“Estas eleições de maio não vão ser eleições normais. São as eleições em que há mais em jogo desde as primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu, em 1979. Estas eleições são sobre a alma da Europa”, disse Timmermans no discurso de encerramento do Congresso do Partido Socialista Europeu (PSE), reunido em Lisboa.
O político holandês, atual primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, tinha acabado de subir ao palco com dezenas de jovens, no ato final do congresso que o aclamou como ‘Sptizenkandidat’, ou seja, candidato desta família política à presidência da Comissão Europeia nas eleições para o Parlamento Europeu de 2019.
“A escolha que temos perante nós é se continuamos a basear-nos na democracia, no Estado de Direito e no respeito pelos direitos fundamentais ou se regressamos à governação pelo poder”, acrescentou, frisando que já há Estados-membros onde “as pessoas estão acorrentadas aos seus medos pelos líderes”, para as “fazer acreditar que só podem ser governadas pelo poder”.
Timmermans fez uma “promessa solene” aos “amigos da Polónia”, governada atualmente pelo nacionalista Jaroslaw Kacynski, de “nunca abandonar o povo polaco na sua luta pela democracia e liberdade”, destacando a vontade dos polacos de serem europeus e “brandirem com orgulho a bandeira azul com estrelas amarelas” da União Europeia, porque “representa valores em que acreditam”.
O candidato daquela que é atualmente a segunda maior família política europeu, a seguir ao centro-direita, dirigiu-se igualmente aos húngaros, governados pelo nacionalista Viktor Orban, para reconhecer os “tempos difíceis” que vivem e destacar igualmente como, apesar das “histórias de terror” que lhes são contadas pelo Governo sobre a Europa, serem “esmagadoramente” pró-europeus e se sentirem “parte desta comunidade de valores”.
“Também na Hungria venceremos”, lançou, sendo longamente aplaudido pela audiência.
Frans Timmermans descreveu “duas visões” que se confrontam atualmente na Europa, uma nacionalista outra conservadora, para afirmar que nenhuma corresponde à sua visão, a da adaptação da União Europeia ao mundo em mudança.
“Os autocratas e nacionalistas propõem destruir a Europa e acreditam que dessa destruição voltará a surgir uma Europa das Nações forte”, descreveu, acrescentando considerar esta visão “autodestrutiva” porque, ao contrário do patriota, que “ama o seu país mas também se interessa pelos outros países”, o nacionalista “precisa de inimigos”, “odeia outros países” e, dentro das suas fronteiras, persegue as minorias.
A outra visão, prosseguiu, é a dos que pretendem “congelar a Europa”, “mantê-la como está para a fazer regressar ao que era”: “E entregá-la a quem?”, questionou.
“Não é nessa Europa que acredito, congelada no seu estado presente. Porque o mundo muda rapidamente e se não mudarmos com o mundo tornamo-nos desnecessários para as nossas populações. Temos de nos adaptar e somos a força política com a vontade e a capacidade para o fazer”, afirmou.
Dirigindo-se ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que discursou antes, Timmermans saudou o contrato social por ele proposto, assente em cinco eixos — educação, trabalho bem-estar, ambiente e Estado de Direito — e prometeu que, se for eleito presidente da Comissão Europeia, “serão estes os eixos” com que vai trabalhar.
Frans Timmermans disse por outro lado que “o ponto mais baixo” em toda a sua vida foi em junho de 2016, quando os britânicos aprovaram em referendo a saída do Reino Unido da UE, o que qualificou de “tristeza indescritível”.
“Desde esse voto, muito mudou, olhem para o que o mundo se tornou”, disse, apontando “tantas provas da ameaça que [o Presidente russo, Vladimir] Putin coloca ao modo europeu de vida, de organizar a democracia” e um “Presidente dos Estados Unidos que pela primeira vez na história do pós-guerra acredita que uma Europa dividida é do interesse da América”.
“Mas a UE também mudou nos últimos anos”, frisou, apontando aspetos que “não são aceitáveis” como “discrepâncias de salários” de país para país, redução de salários, persistente fosso salarial entre homens e mulheres, persistente violência contra as mulheres, luta contra as alterações climáticas e o fim da crescente fuga aos impostos das grandes empresas.
“E banir os empregos falsos. Um adolescente de 16 anos a pedalar por Amesterdão com uma mochila de entregas às costas não é um empresário, mas é tratado como tal”, insurgiu-se. “Se cair e ficar ferido não tem qualquer proteção, o que é absolutamente inaceitável”, acrescentou, apelando para que cada um se questione sobre se deve contribuir para as plataformas que exploram estas pessoas.
“Assegurar a sustentabilidade social é central em todas as políticas”, disse.
Sobre a integração dos refugiados, Timmermans sublinhou que é “uma tarefa” da UE “integrar essas pessoas” e prometeu, se for eleito, canalizar fundos estruturais para as cidades e vilas poderem fazê-lo com os meios necessários: “Escolas, centros de saúde, aprendizagem da língua”.
“Essa parte da mensagem do ‘Brexit’ foi bem compreendida pela UE e estamos a trabalhar nisso”, assegurou.
Neste aspeto sublinhou a importância da relação com África como “uma responsabilidade comum da Europa”.
“A única maneira de controlar e regular os movimentos migratórios é sermos parte de um desenvolvimento sustentável de África em todos os sentidos da palavra. Tem de estar no topo da agenda”.
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