A Câmara Municipal de Paris confirmou que 3.852 imigrantes — entre os quais mais de 300 mulheres e crianças — foram retirados do local durante a operação iniciada pouco depois das 06:00 locais (05:00 em Lisboa) e concluída pelas 12:00 (11:00 de Lisboa).
Começava a amanhecer quando cerca de 600 polícias fecharam a avenida, para evitar que os imigrantes abandonassem o local, enquanto eram conduzidos para os autocarros por 250 voluntários de organizações humanitárias.
No total, 82 autocarros foram disponibilizados para a operação que sofreu alguns atrasos devido à chuva, às baixas temperaturas e ao desespero dos imigrantes por entrar nos veículos.
Carregando só um saco com roupa suja e alguns pertences ou, por vezes, só com o que tinham vestido, os imigrantes foram levados, entre alguns empurrões, até aos veículos.
“Havia muitas famílias e crianças, e deram-lhes prioridade, foram os primeiros”, disse à agência noticiosa espanhola, Efe, um porta-voz da organização France Terre d’Asile, que pediu para não ser identificado.
Não é a primeira vez que um acampamento de imigrantes, incluindo o de Stalingrad, é desmantelado na capital. Segundo a câmara de Paris, foram realizadas até agora, este ano, 30 operações de desalojamento em diversas zonas da cidade, mas os acampamentos voltam a surgir em poucas semanas.
Centenas de tendas de campanha brotam diariamente como cogumelos nos passeios e zonas verdes dos distritos X e XIX de Paris, entre caixotes de papelão, colchões velhos e estendais de roupa improvisados.
Apesar de tudo, alguns, como Abdrihm Mohghd, sudanês de 25 anos, preferem ficar nas suas tendas em vez de serem levados para os centros de acolhimento.
“Eu quero ficar aqui, não quero ir para lá [para o centro], o meu desejo é ficar a viver em França”, afirmou Mohghd, enquanto esperava na fila para entrar num dos autocarros.
Um jovem que se encontra num grupo de imigrantes, homens e mulheres, da Eritreia e da Etiópia, garantiu: “Se não gostarmos do sítio para onde nos vão levar, voltamos para aqui”.
Esta situação ocorre, em parte, decido à sobrelotação dos centros de acolhimento e à quantidade de imigrantes que continuam a chegar todas as semanas a cada um dos cinco acampamentos de rua que ainda existem em Paris.
Os imigrantes hoje retirados deste acampamento serão realojados em vários centros da região parisiense, como a estância balnear Cergy-Pontoise, preparada para tal, onde receberão informação para iniciar os pedidos de asilo.
A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, que esteve presente durante parte das operações, sublinhou que “é necessário que o conjunto de municípios de França aceite contribuir para este acolhimento em condições dignas”.
Na próxima semana, deverá estar pronto o primeiro centro de acolhimento e informação de imigrantes de Paris, que terá espaço para “entre 400 e 600 pessoas”, indicou a autarca.
Contudo, para Maria Joseph, membro do coletivo voluntário Solidarité Notre-Dame de Tanger, este novo centro de acolhimento “não vai melhorar muito a situação”.
“Aqui, há muitos imigrantes que não são requerentes de asilo e faz falta encontrar uma solução para eles. Isto vai voltar a acontecer”, observou.
Horas depois da evacuação do acampamento, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou que “aqueles imigrantes que não tenham direito a asilo serão reencaminhados [para os seus países], com humanidade, mas com firmeza”.
O desmantelamento do maior acampamento de imigrantes em Paris ocorre pouco mais de uma semana após a conclusão do desmantelamento da chamada “Selva” de Calais, no norte de França, junto ao Canal da Mancha.
Precisamente hoje, o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, indicou que mais de 7.000 pessoas foram acolhidas pelo Estado após a evacuação de Calais, das quais 5.132 adultos foram enviados para Centros de Acolhimento e Orientação, enquanto são analisados os processos de outros 1.932, menores.
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