Stefan Ionescu é um jornalista romeno de 35 anos, da estação televisiva Realitatea TV, e afirma ter sofrido na pele com a disseminação de ‘fake news’ na Roménia: ao canal para o qual trabalha foram recentemente aplicadas uma multa e uma suspensão de dez minutos pela cobertura feita, no verão passado, das manifestações no país.
“Reportámos exatamente o que estava a acontecer, com diretos e imagens dos milhares de pessoas que estavam nas ruas a manifestar-se, ao contrário de outros canais”, conta este repórter à agência Lusa.
Por isso, o canal foi investigado pelo Conselho Nacional do Audiovisual da Roménia e teve de estar 10 minutos fora do ar com a justificação de que “as imagens mostradas durante os protestos foram de violência”.
Vincando que a Realitatea TV é “independente de poderes políticos”, Stefan Ionescu lamenta que isso não aconteça com outros meios de comunicação.
“As televisões e os jornais estão a transformar-se numa forma de propaganda”, observa.
Stefan Ionescu fala com a Lusa em Bucareste sobre a realidade das ‘fake news’, a propósito da conferência que a agência e a Efe vão realizar no dia 21 de fevereiro, em Lisboa, sobre “O Combate às Fake News - Uma questão democrática”.
O repórter admite que, na Roménia - que agora assume a presidência rotativa da União Europeia (UE) -, “há ‘fake news’ em todo o lado e não só são promovidas pelos políticos, como também por alguns meios de comunicação, como televisões, devido aos interesses económicos dos seus donos”.
“Alguns políticos só vão a algumas televisões para falar porque sabem que ali têm linha aberta e não vão ter perguntas difíceis”, precisa.
Stefan Ionescu exemplifica que, nas manifestações do ano passado, alguns meios “tentaram descredibilizar as manifestações” por estarem alinhados com o Governo.
“A sociedade romena está, hoje em dia, dividida: alguns acreditam em teorias da conspiração de que Bruxelas só quer impor coisas ao país e outros percebem que há um problema com o Estado de Direito e com a corrupção na Roménia”, explica à Lusa.
É especializado em temas comunitários o jornal ‘online’ em que trabalham Diana Zaim e Alexandra Loy, o Calea Europeană (em português, o Caminho Europeu).
Segundo Diana, “não é habitual os outros media terem muitas fontes nas notícias” e é isso que a jovem jornalista de 20 anos quer mudar.
“Tentamos sempre fazer uma cobertura o mais real possível e mostrar os dois lados da história para que as pessoas possam formar a sua própria opinião”, vinca.
Ainda assim, esta não é a regra, já que, por exemplo, “a televisão aqui é muito politizada e a mensagem que passa ou é a favor da oposição ou do Governo”, assinala Alexandra.
De acordo com esta jovem de 27 anos, “a geração mais velha tende a ser menos criteriosa, acreditando em tudo o que vê”.
Stefan Ionescu quer acreditar que “já começa a haver alguma consciência” sobre esta realidade no país e dá como exemplo as páginas criadas por anónimos na internet e nas redes sociais para denunciar ‘fake news’.
“Há uns anos, até foi criada uma aplicação móvel que instalávamos e na qual podíamos assinalar os ‘sites’ de notícias falsas”, adianta.
As notícias falsas comummente conhecidas por ‘fake news’, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.
O Parlamento Europeu quer tentar travar este fenómeno nas eleições europeias do final de maio.
Comentários