O governante, que intervinha no EurAfrican Forum, que decorre em Cascais desde terça-feira e que termina hoje, salientou que a designação de 2023 pela União Africana como o “Ano da Aceleração da Implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana” é o “foco correto”.

“Este é exatamente o foco correto. Um relatório recente da Comissão Económica das Nações Unidas para África concluiu que o aumento do comércio entre os países africanos conduz à emergência e à consolidação do triplo – paz, apoio humanitário e desenvolvimento”, disse João Gomes Cravinho.

Segundo o governante, “as nações que praticam o comércio em conjunto têm uma menor propensão para entrar em guerra e, por outro lado, o comércio pode facilitar a transição de um ambiente de desenvolvimento mais frágil para um mais sustentável”.

“Os projetos transnacionais e as cadeias de valor interligadas em África podem, portanto, ajudar a criar uma base comum para a estabilização de crises regionais. Por outras palavras, a Zona de Comércio Livre Continental Africana é um ingrediente para a paz”, vincou.

Apesar dos desafios, como disse ser a “criação do maior mercado único do mundo”, com 1,3 mil milhões de pessoas e um produto interno bruto combinado de 3,4 biliões de dólares (3 biliões de euros), Gomes Cravinho destacou o papel dos países europeus “enquanto amigos de África” em “encontrar formas de apoiar este processo”.

“Um dos principais desafios resulta dos custos dos empréstimos que, para os países africanos, são, pelo menos, quatro vezes superiores aos das economias mais desenvolvidas. Atualmente, existem nada menos que 52 países, na sua maioria do mundo em desenvolvimento e muitos deles africanos, que se encontram em sérios problemas de endividamento”, afirmou, socorrendo-se da afirmação proferida na semana passada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

Como exemplo da ajuda que a Europa pode dar a África, Gomes Cravinho adiantou o exemplo da assinatura, há cerca de um mês, por Portugal e Cabo Verde, de um acordo para a comparticipação financeira de um Fundo Climático Ambiental criado pelas autoridades cabo-verdianas para acelerar a transição climática.

“Este fundo contará para já com cerca de 12 milhões de euros, o valor de dívida de Cabo Verde a Portugal que atinge a maturidade até 2025, para investimento que promova as transições verde e azul em Cabo Verde. Em 2025 far-se-á uma avaliação e se a experiência for positiva o Fundo pode ser significativamente reforçado”, explicou.

Segundo Gomes Cravinho, esta conversão de dívida em investimento verde “é um contributo importante de Portugal no desenho de novas soluções, adaptadas à realidade de cada país, para responder aos desafios globais”. A expetativa de Portugal é que este modelo venha “a repetir-se em outros contextos com outros países”.