O idoso, Francisco Marcolino, tem uma fortuna avaliada judicialmente em “cerca de dois milhões de euros” e os filhos alegam que se o pai quisesse casar com a mulher que foi contratada pela família há mais de 30 anos, “tê-lo-ia feito enquanto estava capaz e não agora que se encontra totalmente dependente”.
O casamento foi celebrado a 04 de maio no Registo Civil de Ribeira de Pena, a mais de 150 quilómetros de Bragança, depois de uma alegada primeira tentativa recusada no Registo Civil de Mogadouro, a 80 quilómetros de onde residem, segundo contou à Lusa o filho, Manuel Marcolino Jesus.
O centenário tem quatro filhos, todos do primeiro casamento. A esposa, que morreu há 28 anos, terá sido quem contratou a empregada, que se manteve ao serviço na casa da família e que tem agora 52 anos, segundo relatam os contestatários.
Manuel Marcolino Jesus fala em nome de três filhos do anterior casamento e contou que o pai foi independente até há cinco anos.
Desde aí, diz que começou a “ficar incapaz, com um agravamento do estado de saúde, sobretudo nos últimos dois anos”, e com vários episódios de urgência no Hospital de Bragança, em que nos históricos são referidos “síndrome demencial”, “totalmente dependente” e que é acompanhado “por uma empregada que fornece a história” do doente.
“Vivem em casa dela, desde que ficou incapaz há cinco anos, e é a partir daí que ela se começa a apoderar de tudo”, afirmou o filho, concretizando que “desde essa altura faltam, só numa conta (bancária) mais de 319 mil euros e mais de 200 mil, noutra”.
Os três filhos desencadearam dois processos-crime por abuso de confiança contra a empregada e suscitaram o arrolamento dos bens, em dezembro de 2016, que contabilizou uma fortuna de “cerca de dois milhões de euros em dinheiro e propriedades”.
Deram também entrada a um processo de interdição do idoso, que ainda decorre, em que a filha foi nomeada curadora e no qual aguardam pelo exame psiquiátrico que irá dizer ao tribunal qual a condição do pai.
No início de maio, dizem ter tomado conhecimento do casamento e acusam a empregada de ter levado o pai até Ribeira de Pena onde foi oficializado o matrimónio perante duas testemunhas e dois atestados médicos a atestarem que o homem de 101 anos estava capaz.
Manuel questiona-se "como é que a funcionária do registo fez este casamento, perante um homem em cadeira de rodas, e no estado em que estava" o pai, apesar das testemunhas e dos atestados médicos.
Os três filhos apresentaram queixas-crimes contra os dois profissionais que passaram os atestados e participaram às respetivas ordens profissionais.
Indicaram ainda à Lusa que vão avançar com uma ação de anulação do casamento.
A Lusa falou com a mulher visada que remeteu para a advogada. Depois de três contactos telefónicos, a advogada disse que não tem “nenhuma pergunta a responder”.
O quarto filho não quis falar sobre o assunto.
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