publicações frequentes”, indo ao encontro do que, por exemplo, o Whatsapp já implementou ao reduzir a possibilidade de enviar mensagens em massa.

As ‘fake news’, comummente conhecidas por notícias falsas, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeu quer tentar travar este fenómeno nas europeias de maio e, em 25 de outubro de 2018, aprovou uma resolução na qual defende medidas para reforçar a proteção dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipulação das eleições, após o escândalo do abuso de dados pessoais de milhões de cidadãos europeus.

Em 21 de fevereiro, vai realizar-se, em Lisboa, uma conferência organizada pelas duas agências noticiosas de Portugal e Espanha, Lusa e Efe, com o título “O Combate às Fake News - Uma questão democrática”.