Além de ser avó de Daniel Santos, de 13 anos, Lurdes faz também o papel de mãe da criança juntamente com o filho Ricardo Santos, desde que a progenitora desapareceu sem deixar rasto há cerca de 10 anos. “Não sabemos nada dela”, disse.
Os três vivem juntos e durante o segundo confinamento os cuidados, bem como os hábitos, tiveram de voltar a mudar, sobretudo quando Lurdes testou positivo à covid-19, a 15 de março, e teve de ficar isolada.
“Eu pedia para eles se separarem, eu fugia muito, mas era muito difícil, porque às vezes juntávamo-nos. Eu passava mais tempo no terraço para evitar o contacto, mas eu é que fazia tudo como sempre, desde o comer às limpezas, claro usava luvas, duas máscaras e não comia com eles à mesa para prevenir”, contou Lurdes.
O neto Daniel, segundo a avó Lurdes, não reagiu bem à novidade, isolou-se bastante e passou a estar mais agarrado ao telemóvel, a falar com amigos, do que propriamente a dialogar em casa.
“Ele já estava em casa há uma semana antes de eu ter de me isolar, porque na sala de aula dele houve três casos positivos. Ele fazia muitas perguntas, mas compreendeu que tinha de estar em casa. Não gostou de ver a avó infetada. Tanto ele como o meu filho diziam que se eu tinha, eles também já tinham por viverem comigo”, explicou.
Ricardo Santos e o filho fizeram dois testes cada um e sempre testaram negativo. Também o segundo teste de Lurdes, feito pouco tempo depois do primeiro, deu negativo e nenhum médico lhe soube dizer qual dos testes era o verdadeiro – a indicação dada foi de que, por via das dúvidas, o melhor era cumprir o tempo de isolamento entre 2 a 3 semanas.
“Até hoje não sei se estive infetada. Eu acho que foi um falso positivo, porque não tive sintomas, mas a Direção Geral de Saúde (DGS) também não sabe e disse que como deu positivo eu tinha de ficar isolada, ainda para mais porque trabalho como auxiliar de crianças”, acrescentou.
Na opinião de Lurdes, não houve nem há grande apoio para quem testa positivo por parte da DGS.
“A DGS não se preocupa com o contágio dos familiares que vivem com alguém que testou positivo. Só nos dizem para nos isolarmos, mas não perguntam se temos condições para o fazer. Nós, por exemplo, só temos uma casa de banho que temos de estar sempre a desinfetar. Apregoam para não contagiarmos os outros na rua, mas em casa estamos com a nossa família e podemos contagiá-los. Acho uma falta de organização, porque existem espaços onde podiam por as pessoas”, defendeu.
Lurdes Brochas ainda não foi vacinada e tem de esperar pelo menos 90 dias para fazer mais exames, de modo a perceber se esteve ou não infetada pela covid-19 e quando será viável tomar a vacina.
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