"Assistimos a uma ambiguidade extraordinária do regime (sírio)", afirmou o diplomata em entrevista em Nova Iorque. "A situação é dramática, porque o regime, apesar de suas declarações, escolhe dia após dia continuar atacando seu próprio povo", completou.

Na noite de quinta-feira, um comboio de ajuda alimentar entrou em Daraya, pela primeira vez desde 2012, no início do cerco (por parte do governo sírio) dessa cidade rebelde. A localidade fica perto de Damasco.

"Já não há cessar-fogo, é preciso dizer isso. Há tiros e bombardeios diários com barris de dinamite que vão diretamente para civis", denunciou Ayrault. "Minha reação é uma reação de indignação, a ponto de não conseguir encontrar palavras para descrevê-la", completou o ministro.

"Insistimos, durante semanas e semanas, para que a ajuda humanitária chegasse a essa cidade, que é uma cidade mártir, o regime acaba por dizer sim", lembrou. "Mas o acesso começa, e os bombardeios são retomados, o que demonstra a ambiguidade desse regime", acrescentou.

Para Ayrault, essa "é uma razão a mais para retomar a via política com grande determinação", no âmbito do Grupo Internacional de Apoio à Síria (GISS), que envolve as grandes potências, "para ver o que podemos fazer de realmente eficaz". "Terei a oportunidade de voltar a discutir com meus aliados europeus, americanos e russos o mais rápido possível, porque há urgência", expressou.

O governo americano também reagiu, acusando o governo sírio de bombardear civis em Daraya, poucas horas depois dos seus habitantes receberem ajuda. "O regime sírio lançou múltiplos ataques com 'bombas de barril' em Daraya esta manhã", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner. "Obviamente, trata-se de um ataque que é inaceitável em qualquer circunstância, mas que, neste caso, é pior, pois impede a chegada e a distribuição da ajuda necessária", acrescentou.

Os Estados Unidos tinham apontado como positiva a decisão de Damasco de permitir a entrada de caravanas com ajuda humanitária a Daraya. Também chegaram a pedir que o mesmo fosse feito em outras zonas rebeldes submetidas a bloqueio pelas tropas oficiais.

Em 1 de junho, um comboio de ajuda humanitária entrou na cidade, mas sem alimentos, diante do desespero da população com fome. Daraya foi uma das primeiras cidades a rebelar-se contra o governo em 2012 e uma das primeiras a ser cercada e sitiada. A ajuda alimentar é suficiente "para um mês", afirmou o diretor de Operações do Crescente Vermelho, Tammam Mehrez.