“Quando as coincidências são muitas, podem de facto não ser coincidências, e nós temos de saber disso. Iremos pedir ao MP que averigue e tiraremos as conclusões. Há uma coisa que é verdade, os professores estão exaustos. Há um estudo que diz que mais de 70% dos professores apresentam níveis elevados de ‘burnout’”, sublinhou Mário Nogueira.
O dirigente da Fenprof, que falava numa conferência de imprensa destinada a fazer a avaliação do ano letivo, o balanço da legislatura e apresentar perspetivas para o futuro, referiu o caso de uma professora, de Manteigas, que “em plena sala de aula, fulminantemente, caiu para o lado”.
“Pode ser coincidência ou não, mas essa professora era titular de todas as turmas do 7.º ao 12º anos de inglês, seis níveis diferentes de preparação de aulas diariamente”, disse, apontando o caso de uma outra colega no Fundão.
Esta “estava a corrigir 60 provas aferidas, a lançar as notas dos seus alunos e a fazer vigilâncias de exames. Aparece morta em cima do teclado do computador em pleno lançamento das notas”, disse.
Um terceiro caso ocorreu num agrupamento de Odivelas. “O professor enviou por email, cerca da 01:00, os dados pedidos pela escola. No outro dia não apareceu, a medicina legal concluiu que teria morrido por essa hora”, acrescentou.
“Há uma coisa que é verdade, os professores estão exaustos e chegam ao final do ano, às vezes ao final do primeiro período, já completamente cansados, já muito desgastados”, afirmou, citando o caso de uma escola do distrito de Braga que “a propósito da implementação do regime de educação inclusiva realizou 56 reuniões ao longo do ano”.
Para Mário Nogueira, “isto é uma coisa absolutamente absurda. Os professores têm de estar disponíveis para os alunos, mas estão sobrecarregados com projetos, reuniões e outras tarefas que nada têm a ver com o trabalho com alunos”.
“Os professores estão completamente massacrados com todo um trabalho burocrático. É uma coisa curiosa, num ano letivo em que há estudos que indicam que os professores estão numa situação de desgaste, de ‘burnout’ e de exaustão emocional como nunca, com 24% dos professores em situação grave de ‘burnout’ que estas mortes aconteçam”, frisou.
“O mínimo que se deve fazer é perceber se é uma coincidência, iremos solicitar que se averigue através dos exames da medicina legal, tentar perceber se houve ou não sobrecarga destes colegas que literalmente morrem a trabalhar”, frisou.
Mário Nogueira referiu ainda que “é bom que se perceba se tem a ver com o excesso de trabalho a que estavam sujeitas, é bom que se ponha cobro a isso. Podemos estar a chegar a situações limite”.
Sobre o desempenho dos governantes em relação à educação, `a escola pública e aos professores e educadores, o dirigente da Fenprof fez uma avaliação negativa.
A Fenprof “avalia negativamente o resultado final de quatro anos de subfinanciamento da educação, assim como a ação do Ministério no que respeita à sua relação com os professores e educadores que fica marcada por desrespeito e abusos. Finalmente, por ausências repetidas e consequente falta de elementos de avaliação, o ministro da Educação chumba por faltas. É o que acontece a quem foge à escola para andar atrás da bola”.
Mário Nogueira considerou ainda indispensável que os partidos clarifiquem, desde já, as suas posições para a próxima legislatura pelo que a Fenprof lhes enviará diversas perguntas cujas respostas serão divulgadas junto dos professores durante o mês de setembro.
A estrutura sindical irá também promover uma iniciativa a 2 de setembro em defesa do rejuvenescimento da profissão docente e lançará um abaixo-assinado a repor os principais objetivos de luta dos docentes para o ano letivo 2019/2020.
Para 5 de outubro está marcada uma manifestação nacional em Lisboa para assinalar o Dia Mundial do Professor.
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