O Papa Francisco dedicou hoje aos bebés a viagem lenta de papamóvel entre o heliporto de Fátima e o Santuário, que demorou quase uma hora, num trajeto em que saudou também os milhares de peregrinos que acompanharam o trajeto.
Francisco está hoje em Fátima durante duas horas para rezar pela paz e pelo fim da guerra na Ucrânia, no âmbito da sua deslocação de cinco dias a Lisboa para presidir à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), considerado o maior evento da Igreja Católica.
O líder da Igreja, que ainda hoje estará de novo na capital portuguesa para uma vigília, chegou à Capelinha das Aparições às 09:12, com dois ramos de flores nas mãos.
Após entrar na Capelinha das Aparições, Francisco deteve-se em silêncio em frente à imagem da Virgem de Fátima durante cerca cinco minutos e ofereceu o Rosário de Ouro ao Santuário. Fora da Capelinha, alguns milhares de peregrinos aplaudiam, mas também se silenciaram, num momento de particular emoção para os fiéis.
Na Capelinha das Aparições, o Papa Francisco recitou o terço com os 110 jovens e 129 acompanhantes, provenientes de várias instituições sociais, como é o caso do Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II (JPII), do Centro de Reabilitação e Integração de Fátima (CRIF), da Casa do Bom Samaritano (CBS), dos Silenciosos Operários da Cruz (SOC), e do Estabelecimento Prisional de Leiria. Estiveram ainda presentes filhos dos colaboradores do Santuário de Fátima e alguns jovens que fizeram pedidos individuais para participarem na cerimónia.
O primeiro mistério do terço, rezado em português, teve como intenção os “jovens presidiários, para que, com o auxílio de Maria, possam sentir a ternura de Deus Pai nas suas vidas e vivam na confiança de que Ele nunca os abandona”.
Cinco jovens reclusos (inicialmente estava prevista a participação de seis) da prisão-escola de Leiria acompanharam na Capelinha das Aparições a recitação do terço, integrando o grupo de 110 jovens, na sua maioria deficientes, alguns em cadeira de rodas, presentes na Capelinha das Aparições.
No segundo mistério, em língua espanhola, a intenção foi por “todos os jovens que participam na JMJ 2023, para que, estimulados pela atitude de Maria, se levantem apressadamente e anunciem a todos a Boa Nova de Jesus”.
Pelos jovens doentes e deficientes, “para que à semelhança do carinho de Maria por Jesus, sintam o apoio e o conforto de todos e não sejam vítimas de discriminação” foi a intenção do terceiro mistério, recitado em italiano por uma jovem com deficiência.
A paz, tema sempre presente nas intervenções do Papa, foi a intenção do quarto mistério, em inglês e alemão. No pequeno texto lido antes da recitação do Pai Nosso e da Ave Maria, foi lembrado que a Virgem de Fátima pediu aos pastorinhos para rezarem o terço “para alcançarem a paz”. Hoje, foi pedido que seja “concedido ao mundo um duradouro tempo de paz”.
O último mistério do terço recitado hoje em Fátima, em polaco e em francês, teve o Papa Francisco no centro das intenções, repetindo o que ele não se cansa de pedir: orações por ele.
Depois da recitação do terço, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, deu as boas-vindas "com profunda alegria e ação de graças a Deus" a Francisco, que esteve no Santuário pela primeira vez em 2017, no Centenário das Aparições.
"Acolhemos Vossa Santidade, acompanhando-o no seu desígnio de ser peregrino orante junto de Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, que orou com os discípulos, implorando o dom do Espírito Santo para a missão que eles iam iniciar", começou por dizer.
"Oramos consigo e oramos por si, neste lugar onde Maria revelou a sua materna presença e intercessão para com o ministério de Pedro na Igreja. Que a Rainha dos Apóstolos continue a inspirar e a acompanhar a missão de Vossa Santidade na Igreja e no mundo e particularmente na Jornada Mundial da Juventude que está a realizar-se em Lisboa", frisou ainda.
Lembrando "a guerra na Ucrânia e tantos outros focos de conflito no mundo", D. José Ornelas frisou que o Santuário se junta "à oração de Vossa Santidade pela paz" e que recordou que estas situações "atingem dramaticamente a vida e o futuro, sobretudo das crianças e dos jovens".
"A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar”
"A nossa oração inspira-se também no cuidado materno da Mãe de Jesus, aqui revelado para com três crianças, pastorinhos simples e pobres, durante uma guerra sangrenta e uma pandemia que vitimou duas delas, animando-as, no meio do sofrimento e fazendo nascer no coração delas a união a Jesus e a esperança, até à vida sem limites junto de Deus. Por isso rezamos hoje particularmente com e pelas crianças e jovens vítimas da doença, da pobreza, da fome, de todo o tipo de conflito, dos abusos, das injustiças e da exclusão dos mais frágeis", acrescentou o bispo de Leiria-Fátima.
Aproveitando o tema da JMJ, D. José Ornelas referiu que todos se levantam do "comodismo" e da "indiferença", "como nos ensina Maria", para celebrar "a alegria de ser Igreja que sonha, particularmente com os seus jovens, o sonho de Jesus para um mundo mais humano, guiado pelo Seu Espírito até ao Coração do Pai do Céu".
"Guiados por si, Santo Padre, queremos orar em Igreja e também escutar a sua palavra", rematou.
“Queridos irmãos e irmãs, bom dia! Obrigado, D. José Ornelas, pelas suas palavras e, a vós todos, obrigado pela presença e a oração. Rezámos o terço, uma oração muito bela e cheia de vida, porque nos põe em contacto com a vida de Jesus e de Maria”, começa o Papa Francisco.
“E meditámos os mistérios da alegria, que nos lembram que a Igreja não pode ser senão a casa da alegria. A Capelinha onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja: acolhedora e sem portas. A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar”, disse o Papa, sendo aplaudido por quem está no santuário.
"A Capelinha onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja, acolhedora e sem portas. A igreja não te portas para que todos possam entrar"
"E aqui também podemos insistir que todos podem entrar, porque uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os seus filhos. Todos, todos, todos. Sem exclusão".
Estamos aqui sob o olhar maternal de Maria, estamos aqui como Igreja que é mãe e a peregrinação tem um rasgo mariano porque a primeira peregrina foi Maria, que depois da Anunciação, assim que escutou que a sua prima estava grávida, saiu a correr. É uma tradução um pouco livre, mas o Evangelho diz 'saiu apressadamente'".
Há muitas invocações de Maria, uma delas é a Virgem que sai a correr, cada vez que há um problema, cada vez que a invocamos, Ela não demora. Nossa Senhora, com pressa, tem pressa para estar junto de nós. Em português diz-se apressada", precisa do Santo Padre, indicando que D. José Ornelas lhe tinha transmitido a expressão correta em português [apressada].
"Maria na sua vida não fez outra coisa que apontar a Jesus. Façam o que Ele vos disser. Este é o gesto de Maria. Pensemos bem, acolhe-nos a todos e aponta a Jesus (...) e cada vez que vimos aqui, recordamos isso".
"Gostava que hoje olhássemos a imagem de Maria e cada um pense o que me diz o coração da Mãe, o que me está a indicar, indica-me Jesus ou alguma coisa que não está a funcionar bem no coração". Aqui o Santo Padre pediu um minuto de silêncio para que cada um pudesse refletir sobre o que lhe indica Maria: "o que há na minha vida que me preocupa, o que há na minha vida que me comove, o que há na minha vida que tem interesse".
"Queridos irmãos, sintamos hoje a presença de Maria, mãe de todos, a mãe que sempre pede que façam o que Jesus lhes diz e que pede a Jesus que faça o que lhe pedir. Essa é a mãe, Nossa Senhora Apressada, que está próxima de nós todos".
O Papa, que fez boa parte do discurso de improviso, termina pedindo um aplauso e rezando a oração a Maria com todos os peregrinos.
*com Lusa
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